Por: Michael Rennier
Neste ano, o desejo de escapar de nossas circunstâncias atuais nos desequilibrou da passagem do tempo. Estamos presos a um passado morto ou sonhando com um futuro imaginado
Já estamos no Advento, o tempo de preparação para o Natal. É também quando o fim do ano se aproxima.O sentimento que prevalece, de fato, é que estamos todos prontos para um novo começo.
Eu tenho que admitir: tive um ótimo ano, a pesar de cada ano como o que estamos vivendo ser sempre proclamado em voz alta como o pior de todos. Já vivi 39 viagens ao redor do sol e aproveitei todas elas. No entanto, compartilho do sentimento de esperança de que o próximo ano será melhor do que o anterior.
Contemplar deixar 2020 é um pensamento agridoce. Meus filhos nunca mais terão essa idade. Os céus nunca brilharão da mesma forma, com a mesma qualidade de luz de 2020. Pensar no ano passado traz lembranças de estresse e ansiedade, com certeza. Mas traz, principalmente, alegria.
Preparação do Natal e a passagem do tempo
Para muitos, as memórias deste ano podem ser ainda melhores que as minhas – ou piores. Quaisquer que sejam as nossas experiências, 2020 foi incrivelmente difícil para muitas pessoas. Para ser franco e honesto, cada ano traz consigo uma parcela injusta de infortúnios para um certo número de pessoas. Em momentos como esses, com sofrimento em nosso caminho, instintivamente buscamos o passado ou o futuro. O sentimento é que, talvez, o próximo ano seja melhor. Talvez possamos, eventualmente, voltar ao normal.
À medida que faço a preparação para o Natal, percebo que, neste ano, o desejo de escapar de nossas circunstâncias atuais nos desequilibrou da passagem do tempo através de nossos dias. Estamos presos a um passado morto ou sonhando com um futuro imaginado. Posso sentir a inquietação que isso causou – todos sentem que a vida está em pausa. Essa realidade traz consigo uma apatia e falta de motivação, como se estivéssemos economizando todas as nossas energias para um amanhã mais brilhante que nunca chega.
Claro, viver assim é profundamente insatisfatório. Nunca vivemos realmente no momento presente. É uma vida sombria. No entanto, a homilia do primeiro domingo do Advento contém um grande incentivo de esperança, de vigília, de espera pela vinda do Cristo no Natal.
Acredito muito neste conselho e descobri que, em minha própria vida, quando consigo desacelerar e vigiar, o tempo se estende e meus dias não apenas parecem mais longos, mas também são mais gratificantes.
A beleza do Advento
Porém, a ideia não é desistir do momento presente e esperar por um futuro imaginado. Não devemos simplesmente esgotar o tempo em 2020 e viver para o ano que vem a seguir. Vivemos para redimir este momento presente. Bem aqui. Agora mesmo.
A beleza deste tempo de preparação para o Natal e do próprio Natal é que eles criam tradições vibrantes em torno desses momentos de espera. Essas tradições nos sustentam como um andaime sustenta uma escultura de mármore. Eles nos sustentam quando passamos um ano difícil, libertando-nos do passado e do futuro e permitindo-nos celebrar o momento presente. Isso parece teórico, eu sei, mas o que quero dizer é que não importa que decepções permaneçam em meu passado ou que sonhos febris com o futuro estejam gravados em minha mente se, diante de mim, está uma coroa do Advento.
O que estamos procurando é um ato de amor que atravessa tudo. O passado é o que é, para melhor ou para pior, o futuro não realizado. Mas o amor envolve tudo. Durante o Advento, esperamos este ato de amor. No Natal, nós o celebramos. Nosso próprio ato interior de amor pelo momento presente nos leva a uma existência mais permanente e nos ajuda a transcender o tempo.
Amor não tem fronteiras. Nunca há o suficiente, e mesmo a menor quantidade é infinitamente valiosa. É assim que um ato discreto pode nos libertar. Ele se aninha em nossa experiência de tempo e o transforma, nos eleva, nos redime e renasce no momento presente.
Fonte: Aleteia