Luigi e Maria Beltrame foram os primeiros esposos a serem beatificados juntos na história da Igreja
A carta enviada a todas as famílias do mundo, assinada pelo Vigário Geral da Diocese de Roma, Cardeal Angelo De Donatis, trouxe a novidade vinda do Vaticano: “Os beatos esposos Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi serão os patronos do X Encontro Mundial das Famílias, que será realizado em Roma de 22 a 26 de junho de 2022”.
A escolha revelou uma família que passou a maior parte da sua vida em Roma, e que aparece ainda hoje como um autêntico, credível e atual testemunho de amor conjugal.
No dia 21 de outubro de 2001, Luigi e Maria foram o primeiro casal beatificado por João Paulo II. O casal do século XX foi declarado beato na mesma Igreja onde 100 anos atrás deram-se um ao outro em matrimônio.
No mesmo dia da beatificação de Luigi e Maria, a Igreja celebrou os 20 anos da Exortação Apostólica “Familiaris consortio”. Além de trazer o valor do Matrimônio, e as tarefas da família, este documento convida a um particular empenho no caminho de santidade, ao qual os esposos são chamados devido à graça sacramental, que “não se esgota na celebração do matrimônio, mas acompanha os cônjuges ao longo de toda a existência” (Familiaris consortio,56).
Vocação à santidade
Para o professor de história da Igreja, Felipe Aquino, a escolha de Luigi e Maria Beltrame como patronos do Encontro Mundial das Famílias é, sem dúvidas, um convite para que os casais vivam a santidade.
“O Concílio Vaticano II disse que todos nós somos chamados, convidados e obrigados a buscar a santidade do próprio estado de vida: aquele que é solteiro como solteiro, aquele que é casado como casado, aquele que é padre como padre.”
O professor afirma que, como se trata de um Encontro de Famílias, nada melhor do que ter como patronos um marido e uma esposa que foram beatificados juntos e que deixaram um testemunho maravilhoso.
Casais Santos
Felipe Aquino explica que, antigamente, só se beatificava e canonizava freiras, padres e monges. Segundo ele, o Papa João Paulo II teve essa preocupação.
“Existem muitos casais santos, tanto que houve a canonização dos pais Santa Terezinha, a beatificação de Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi. Então, a gente reforça aquilo que o Vaticano disse: nós somos chamados, convidados e obrigados a buscar essa entidade no próprio estado de vida.”
Tudo aquilo que o casal constrói junto, é tudo o que faz parte da vida ordinária. É o que afirma o reitor do Santuário dos pais de Santa Terezinha – os santos Luís e Zélia Martin, Padre Thierry Henáult-Morel.
“Será que na sua vida social – em que se vive o amor em família, com os outros e na sociedade, não seria matéria para poder viver em santidade?”, questiona.
Sinal de esperança
Para Padre Thierry, perceber casais sendo beatificados e canonizados é verdadeiramente um sinal para esse tempo difícil. “É um sinal de esperança, porque aí nós podemos ver onde somos chamados. Podemos ver em profundidade que o Senhor também nos chama à vida de santidade.”
O ordinário da vida é o local propício para viver a santidade, segundo o reitor. Ele explica que todos perdem muito tempo pensando que a vida ordinária seria banal. “Jesus, na sua encarnação, assumiu a nossa humanidade, ele assumiu o nosso ordinário pra viver de maneira ordinária, e isso torna tudo extraordinário”, reforçou.
“Talvez então a vida de um casal, a vida uma família, a vida dos casais, (…) pode ser um grande chamado à vida de santidade.”
Sacrifício agradável a Deus
Padre Thierry explica que todos são chamados a se tornar um sacrifício agradável a Deus. Para pessoas que amam, onde se triunfa o amor, eles são esse sacrifício de louvor a Deus, disse.
Sobre a crescente de casais canonizados e beatificados, professor Felipe pensa que hoje está acontecendo porque há um reavivamento espiritual na Igreja, o que para ele teve início, provavelmente, em meados dos anos 60, com a Renovação Carismática.
“O Concílio Vaticano II trouxe o que o Papa João Paulo II chamou de primavera da Igreja, com o encontro de casais, encontro de famílias, encontro de jovens. Isso tudo tá dando muito fruto. Penso que, realmente, nós temos muitos casais que vivem a santidade. Uma santidade anônima, que não aparece, mas que, sem dúvida, com o tempo, isso vai aparecer.”
Sobre o Encontro
“Esse Encontro Mundial das Famílias, que com a graça de Deus o Papa João Paulo II criou na Igreja, realmente tem iluminado muitos matrimônios. E penso que este em Roma, com a transmissão inclusive da Canção Nova, vai poder atingir muitos casais, muitas famílias”, afirmou Aquino. O professor acredita que não só os casais vão se beneficiar com isso, mas também muitos jovens namorados e noivos.
Para ele, não há dúvida de que todas as pregações e eventos que vão haver neste evento abordarão também muitos aspectos em relação ao namoro, noivado, como viver a vida conjugal. Isso vai ajudar não só os próprios casais já casados, mas os que estão se preparando para o casamento, disse.
Biografia
Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi nasceram na Itália. Luigi era advogado e Maria era escritora e professora, além disso tinha uma paixão pela música. Durante a guerra da Etiópia e a Segunda Guerra Mundial, ela trabalhou como enfermeira voluntária da Cruz Vermelha. Catequista, ela também trabalhava em meio a várias associações de caridade, como a Ação Católica Feminina.
O casal se conheceu em Roma e se casou na Basílica de Santa Maria Maior no dia 25 de novembro de 1905. Receberam com docilidade a graça matrimonial que os levou a santificar-se, acolhendo com alegria os frutos do seu amor: quatro filhos.
Muitas vezes, seus filhos os presenciaram acolhendo em casa refugiados da guerra e organizando grupos com jovens dos bairros pobres de Roma durante o pós-guerra. Dos seus quatro filhos, três seguiram a vida religiosa. Stephania, a primeira filha, tornou-se monja beneditina e recebeu o nome de Maria Cecília. Ambos os filhos sentiram-se chamados ao sacerdócio. Cesare tornou-se monge trapista, Filippo, hoje padre Tarcísio, é padre diocesano de Roma.
Quando Maria estava grávida de sua última filha, foi acometida por um problema grave de saúde, o que fez com que sua gravidez fosse complicadíssima. Ela foi aconselhada pelos médicos a realizar um aborto para que a sua vida fosse poupada. A possibilidade de sobrevivência com esse diagnóstico era de 5%. Apesar da situação, Maria e Luigi preferiram não abortar e colocaram toda a sua confiança no Senhor. Enrichetta nasceu com saúde.
Em novembro de 1951, aos 71 anos, Luigi faleceu após uma parada cardíaca. Maria faleceu nos braços de Enrichetta, 14 anos depois, em sua casa nas montanhas, aos 81 anos.
Luigi e Maria, como uma família normal com alegrias e preocupações, souberam realizar uma existência rica de espiritualidade. Viviam a Eucaristia de forma cotidiana. Também viviam a devoção a Virgem Maria.
Fonte: Canção Nova