Oferecer a Deus todos os nossos pensamentos, nossas palavras e nossas ações, todos os nossos bens, sejam espirituais ou temporais, ou seja, tudo aquilo que temos neste mundo, dizia São João Batista de La Salle
É pela graça de Deus e com fundamento nessa graça que São Paulo se sente autorizado a exortar os romanos a que ofereçam seus corpos a Deus em sacrifício vivo, santo e agradável (Rm 12,1).
Mas o que quer dizer “sacrifício”? Em hebraico, “sacrifício” é dito “korbán”, que significa “aproximação”. Portanto, o objetivo do sacrifício é nos aproximar de Deus, convidar-nos a viver uma intensa comunhão com Ele.
Para isso, é necessária a “teshuvá” (transformação). Esta “teshuvá” consiste numa renovação total de nossa maneira de ver e pensar as realidades (Rm 12,2).
Trata-se de considerar nossa vida e nosso mundo desde “as alturas”, com o olhar misericordioso de Deus.
Comentaremos agora, a tripla dimensão do ato de oferecimento.
1 – A OFERENDA DE NÓS MESMOS
Na medida em que nossa vida é um dom de Deus, é conveniente considerar tudo o que é bom em nosso ser e em nossa existência: nossa alma, nosso corpo, nossos talentos, nossa herança cultural e familiar.
Sobre esse assunto, São Paulo escreve: “E você, o que você não recebeu? E se você o recebeu, por que se vangloria como se não o tivesse recebido? ” (1 Co 4,7).
Fazer “teshuvá” também é reconhecer Deus como a fonte de todo bem. Consequentemente, somos convidados a conformar nossa existência à sua palavra da verdade.
Esta oferenda de si mesmo é feita na forma de ação de graças e louvor pelos favores recebidos. Está incorporada no desejo determinado de servir a Deus e ao próximo; colocar-nos inteiramente, de acordo com o estado de vida de cada um, à disposição do Nosso Senhor para construir seu Reino; para pôr nossos pensamentos, palavras e ações em coerência na vida.
2 – OFERECER NOSSOS PECADOS
Encontramos a seguinte história na vida de São Jerônimo. Deus pergunta a ele: “O que você está me dando hoje, Jerônimo?” E ele responde: “Senhor, eu te dou minha oração”. “Bem! E que mais?”. E Jerônimo cita vários bens: seu ascetismo, suas vigílias, o amor por quem o visitará. E Deus lhe pergunta: “O que mais?” E Jerônimo respondeu: “Não sei mais o que posso lhe dar!” O Senhor então diz a ele: “Há algo que você não me deu, seus pecados!”
3 – OFERECER NOSSO SOFRIMENTO
Por fim, vem o que se “sofre”: as grandes provas da vida e as “pequenas dores da vida cotidiana, que nos afetam como picadas mais ou menos desagradáveis”.
Oferecer esses sofrimentos significa “inseri-los na grande compaixão de Jesus Cristo” e fazê-los entrar “de alguma forma fazer parte do tesouro de compaixão de que a raça humana precisa” para viver o amor, receber e espalhar a salvação (Bento XVI).
Madre Teresa rezou assim:
Ajuda-nos, ó Pai gentil,
a aceitar tudo o que Você nos dá
e a dar tudo o que Você nos pede com um grande sorriso.
Esse sorriso interior – e sorriso externo – é o sinal evidente da livre oferenda de si mesmo em qualquer circunstância. Esse sorriso se opõe à tristeza da resignação ou à raiva da queixa.
Padre Nicolas Buttet
Fonte: Aleteia