Vivência da Semana Santa em casa se faz necessária por causa do avanço da pandemia do novo coronavírus que aflige o mundo
Nesta quinta-feira, 9, a Igreja católica entra de modo profundo no mistério da morte e ressurreição do Senhor. Este ano, a vivência desse momento será diferente: cada fiel, em casa, com sua família. A adaptação se faz necessária por causa do avanço da pandemia do novo coronavírus que aflige o mundo.
Com as igrejas fechadas por causa do isolamento social, a Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) preparou um roteiro especial de celebração para ser feito em família nesta Quinta-feira Santa, que soleniza a memória da Última Ceia de Jesus, de sua entrega, de seu amor sem limites, da inauguração da nova aliança no sangue dele derramado na cruz. E também da instituição do sacerdócio ministerial e do Mandamento Novo.
Quinta-feira Santa
“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Essas palavras do Evangelho, de acordo com a comissão, é um chamado a entrar no espírito da liturgia deste dia, porque Jesus sabia que seria entregue às autoridades que o estavam procurando há muito tempo. E ele não fugiu.
“Resolveu encarar sua missão até o fim, por amor ao Pai e por amor aos seus. Com dois gestos simbólicos, anunciou profeticamente sua morte na cruz: o lava-pés e o pão partido e partilhado juntamente com o vinho, na espera ardente da realização do Reino de Deus”, destaca o trecho do documento da comissão. É nesta celebração que se expressa que a vida de Jesus é oferecida ao Pai, em benefício dos irmãos: “Isto é meu Corpo, meu Sangue, doado por vós… Tomai, comei… Fazei isto para celebrar a minha memória”.
É na Quinta-feira Santa que os cardeais, bispos, sacerdotes e religiosos renovam suas promessas sacerdotais e que são consagrados os óleos dos Catecúmenos, da Unção dos enfermos e o do Crisma e, nesse mesmo dia, à noite, acontece a liturgia com o rito do lava-pés, onde se recorda a instituição da Santíssima Eucaristia.
De acordo com o decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, de 25 de março de 2020, o rito do lava-pés, já opcional, deve ser omitido, assim como a procissão no final da Missa da Ceia do Senhor. Além disso, o decreto orienta que o Santíssimo Sacramento permaneça no tabernáculo. Neste dia, os padres recebem excepcionalmente a faculdade de celebrar a missa, sem a participação popular, em um local adequado.
Para ajudar neste momento de fé e esperança, a Comissão para Liturgia preparou algumas sugestões para as famílias organizarem bem a celebração de quinta-feira que pode ser feita em casa e ou acompanhada pelas emissoras de rádio e TV ou pelas redes sociais:
– A celebração poderá ser realizada juntamente com a ceia em família. Desta forma, durante o dia, seja preparado o jantar para a família, bem como os demais elementos para a celebração;
– Na mesa, podem ser colocadas uma vela e a Bíblia aberta no Evangelho de João (capítulo 13), além dos pratos, talheres e o que mais for necessário para a refeição (caso a refeição seja feita junto com a celebração);
– Os que moram na mesma casa sejam motivados para a celebração. À noite, em torno da mesa, ainda sem o jantar posto, começa a celebração em família. – Desde cedo, poderá ser colocado um jarro com uma toalha em algum lugar de destaque na casa.
– A comissão para Liturgia da CNBB ressalta ainda que, para os cristãos, a celebração eucarística é participação na Páscoa de Cristo. Por meio da ação memorial, participamos hoje de sua morte e ressurreição.
“Entregamos com ele nossa vida ao Pai, confiando que um dia o Reino irá se realizar, pondo fim a toda opressão, miséria, egoísmo…, tornando possível uma convivência fraterna. A confiança em Deus não impede, antes exige a nossa participação, o nosso compromisso”, finaliza o documento da comissão.
Sexta-Feira Santa
Já na Sexta-Feira Santa, 10, é dia fazer memória da paixão e morte de Jesus. No centro desta celebração está a cruz. De acordo com a comissão, nesta liturgia se celebra o mistério do amor de Jesus, o justo, perseguido, injustiçado, executado… que entregou sua vida nas mãos do Pai, confiando em sua justiça e o mistério do amor do Pai que se debruçou sobre o sofrimento do seu Filho e não o abandonou na morte.
