por Robert McTeigue,
Em meio à correria e às atividades típicas da data, podemos cair no risco de nos esquecermos do motivo principal da festa
Quando penso no Natal, nas listas de coisas para fazer e na memória, lembro-me de um acontecimento de 40 anos atrás. É, de fato, um ocorrido que me acompanhou ao longo dos quilômetros e anos e ajudou a reformular minha percepção sobre Jesus e o Natal.
No segundo ano da faculdade, me deparei com um conto chamado “Ao Entardecer da Festa” escrito pelo autor libanês Kahlil Gibran.
Eu não quero revelar toda a história. No entanto, posso dizer o seguinte: a história de Gibran é um lembrete pungente do terrível fato de que podemos ficar tão ocupados – tão freneticamente ocupados – nos preparando para “celebrar” o Natal que deixamos de nos lembrar de Cristo. Gibran escreve:
“As pessoas estão celebrando em Minha honra, seguindo a tradição tecida pelos séculos ao redor do Meu nome, mas quanto a Mim, sou um estranho vagando de Leste para Oeste na terra, e ninguém me conhece. As raposas têm suas tocas e os pássaros do céu seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.”
Natal e dificuldades
Lembrei-me disso na semana passada, quando eu estava falando com uma família católica muito devota. O filho mais velho disse que o vendedor local de árvores de Natal estava em perigo porque a venda de árvores estava em queda em relação aos anos anteriores. O vendedor disse a ele: “Ninguém está comprando árvores este ano. As pessoas me disseram: ‘Não posso receber pessoas em casa por causa das restrições do COVID – então, por que se preocupar em fazer qualquer coisa no Natal?’”
Isso é, portanto, muito triste. Quer sejamos cristãos ou não, sozinhos ou em companhia, com os olhos brilhantes ou marejados ao começar o Natal de 2020, faríamos bem em relembrar uma época anterior e mais sombria. No século V, por exemplo, o Papa São Leão, o Grande, provou ser um homem de fé ao resistir às heresias e um homem de coragem ao enfrentar Átila, o Huno, e recusar sua invasão da Itália. Familiarizado com o sofrimento e o conflito, São Leão pronunciou estas palavras em um sermão de Natal:
“Amados, hoje nosso Salvador nasceu; vamos nos alegrar. A tristeza não deve ter lugar no aniversário da vida. O medo da morte foi engolido; a vida nos traz alegria com as promessas de felicidade eterna. Ninguém está excluído dessa alegria; todos compartilham o mesmo motivo de alegria. Nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não encontrando homem livre do pecado, veio para nos libertar a todos. Que o santo se regozije ao ver a palma da vitória nas mãos. Deixe o pecador ficar feliz ao receber a oferta de perdão. Que o pagão tenha coragem ao ser convocado para a vida.”
Não se esquecer de Jesus
Falando como pecador (triste, arrependido e perdoado) e como pastor de almas, posso testemunhar que uma Luz entrou no mundo e que o mundo não pode extingui-la. Todos nós somos chamados a compartilhar a vitória da Vida e do Amor sobre a morte e o mal, uma vitória cujo início pode ser visto em uma manjedoura em Belém.
Em todas as nossas muitas “atividades” de Natal, não vamos esquecer Aquele que veio para nos salvar de nós mesmos. Há quarenta anos, a leitura daquele conto de Gibran me acordou da rotina impensada de “O Natal está chegando – hora de se ocupar!” à plena consciência de que “o Natal está chegando – hora de ser grato!”
Minha esperança, portanto, é que a leitura de “Ao Entardecer da Festa” faça o mesmo por você.
Fonte: Aleteia