Em coletiva de imprensa, Cáritas Internacional apela para o cancelamento da dívida dos países pobres e pede revisão de sanções que afetam os civis
Na tarde desta quinta-feira, 16, foi apresentado o Relatório Anual da Caritas Internacional em uma coletiva virtual que contou com a participação do presidente do organismo, cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, o secretário-geral, Aloysius John, o presidente da Caritas da África do Sul, cardeal Wilfrid Fox Napier, e a diretora da Caritas Líbano, Rita Rhayem. Na ocasião, os membros do organismo alertam que a dívida e as restrições comerciais cortam pontes de possibilidades e de resgate de populações inteiras, que estão muito além das fronteiras dos países diretamente afetados. Um exemplo disto é o Líbano, que paga por anos de políticas econômicas míopes e está ameaçado devido às repercussões das sanções impostas ao governo sírio, que mortificam o comércio há anos. Para Beirute, Damasco foi o primeiro parceiro comercial da região.
O cardeal Tagle enviou uma mensagem de esperança, na convicção de que as muitas mudanças em curso sejam uma ocasião para o futuro para construir uma “nova conexão de solidariedade”. Somos “uma só família humana”, lembrou o presidente da Caritas Internacional, “e o sentimento de proximidade que a pandemia despertou, afetando a todos, não pode ser esquecido sem deixar um sinal: esse sinal deve ser a capacidade de dar novas respostas. Não apenas emotividade no momento da crise sanitária”, “mas também a capacidade de combater com força as condições dramáticas como a fome mundial, guerras e violência que esmagam vidas humanas e a dignidade das pessoas”. Significa recuperar o olhar inclusivo do Papa Francisco na Laudato si’ e trabalhar por ações concretas, como a de “um cessar-fogo global”.
Um olhar especial sobre o Oriente Médio
Ilustrando o quadro que emerge do Relatório da Caritas Internacional 2019, o secretário-geral da organização, Aloysius John, destacou que “a situação no Oriente Médio piorou drasticamente nos últimos seis meses e as sanções econômicas e o embargo sobre a Síria contribuíram para agravar a tendência”. A convicção de Aloysius John é clara: “As sanções unilaterais sem diálogo ou negociação nunca serviram ao seu propósito, pelo contrário, foram contraproducentes”. Ele explicou que os efeitos das sanções como instrumento político não surtiram os efeitos desejados e demonstraram um enorme poder de destruição de vidas das pessoas mais vulneráveis”.
Os preços dispararam, as pessoas não têm meios para comprar alimentos, a desnutrição está se espalhando e há uma raiva crescente contra a Comunidade internacional. A situação é pior para os mais vulneráveis, especialmente crianças, mulheres e idosos, já profundamente afetados por guerras, tensões, fundamentalismo e pela covid-19. “Os mais pobres”, lembrou John, “são aqueles que sempre pagam o preço mais alto”. Nesses dias “todos nós olhamos com preocupação para o Líbano, que sempre foi um modelo de equilíbrio para todo o Oriente Médio”, frisou Aloysius John. Um país que sempre foi uma “mensagem de liberdade e um exemplo de pluralismo para o Oriente e o Ocidente”, como disse São João Paulo II.
“Hoje no Líbano”, reiterou a diretora da Caritas do País dos Cedros, Rita Rhayem, 75% da população precisa de assistência e a moeda local perdeu 80% de seu valor. Segundo Aloysius John, esta não é a única razão pela qual estão muito preocupados com a crise libanesa. “O Líbano sempre foi um centro essencial para o envio de ajuda humanitária a países como Síria e Iraque, e se a situação não melhorar, as consequências para toda a região serão catastróficas”.
Pedidos concretos
A referência ao Papa é essencial: “Várias vezes o Papa Francisco convidou as nações ricas a reconsiderar o cancelamento das dívidas para as nações mais pobres”, lembrou o secretário-geral. A dívida das nações mais pobres é muitas vezes paga com o suor e o trabalho dos mais pobres. Eles são altamente vulneráveis e são presas fáceis de todos os tipos de problemas de saúde por causa de sua fragilidade. A Caritas pede a redução da dívida das nações mais pobres e a realocação de fundos para as organizações confiáveis que trabalham com essas comunidades.
“Somente a redução da dívida e sua realocação para o desenvolvimento das bases”, foi reiterado durante a reunião telemática, “permitirão alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável e garantirão a dignidade dos mais pobres”. “É inconcebível”, disse Aloysius John, “que medidas precipitadas implementadas sem nenhum diálogo com os atores regionais sejam fatais para os mais pobres”. Portanto, os representantes da Caritas se uniram ao grito do Papa, “para deter toda a violência e conflito” e pedem “a suspensão imediata das sanções”.
Palavras duras contra as sanções
Aloysius John disse que as sanções oprimem os mais pobres e são instrumentos para a “morte passiva de civis inocentes”. Ele definiu as sanções como “medidas injustas que afetam as pessoas mais vulneráveis, especialmente neste momento da Covid-19” e disse que “elas estão criando um terreno fértil para o terrorismo”. “As pessoas que fogem de situações difíceis tornam-se migrantes ilegais que são rejeitados pelos países vizinhos e pela Europa”. Aloysius John recordou que “a luta contra a fome, a pobreza e a injustiça é o objetivo principal da confederação, pois garante o bem-estar e a dignidade humana dos mais vulneráveis”.
Fonte: Canção Nova