O tempo da Quaresma nem sempre durava 40 dias e o jejum causava controvérsias entre os primeiros cristãos
Nos primórdios da Igreja, os cristãos foram frequentemente perseguidos e era difícil para os bispos criarem um calendário litúrgico abrangente. Isso resultou em uma disparidade inicial na forma como os cristãos celebravam a Quaresma.
No século II, Santo Irineu escreveu uma carta ao Papa, questionando-o sobre os tipos de jejum antes da Páscoa:
“Pois a controvérsia não é apenas sobre o dia [da Páscoa], mas também sobre a própria maneira do jejum. Alguns pensam que devem jejuar um dia, outros dois, outros ainda mais. Alguns, além disso, consideram seu dia consistindo de quarenta horas dia e noite. E esta variedade em sua observância não se originou em nosso tempo, mas muito antes, no de nossos ancestrais. É provável que eles não se apegassem a uma exatidão estrita, e assim formaram um costume para sua posteridade de acordo com sua própria simplicidade e modo peculiar. No entanto, todos eles viveram em paz, e nós também vivemos em paz uns com os outros; e a discordância com respeito ao jejum confirma o acordo na fé.”
De fato, nos primórdios da Igreja, os primeiros cristãos concordavam que um jejum deveria preceder a festa da Páscoa, mas a duração de 40 dias não era imutável.
A Quaresma de 40 dias
Ao mesmo tempo, estudiosos descobriram que alguns cristãos no deserto egípcio realizavam um jejum pós-teofania por 40 dias. A festa da Teofania comemorava o batismo de Jesus e acontecia tradicionalmente em 6 de janeiro. Portanto, esses cristãos começavam um jejum no dia seguinte à Teofania, imitando Jesus, que foi para o deserto para jejuar por 40 dias imediatamente após o seu batismo.
Este jejum, entretanto, não terminava na Páscoa, mas com uma cerimônia batismal, iniciando novos membros na fé cristã.
Alguns estudiosos acreditam que a tradição do jejum pós-teofania foi posteriormente fundida com outras tradições para criar a época da Quaresma como a conhecemos hoje. Foi só depois do Concílio de Niceia, no ano 325, que a Quaresma foi amplamente estabelecida com o jejum de 40 dias. Depois, a “legalização” do cristianismo permitiu uma celebração mais pública do jejum e os bispos puderam, então, iniciar o processo de união com o Bispo de Roma em todas as coisas, incluindo as disciplinas litúrgicas.
Enfim: apesar de a Quaresma ter mudado desde os primórdios Igreja, as raízes da Quaresma são profundas e o jejum de 40 dias tem origens antigas.
Fonte: Aleteia