Após pausa de verão e da catequese sobre viagem ao Canadá, Papa Francisco retomou hoje reflexões sobre a velhice
A velhice como tempo projetado para a realização foi o tema da catequese do Papa Francisco, nesta quarta-feira, 10. Após a pausa do mês de julho e da catequese da semana passada sobre sua viagem ao Canadá, Francisco retomou o ciclo de catequeses dedicado à terceira idade que está em suas últimas reflexões.
Francisco começou explicando que o Evangelho de São João faz-nos entrar na comovente intimidade do momento em que Jesus se despede dos seus, com palavras de consolação e com uma promessa. O tempo de vida que resta aos discípulos será marcado por fragilidades e desafios, mas também pelas bênçãos oriundas da fé na promessa do Senhor.
Com a chegada da velhice, uma vez que as obras da fé não dependem mais da energia e do ímpeto característicos da juventude e da idade adulta, chega também o tempo propício para o testemunho desta espera no cumprimento da promessa. E isso constitui o verdadeiro destino da humanidade: um lugar à mesa com Deus, nos céus.
“Seria interessante ver se existe alguma referência específica nas Igrejas locais, destinada a revitalizar este ministério especial da espera no Senhor, encorajando os carismas individuais e as qualidades comunitárias da pessoa idosa.”
Velhice com mansidão e respeito
O Santo Padre observou que uma velhice consumida no desânimo das oportunidades perdidas causa desânimo a si e a todos. Mas ao contrário, a velhice vivida com mansidão e respeito pela vida dissolve a incompreensão de um poder que deve ser suficiente para si e para o próprio sucesso. “Dissolve até a incompreensão de uma Igreja que se adapta à condição do mundo, pensando assim que governa definitivamente a sua perfeição e realização”.
Quando as pessoas conseguem se libertar desta presunção, disse o Papa, o tempo do envelhecimento que Deus nos concede já é em si mesmo uma daquelas obras “maiores” de que Jesus fala. “Recordemos que “o tempo é superior ao espaço”. É a lei da iniciação. A nossa vida não se destina a fechar-se em si mesma, numa perfeição terrestre imaginária: está destinada a ir além, através da passagem da morte, porque a morte é uma passagem. Na verdade, o nosso lugar estável, o nosso ponto de chegada não é aqui, é ao lado do Senhor, onde Ele habita para sempre”.
Presunção da juventude eterna é delirante
Em resumo, o Pontífice frisou que, na terra, “somos aprendizes da vida”, aqui começa o processo do “noviciado”. Um tempo vivido em meio às dificuldades, aprendendo a apreciar o dom de Deus, honrando a responsabilidade de o partilhar e de o fazer frutificar para todos. E o tempo da vida na terra é a graça desta passagem.
A presunção de parar o tempo – disse o Papa – “querer juventude eterna, a riqueza ilimitada, poder absoluto”, não só é impossível, mas também delirante.
“A nossa existência na terra é o tempo da iniciação à vida: é vida, mas que te leva em frente a uma vida plena, a iniciação daquela vida mais plena, que só encontra realização em Deus. Somos imperfeitos desde o início e continuamos imperfeitos até ao fim.”
O Papa observou que, no cumprimento da promessa de Deus, a relação inverte-se: o espaço de Deus é superior ao tempo da vida mortal. E a velhice aproxima a esperança desta realização. “A velhice conhece definitivamente o significado do tempo e as limitações do lugar em que vivemos a nossa iniciação. A velhice é sábia por isso, os idosos são sábios por isso. Por isso é credível quando nos convida a regozijar-nos com o passar do tempo: não é uma ameaça, é uma promessa. A velhice é nobre, não precisa se maquiar para mostrar a própria nobreza. Talvez a maquiagem venha quando falta a nobreza”.
Ao concluir, o Papa ofereceu uma síntese de sua catequese sobre a terceira idade, vista na perspectiva da passagem para a vida eterna. “A velhice é a fase da vida mais adequada para difundir a boa notícia de que a vida é uma iniciação para uma realização definitiva. Os velhos são uma promessa, um testemunho de promessa. E o melhor ainda está por vir. O melhor ainda está por vir. É como a mensagem do velho e da velha que acreditam, o melhor ainda está por vir. Deus nos conceda a todos uma velhice capaz disso. Obrigado!”.
Fonte: Canção Nova