“O amor venceu o ódio e a vingança. A vida venceu a morte”, diz o documento. No Evangelho de João, a cruz de Jesus é apresentada não tanto como instrumento de morte, mas sobretudo como trono e exaltação, sinal de salvação: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem” (Jo 3,14).
O documento aponta ainda que dentro desta visão, a cruz entra na assembleia como sinal de vitória, como “árvore da vida”. Quando o povo beija e aclama a cruz, aclama e adora o Cristo que deu a sua vida pela do seu povo até a morte na cruz. É assim que deve ser entendida a expressão tradicional “adoração da cruz”.
“Do supremo ato de Jesus na cruz, nasce a Igreja; do seu lado aberto pela lança, brotam os sacramentos pascais: Batismo (água) e Eucaristia (sangue). Ao fazer memória da paixão e morte de Jesus – o Cristo – fazemos memória também de todas as pessoas justas perseguidas, injustiçadas, sofredoras, em todos os povos e culturas. Nelas contemplamos o mistério do amor de Cristo que se faz solidário com todo sofrimento humano, com todo desejo e busca de um mundo sem ódio, sem vingança, sem violência, sem injustiça”, destaca o documento.
A Comissão para Liturgia também preparou algumas sugestões para as famílias prepararem a celebração da Paixão do Senhor:
– Prepare um ambiente em sua casa, simples e sóbrio. Apenas uma cruz, uma vela, e a bíblia aberta no Evangelho de João (capítulo 18). Se possível, colocar um pano vermelho.
– O Evangelho pode ser lido por mais de uma pessoa, caso a leitura seja feita ao modo de diálogo. É importante que seja preparado com antecedência.
– Escolha quem irá fazer o “Dirigente (D)” da celebração: pode ser o pai ou mãe e quem fará as leituras (L). Na letra (T) todos rezam ou cantam juntos. Na leitura da Paixão tem também o Narrador (N).
– Às 15h, a família se reúne para celebrar a paixão do Senhor. Se não for possível, celebre em outro horário antes do anoitecer.
Sábado Santo
No sábado Santo, 11, a Vigília Pascal é um ponto alto do ano litúrgico. A celebração é a vigília na espera da luz. O círio pascal é símbolo do Cristo Ressuscitado que vence as trevas com a sua luz.
“Saímos da noite, da escuridão, e alcançamos a aurora, o novo dia: “Vigiemos, irmãos caríssimos! […] Esta noite santa inaugura a solenidade da Páscoa! […] Nossa fé nos dá esta esperança que, com a Igreja inteira, sobre toda a face da terra, nós não seremos mais surpreendidos pela noite, quando o Senhor voltar! […] Pois, para nós cristãos, viver não é outra coisa que vigiar. E vigiar é abrir-se à vida” (Santo Agostinho), destaca o trecho do documento.
É importante destacar que a celebração do Sábado Santo é dividida em quatro momentos: Bênção do Fogo Novo; Liturgia da Palavra; Liturgia Batismal; Liturgia Eucarística. Esta cerimônia tem início fora da igreja que fica com as luzes apagadas até que o Círio Pascal aceso no Fogo Novo entre no templo como um grande freixo de luz que traz a luz da vida e, na luz do Cristo Ressuscitado, toda a Igreja é iluminada pela sua presença. A bênção do Fogo Novo que acende o Círio Pascal é sinal e presença do Ressuscitado na vida da comunidade.
O documento lembra ainda que “a Vigília Pascal é festa batismal; é momento de incorporação de novos membros no Corpo de Cristo e renovação das promessas batismais de quem já foi batizado”. A comissão também preparou sugestões que vão fazer este momento de fé do Sábado Santo em família ser único e fortalecedor:
– Esta celebração deve ser celebrada na noite do sábado;
– Escolha em sua casa um local adequado para celebrar e rezar juntos.
– Prepare sua Bíblia com o texto a ser proclamado, um crucifixo, uma imagem ou ícone de Nossa Senhora.
– Providencie, se possível, velas para todos da família. Também uma vela maior, enfeitada com flores, para ser colocada no centro da mesa e uma vasilha com água.
– Escolha quem irá fazer o “Dirigente (D)” da celebração: pode ser o pai ou mãe e quem fará as leituras (L). Na letra (T) todos rezam ou cantam juntos.
– Convidar a todos os membros da família a se arrumarem para uma festa, como quem acolhe em casa o convidado mais importante da vida.
– A celebração pode terminar com um jantar festivo;
Fonte: Canção Nova