Arcebispo de Nagasaki afirma que o trabalho é o de reconstruir comunidades e famílias inteiras, não apenas prédios
Completa dez anos do tsunami e acidente nuclear no Japão. Desde então, o país mudou sua abordagem em relação às questões ambientais. Operações de remoção de resíduos contaminados continuam. O arcebispo de Nagasaki afirma que o trabalho é o de reconstruir comunidades e famílias inteiras, não apenas prédios.
Março de 2011
No dia 11 de março de 2011, o Japão foi afetado por um terremoto de magnitude 9 com epicentro na costa. O fenômeno foi o mais forte já registrado.
O terremoto gerou um tsunami gigantesco que danificou três reatores da usina nuclear de Fukushima. Os reatores derreteram e geraram o maior desastre atômico desde o acidente de Chernobyl em 1986.
Mais de 19 mil vítimas
Mais de 19 mil morreram. Houve um aumento do câncer de tireoide na região. Mais de 160 mil residentes foram forçados a abandonar suas casas devido às consequências do acidente.
Reconstrução
Desde então, o governo gastou cerca de 250 bilhões de euros para reconstruir toda a região de Tohoku. Mais de 75% do solo contaminado está sendo transportado para locais de armazenamento apropriados.
Lento retorno à normalidade
Em outras áreas da região a situação continua difícil. “Mais ou menos 40 mil pessoas ainda estão desabrigadas e precisam morar em uma casa que não é delas, enquanto 2.500 pessoas ainda estão desaparecidas”, contou o arcebispo Joseph Takami.
“O governo tem feito um grande esforço para construir estradas e escolas, mas as comunidades em muitas regiões ainda não voltaram a ser como eram antes deste trágico evento”. “Muitas pessoas foram embora e não voltaram”, sublinhou.
Pouco a pouco as cidades estão se reorganizando. Segundo Dom Takami, ainda há comunidades e famílias a serem restauradas, o que é ainda mais importante do que reconstruir bens materiais.
Tocha olímpica partirá de Fukushima
Em 25 de março, deverá partir de Fukushima o revezamento da tocha olímpica em direção a Tóquio. O momento acontecerá na inauguração do evento, previsto para o ano passado e adiado devido à pandemia de Covid-19.
Surgiram polêmicas sobre a real segurança da área, mas em relatório publicado na quarta-feira, 11, pelo Comitê Científico, sobre as consequências das emissões radioativas das Nações Unidas, confirmou que hoje a área é segura e a radiação não tem mais efeitos nocivos à saúde da população local.
Uma mudança de consciência sobre a energia nuclear
O trágico acidente em Fukushima colocou no centro do debate público no Japão a oportunidade de continuar ou não o programa nuclear no país. A meta estabelecida é de alcançar a neutralidade de carbono entre emissões e absorção até 2050.
Não há um consenso sobre a necessidade ou não do uso de energia atômica para chegar a esse resultado. “Mudou muito”, explica Dom Takami, nascido em Nagasaki poucos meses após o lançamento da bomba atômica em 1946.
“Segundo as pesquisas, os que ainda querem manter as usinas nucleares são apenas 10%, enquanto 40% querem uma abolição gradual e 15% querem uma abolição imediata”, afirmou.
Agora os japoneses querem energias renováveis, como a solar ou a eólica, explicou o presbítero. Mesmo quem produz máquinas está mudando de consciência. Elas estão sendo fabricadas de forma ecológica.
Não ao derramamento de águas contaminadas no mar
Em relação ao descarte de resíduos ainda presentes em Fukushima, nas últimas semanas vazou a hipótese do governo de despejar no oceano água contaminada usada para resfriar a usina.
Uma solução condenada pelas Comissões Justiça e Paz e Meio Ambiente das Conferências Episcopais japonesa e sul-coreana. “Concordo com eles”, reitera o bispo de Nagasaki.
O prelado recordou que “os pescadores e agricultores de Fukushima têm muitas dificuldades, porque pelo menos 15 países se recusam a comprar o peixe e as leguminosas produzidas em Fukushima”.
“Também, cientificamente, essa decisão do governo é muito problemática. Devemos pensar sobre o perigo que essa água contaminada pode causar, o que deve ser considerado muito seriamente”.
Fonte: Canção Nova