Uma enorme cruz de mármore foi descoberta no alto das montanhas do Baltistão (Paquistão); acredita-se que tem até 1.200 anos e seja um sinal da presença de uma antiga civilização cristã na zona.
Segundo informa UCA News, uma equipe de expedição da Universidade do Baltistão, na cidade de Skardu, descobriu a enorme cruz de mármore de mais de três toneladas no topo da cordilheira de Kavardo, no Baltistão, que, segundo estimativas iniciais, teria entre 1.000 e 1.200 anos.
A equipe de expedição que visitou o local para estudar a descoberta foi liderada pelo vice-chanceler Muhammad Naeem Khan, junto com Zakir Hussain Zakir, diretor acadêmico da Universidade do Baltistão; e Ishtiaq Hussain Maqpoon, diretor de relações externas. Aldeões locais e guias de montanha também estiveram presentes.
O vice-chanceler Khan descreveu a descoberta da cruz como “se descesse em Karakarum diretamente dos céus”.
“A enorme cruz de pedra de mármore que pesa 3-4 toneladas e mede aproximadamente 2×1,5m foi encontrada a cerca de dois quilômetros do acampamento, no alto das montanhas de Kavardo, Baltistão, com vista para o rio Indo”, disse o equipe de expedição em um comunicado à imprensa, em 14 de junho.
A universidade planeja entrar em contato com universidades europeias e norte-americanas para desenvolver laços acadêmicos e, assim, determinar a data exata da “Cruz de Kavardo”, como foi chamada.
Segundo o pesquisador Wajid Bhatti, é uma cruz de Thoman e uma das maiores cruzes descobertas no subcontinente.
Ao longo dos séculos, a cruz é um símbolo do cristianismo. “A Cruz de Kavardo”, como foi chamada, é a primeira evidência de uma cruz sagrada no Baltistão; portanto, as notícias trouxeram alegria a muitos fiéis e o desejo de continuar estudando-a e divulgando-a.
“É uma grande notícia para todos nós que uma cruz antiga tenha sido encontrada em Skardu. Isso mostra que o cristianismo existiu nessa área e deve haver uma igreja e casas de cristãos. Atualmente, não há famílias cristãs nessa área, mas elas já estiveram presentes”, disse Mansha Noor, diretora executiva da Cáritas Paquistão.
“Solicito às autoridades que convidem historiadores internacionais para aprender mais sobre a história precisa da cruz”, acrescentou.
Outras pessoas na área também expressaram sua alegria pela descoberta da cruz antiga, como Norman Gill, um banqueiro católico morador de Karachi, que acredita que “os cristãos locais deveriam ter permissão para visitar a área e ver a cruz, depois que todas as formalidades forem concluídas”, disse à UCA News.
Segundo um escrito do século IV, de Eusébio de Cesaréia, pai da história da Igreja, os apóstolos Tomé e Bartolomeu foram enviados para Pártia, atual Irã e Índia. Perto do estabelecimento do segundo império da Pérsia (ano 226), havia bispos no noroeste da Índia, Afeganistão e Baluchistão (que inclui partes do Irã, Afeganistão e Paquistão), além de leigos e clérigos envolvidos em atividades missionárias.
Depois, com a chegada dos portugueses ao subcontinente indiano, no século XVI, chegaram os missionários jesuítas que se estabeleceram em Lahore, em 1570. O cristianismo se consolidou devido ao trabalho dos missionários entre os séculos XVIII e XIX.
No entanto, devido à recente agitação político-religiosa, muitos cristãos migraram para o Sri Lanka ou Tailândia. “As minorias religiosas paquistanesas se veem obrigadas a viver de acordo com o artigo 31 da Constituição do Paquistão, que fala sobre o estilo de vida islâmico. Esta é a razão pela qual o número de minorias religiosas diminuiu no país: em 1947, eram 23% e agora são menos de 5%”, assinalou Anjum James Paul, presidente da Associação de Professores das Minorias, à agência vaticana Fides, em 2018.
A situação piorou com a introdução da lei de blasfêmia em 1987, inspirada na Sharia, a lei islâmica usada para castigar até com a morte qualquer ofensa de palavra ou obra contra Alá, Maomé ou o Corão.
Em 2017, o “MasLibres.org” afirmou que, desde a sua promulgação, 1.450 pessoas foram acusadas de blasfêmia e 60 perderam a vida por causa disso. “A blasfêmia condena os cristãos e as minorias religiosas no Paquistão a viverem sob ameaça permanente de morte”, ressaltou.
Segundo o Escritório de Informação Diplomática do Ministério das Relações Exteriores, no Paquistão, um país principalmente muçulmano, os cristãos representam atualmente 1,5% da população, em comparação com a maioria islâmica que representa cerca de 95%.
Em 2016, a ACN indicou que o Paquistão era “o país com o maior número de ‘madrasahs’ ou escolas corânicas do mundo”. “É o país formador e ‘treinador’ de milhares de futuros talibãs. Exporta o jihadismo para o Afeganistão e para o resto do mundo. O hiper extremismo islâmico é a principal ameaça à liberdade religiosa”, afirmou.
A presença de cristãos do Paquistão se concentra principalmente em Punjab, mas também estão em “lugares mais remotos em todo o país, como na fronteira com o Afeganistão e na montanha do Himalaia”, disse um porta-voz da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) que esteve no Paquistão, em um relatório de 2019.
Nesses bairros, há uma presença de comunidades cristãs dispersas que vivem na pobreza e os territórios costumam estar delimitados por cercas e protegidos pela polícia e pelo exército contra a ameaça do terrorismo cometido por fundamentalistas islâmicos, acrescentou.
95% dos cristãos não sabem ler ou escrever e trabalham no campo em condições de semiescravidão. Famílias inteiras estão envolvidas na fabricação de tijolos e ganham entre 7 e 8 dólares por mil tijolos, disse a ACN, em 2017. Em 2019, o porta-voz explicou que os cristãos que fazem esses tijolos com suas próprias mãos estão localizados no norte e leste do Paquistão e exigem que sejam feitos cerca de 160 tijolos para obter o equivalente a 1 dólar.
Fonte: acidigital