Nesta quarta-feira, 29, o Papa Francisco não deixou de receber diversos fiéis na Audiência Geral. Após ter cancelado os compromissos do sábado, 25, e sua viagem para a COP 28 entre os dias 1º e 3 de dezembro por conta de uma “leve gripe” e uma inflamação em suas vias respiratórias, o Santo Padre ainda recebeu os peregrinos. O encontro aconteceu na Sala Paulo VI, devido às baixas temperaturas registradas.
O próprio Pontífice afirmou, ao saudar os fiéis, que “ainda não está bem com essa gripe e a voz não está boa”. Por conta disso, quem leu o discurso preparado para esta audiência foi o colaborador da Secretaria de Estado, monsenhor Filippo Ciampanelli.
Tecnocentrismo
Seguindo com as pregações sobre o zelo apostólico, Francisco destacou no texto que “quase sempre ouvimos coisas ruins sobre o hoje”. Guerras, mudanças climáticas, injustiças planetárias e migrações, crise da família e da esperança são motivos de preocupação, levando a uma cultura “que coloca o indivíduo acima de tudo e a tecnologia no centro de tudo, com a sua capacidade de resolver muitos problemas e o seu progresso gigantesco em muitos campos”.
Essa cultura do progresso técnico-individual, conforme o Papa, leva à afirmação de uma liberdade que não impõe limites e deixa algumas pessoas para trás, indiferente a elas. Para ilustrar, ele citou a história da cidade de Babel (cf. Gn 11, 1-9), que se envolveu em um projeto que envolvia sacrificar cada individualidade para a eficiência da comunidade. Diante disso, Deus confundiu a língua dos membros daquele povo para, de acordo com o Pontífice, restabelecer as diferenças, recriar as condições para que a singularidade se desenvolva e reanimar o múltiplo onde a ideologia gostaria de impor o único.
“Ainda hoje a coesão, mais do que a fraternidade e a paz, baseia-se muitas vezes na ambição, nos nacionalismos, na homologação, em estruturas técnico-econômicas que inculcam a crença de que Deus é insignificante e inútil: não tanto porque buscamos mais conhecimento, mas sobretudo porque buscamos mais poder. É uma tentação que permeia os grandes desafios da cultura atual”, frisa o texto do Santo Padre.
Fé, diálogo e encontro
Diante disso, Francisco recordou o apelo feito na exortação apostólica Evangelii Gaudium por uma evangelização que ilumine os novos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o ambiente. “O zelo apostólico nunca é uma simples repetição de um estilo adquirido, mas um testemunho de que o Evangelho está vivo aqui para nós hoje”, completou no discurso.
Ele também pontuou que deve-se olhar para a época e a cultura atuais como uma dádiva, uma vez que “elas são nossas e evangelizá-las não significa julgá-las de longe, nem ficar numa varanda gritando o nome de Jesus, mas sair às ruas, ir aos lugares onde moramos, frequentar os espaços onde sofremos, trabalhamos, estudamos e refletimos, habitar as encruzilhadas onde os seres humanos partilham o que faz sentido para as suas vidas”.
O Papa reiterou que as formulações de fé são o resultado de um diálogo e de um encontro entre diferentes culturas e comunidades. Ele reforçou que “não devemos ter medo do diálogo: na verdade, é precisamente a comparação e a crítica que nos ajudam a evitar que a teologia se transforme em ideologia”.
“Precisamos permanecer nas encruzilhadas do hoje. Abandoná-las significaria empobrecer o Evangelho e reduzir a Igreja a uma seita. Frequentá-las, porém, ajuda a nós, cristãos, a compreender de forma renovada as razões da nossa esperança, para extrair e partilhar ‘coisas novas e velhas’ do tesouro da fé”, declara o texto lido pelo monsenhor Ciampanelli.
Por fim, o Pontífice indicou que, “em vez de querer reconverter o mundo de hoje, precisamos converter a pastoral para que ela incorpore melhor o Evangelho”. Desta forma, é necessário ajudar o próximo a não perder o desejo de Deus, para que todos Lhe abram o coração e encontrem “o único que, hoje e sempre, dá paz e alegria ao homem”.
Fonte: Canção Nova