O professor Vanderlei Bagnato, brasileiro e membro da Pontifícia Academia das Ciências, participou do encontro conjunto das Academias das Ciências e Ciências Sociais, com foco nas minorias, especialmente os povos indígenas afetados pelas mudanças climáticas e interferências governamentais. O workshop, realizado no Vaticano, nos dias 14 e 15 de março, entre os seus objetivos principais, visava discutir como a ciência pode aproveitar o conhecimento acumulado por séculos por esses povos e como contribuir para sua viabilidade globalmente.
Vanderlei ao conversar com a mídia do Vaticano, destaca a abertura do encontro, marcada pela audiência com o Papa Francisco, que enfatizou a importância de aprender com a sabedoria e estilo de vida dos povos indígenas. Bagnato também ressalta a necessidade de ensinar ciência aos indígenas para embasar seu conhecimento tradicional com fundamentos científicos, além de salientar a importância de aproveitar o conhecimento deles, especialmente na medicina natural:
“É extremamente importante que os cientistas, de um modo geral, fiquem preocupados em transferir para os indígenas a educação científica, para que todo o conhecimento deles possa ser embasado com o conhecimento científico que a civilização ocidental adquiriu ao longo também de muitos séculos. Esse é o contexto que nós estamos buscando e não há dúvida de que os indígenas conhecem os princípios ativos das plantas melhor do que qualquer cidadão, melhor do que qualquer químico. E nós temos que aproveitar esse conhecimento.”
Promover o entendimento científico
O professor destaca que o encontro dessas diferentes formas de sabedorias é fundamental, e se une com a necessidade de encontrar uma linguagem comum para uma interação produtiva e simbiótica. No entanto, Bagnato expressou preocupação com a falta de educação adequada dos povos indígenas e enfatizou a necessidade de criar profissionais dentro das próprias comunidades para promover o desenvolvimento sustentável.
O membro brasileiro da Academia teve o seu momento de fala no evento, e ao abordar o tema: “Sistemas de conhecimento de povos indígenas para a saúde, produtos farmacêuticos, água e ciências – Oportunidades de inovação, direitos, políticas”, destacou a importância da interação com esses povos, sem interferência:
“Eu destaquei a necessidade de nos prepararmos para desafios futuros, como o problema das bactérias resistentes, que afetam não apenas a sociedade em geral, mas também comunidades minoritárias com suas culturas distintas. Salientei a importância de agir em conjunto para proteger contra essas ameaças. Enfatizei que é hora de interagir, não interferir, e sugeri a realização de exposições e eventos educativos para promover o entendimento científico. É essencial agir com mais vigor diante dos desafios enfrentados pelas comunidades indígenas, pois, embora estejamos cientes do problema há décadas, as ações ainda são insuficientes.”
A importância da educação
Por fim, Vanderlei Bagnato ressalta a responsabilidade da Pontifícia Academia das Ciências em alertar sobre questões sociais e ambientais, e expressou seu compromisso pessoal com a educação, considerando-a um dever de deixar um legado de instrução e formação para as futuras gerações e a importância de cada indivíduo se envolver na promoção do coletivismo, para elevar o nível educacional da sociedade como um todo:
“Somos todos professores uns dos outros, pois sempre há algo para aprender e ensinar. Vivemos uma crise social onde a juventude não compreende seu papel no coletivo e perdeu o sentido de comunidade. Cada cidadão tem o dever de agir como um ‘anjo do dia a dia’, guiando e se preocupando com os outros. Isso é fundamental para o cristianismo, que envolve educar e conduzir as pessoas de forma contínua. Cada vez que educamos alguém, deixamos um pouco de nós mesmos para sempre. Como membro da Academia, a mensagem é clara: todos devemos contribuir para a educação, pois ela é essencial para todos.”
Fonte: Vatican News