Novo documento foi divulgado nesta quinta-feira, 25, Anunciação do Senhor e sétimo centenário de morte do poeta
“Candor Lucis Aeternae”. Este é nome da nova Carta Apostólica do Papa Francisco, divulgada nesta quinta-feira, 25. O texto, que cita a solenidade da Anunciação do Senhor – celebrada hoje – dá destaque ao sétimo centenário de morte do poeta Dante Alighieri.
O documento foi anunciado em outubro de 2020. Na ocasião, o Papa encontrou-se com a Delegação da Arquidiocese de Ravena-Cervia, na abertura do Ano de Dante.
Vida histórica e literária de Dante
No documento, o Santo Padre ressalta a vida histórica e literária de Alighieri. “Profeta de esperança e testemunha da sede de infinito presente no coração do homem”.
Francisco frisa que Dante soube exprimir, com a beleza da poesia, a profundidade do mistério de Deus e do amor. Segundo o Papa, o desejo é que a Carta Apostólica una sua voz à dos seus antecessores que honraram e celebraram o poeta.
Os Papas e Dante Alighieri
Na Candor Lucis Aeternae, o Pontífice resgatou as falas e ações dos Papas sobre o Poeta.
Bento XVI, comenta o Papa, destacou, certa vez, que Dante inspirava-se na fé católica. Alighieri, segundo o Papa Emérito, foi um poeta cristão. Ele cantou com “acentuações quase divinas” os ideais cristãos dos quais contemplava. Isso com alma, beleza e esplendor.
O Papa Emérito falava frequentemente do itinerário de Dante. Ele tirava das obras do poeta, tópicos de reflexão e meditação.
Ao apresentar a sua primeira Encíclica – a Deus caritas est –, Bento XVI, aponta Francisco, partiu precisamente da visão de Deus que tinha Dante. Para o poeta, “luz e amor são uma coisa só”.
Ao citar São Paulo VI, o Santo Padre recordou um fato. O santo ofereceu uma cruz dourada para embelezar a Capela de Ravena, que guarda o túmulo de Dante. O Papa aponta que no Concílio Ecumênico Vaticano II, São Paulo VI doou aos padres conciliares uma edição de “Divina Comédia”. Uma das obras mais conhecidas de Dante.
Francisco conta que o santo honrou a memória do insigne poeta quando escreveu a Carta Apostólica Altissimi cantus. Neste documento, reiterava a forte ligação entre a Igreja e Dante Alighieri.
São João Paulo II, observa Francisco, repetidamente citou em seus discursos as obras de Dante. O Santo Padre destacou a intervenção de 30 de maio de 1985 na inauguração da Exposição Dante no Vaticano.
Como Paulo VI, São João Paulo II também destacou a genialidade artística de Dante. “Uma realidade visualizada, que fala da vida do além-túmulo e do mistério de Deus com a força própria do pensamento teológico, transfigurado pelo esplendor da arte e da poesia, simultaneamente conjuntas”.
Francisco
O Papa comentou sobre a sua relação com o poeta. Em sua primeira Encíclica, fez referência a Dante para expressar a luz da fé, citando um verso de “Paraíso”.
Os 750 anos do nascimento de Dante foi recordado pelo Pontífice com uma mensagem. Nela, Francisco almejou que a figura de Alighieri e a sua obra fossem novamente compreendidas e valorizadas.
Francisco incentiva a leitura da “Divina Comédia”. A obra é considerada um grande itinerário. Ela é uma verdadeira peregrinação, pessoal e interior, comunitária, eclesial, social e histórica.
Vida e missão de Dante
Na Carta Apostólica, o Santo Padre relata a biografia de Dante. O nascimento em Florença, seu batismo e fé, e envolvimento no conflito entre Guelfos e Gibelinos foram citados. Também a ascensão em cargos públicos, exílio, condenação e rejeição da sentença foram contados. Por fim, Francisco se atentou ao exílio perpétuo e condenação à morte do poeta.
No exílio, o Papa afirma que Dante tornou-se um peregrino pensativo. “Deparamo-nos, assim, com dois temas fundamentais de toda a obra de Dante: o ponto de partida de todo o itinerário existencial, o desejo, presente no ânimo humano, e o ponto de chegada, a felicidade, dada pela visão do Amor que é Deus”.
Profeta da esperança
Relendo a sua vida sobretudo à luz da fé, Francisco afirma que Dante descobriu também a vocação e a missão que lhe foram confiadas, de modo que, paradoxalmente, de homem aparentemente falido e desiludido, pecador e desanimado, transformou-se em profeta de esperança.
Cantor do desejo humano
O poeta, de acordo com o Pontífice, foi capaz de ler o coração humano em profundidade; e em todos, mesmo nas figuras mais abjetas e molestas, conseguiu vislumbrar uma cintila de desejo de alcançar alguma felicidade, uma plenitude de vida.
“O itinerário de Dante, ilustrado sobretudo na “Divina Comédia”, é verdadeiramente o caminho do desejo, da necessidade profunda e interior de mudar a sua própria vida para poder alcançar a felicidade e, assim, mostrar a estrada a quem se encontra, como ele, numa ‘selva escura’ e perdeu ‘a direita via’”, destaca o Santo Padre.
Poeta da Misericórdia
Francisco relata que o poeta defende a ideia de que a misericórdia de Deus oferece sempre a possibilidade de mudar, converter-se, encontrar-se a si mesmo e encontrar a via para a felicidade.
Dante faz-se paladino da dignidade de todo o ser humano e da liberdade como condição fundamental tanto das opções de vida como da própria fé, escreve o Papa.
“O destino eterno do homem – sugere Dante ao narrar-nos as histórias de tantas personagens, ilustres ou pouco conhecidas – depende das suas escolhas, da sua liberdade: os próprios gestos diários, aparentemente insignificantes, têm um alcance que se estende para além do tempo, são projetados na dimensão eterna”.
Acolher o testemunho de Dante
Por fim, o Pontífice exorta os fieis a acolherem o testemunho do poeta e o imitarem. Dante, segundo o Santo Padre, mostra o itinerário para a felicidade, a direita via para viver plenamente a humanidade, superando as selvas escuras onde se perde a orientação e a dignidade.
Por ocasião do centenário, o Papa agradeceu todos que contribuem para a comunicação e difusão da obra de Dante, considerado um “tesouro cultural, religioso e moral”.
“Exorto as comunidades cristãs, sobretudo as estabelecidas nas cidades que conservam as memórias de Dante. (…) De maneira particular encorajo os artistas a dar voz, rosto e coração, a dar forma, cor e som à poesia de Dante”.
Fonte: Canção Nova