Em entrevista, o presidente da Cáritas Internacional, o cardeal Luis Antonio Tagle, afirmou que esta guerra é um teste para a solidariedade e testemunho de humanidade da Europa
Sob as bombas, mas trabalhando sem parar. É assim que a Caritas está levando ajuda aos necessitados na Ucrânia devastada pela agressão militar russa. Apesar das dificuldades, a Caritas Ucrânia e a Caritas-Spes Ucrânia continuam a servir a população. Desde o início do conflito, atenderam mais de 160 mil pessoas.
Esta ajuda se estende à distribuição de alimentos até o fornecimento de moradia, e também assistência psicológica. Extraordinário é também o empenho de todos os escritórios locais da Caritas na Europa — e em particular em países como Polônia, Romênia, Moldávia, Hungria e Eslováquia — que receberam um grande número de refugiados.
O Presidente da Caritas Internationalis e Prefeito da “Propaganda Fide”, Luis Antonio Tagle, concedeu uma entrevista ao periódico eletrônico Vatcan News, oportunidade em que falou sobre o atual conflito entre russos e ucranianos e a dificuldade em se exergar o futuro com segurança.
Vatican News — Cardeal Tagle, há dois anos a humanidade luta com a pandemia de Covid-19. Agora a guerra na Ucrânia, desencadeada pela Rússia e o de muitos que um novo conflito mundial se instale. Onde encontrar esperança diante de um tempo que parece tão angustiante?
Cardeal Tagle — Como cristãos, devemos confiar que a esperança está sempre em Deus. Neste tempo de Quaresma, a Igreja – através das Leituras – convida-nos a renovar a nossa esperança em Jesus Cristo. E esta esperança significa o triunfo do amor, da misericórdia. Vemos agora sinais concretos desta esperança. Nenhuma arma pode matar a esperança, a bondade do espírito na pessoa humana. Há tantos testemunhos disso. A esperança em Jesus Cristo e na Sua Ressurreição é verdadeira e se vê precisamente no testemunho de tantas pessoas.
Vatican News — O Papa Francisco, no Angelus do domingo passado, classificou a situação como “uma agressão militar inaceitável”. Na ocasião, o Santo Padre havia dito que se trata de “uma guerra, não uma operação militar especial”. Você, enquanto filipino, não europeu, que emoções uma guerra no coração da Europa desperta em seu coração?
Cardeal Tagle — Em primeiro lugar, a tristeza. Fico triste vendo as imagens, ouvindo as notícias. Sinto-me triste e também um pouco confuso, porque a humanidade não aprendeu as lições dadas pela história! Depois de tanta guerra e destruição, continuamos com o coração tão duro! Quando ouço as histórias dos meus pais que viveram a Segunda Guerra Mundial, não consigo imaginar — sequer imaginar! — a pobreza e o sofrimento que suportaram. Essa geração continua a carregar as feridas da guerra em seus corpos também, e eles ainda têm o lado afetivo e espiritual ferido. Quando, quando aprenderemos? Esses são meus sentimentos. Esperamos sinceramente que aprendamos com as lições da história.
Vatican News — A Caritas Internacional nasceu há 70 anos para atender às necessidades humanitárias que emergiram da Segunda Guerra Mundial. Hoje, qual é o maior desafio da rede Caritas em relação ao conflito na Ucrânia?
Cardeal Tagle — Parece-me que o maior desafio da rede Caritas é o que está precisamente inscrito na sua missão. A missão de sempre lembrar ao mundo que todo conflito, todo desastre tem um rosto humano. A resposta da Caritas é sempre humanitária. Por exemplo, a guerra na Ucrânia e os conflitos em outros países do mundo são geralmente apresentados como assuntos políticos, militares, mas as pessoas são esquecidas! Com a nossa missão, a Caritas lembra ao mundo que a guerra não é uma questão militar, política, mas é, antes de tudo, uma questão humana.
Vatican News — O povo ucraniano está dando um testemunho incrível de coragem, enquanto seus países vizinhos — em particular na Polônia, Romênia — oferecem um testemunho de solidariedade excepcional. Que lição podemos aprender, especialmente nós que estamos “perto” mas ainda longe desta guerra na Ucrânia?
Cardeal Tagle — Devemos ser gratos pelo testemunho das pessoas na Ucrânia e nos países ao redor e mesmo daqueles mais distantes que enviam ajuda e oferecem assistência. A lição para mim é esta: no deserto da violência, a pessoa humana tem a capacidade de ser boa. A lição para mim é que mesmo em uma situação ruim como a guerra, uma humanidade melhor pode surgir. Mas há um desafio: a formação do coração, da mente. Conflitos, como eles começam? No coração, na decisão das pessoas. A lição está na forma como as famílias formam seus filhos nos valores do respeito ao próximo, da escuta, da compaixão, da escolha do caminho da justiça, do diálogo em vez da vingança, da violência.
Fonte: Canção Nova