Evento que começa hoje em Assis reúne jovens de várias partes do mundo para propostas para uma nova economia, que coloque a pessoa no centro
De 22 a 24 de setembro, em Assis, na Itália, é realizado o evento Economia de Francisco, com a participação de cerca de 1000 jovens, entre eles 20 adolescentes, de 120 países. Os participantes irão assinar um pacto com o Papa Francisco para uma nova economia mundial. O Pontífice participará no sábado, 24.
O evento retorna após dois anos, devido à pandemia da Covid 19. Trata-se de um momento marcado por um encontro dos jovens com o Papa, visando ao empenho pela mudança do modelo econômico vigente no mundo inteiro.
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte (MG), considera que é preciso um amplo pacto educativo global. Para ele, prevalece no mundo, lamentavelmente, uma perspectiva econômica em que todos buscam acumular riquezas e poder egoisticamente, sem parâmetros éticos ou humanísticos.
“Essa centralidade do dinheiro desconsidera o equilíbrio essencial à vida no planeta, às relações humanas, à construção da paz. É preciso, pois, buscar novos modelos de economia. Nesses novos modelos, ao invés do dinheiro, a vida precisa ser o centro.”
O arcebispo considera que é preciso renovar a economia, priorizando a vida, e isso é tarefa urgente, pois o planeta já mostra sinais de esgotamento, com colapsos climáticos, pandemias e outros males. Para ele, essa mudança necessária não virá simplesmente das instâncias de decisão, embora sejam reconhecidamente importantes.
“A supervalorização do consumo e do lucro, que torna tudo descartável com muita rapidez, precisa ser substituída por um compromisso com a solidariedade, inspirando uma vivência alicerçada na amizade social.”
Um chamado à transformação
Segundo o sociólogo da PUC Minas, Eduardo Brasileiro, que coordenada a articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, o encontro desperta nos participantes o desejo de construir a mudança no mundo, pois é um chamado à transformação.
“É um mecanismo de encontro, onde todos podem construir profundas transformações a partir do que já faz: educadores, lideranças comunitárias, pequenos empreendedores, movimentos sociais.”
O sociólogo explica que o encontro faz as pessoas se despertarem para o fato de que a crise vivida em todo o mundo é produzida por estruturas de indiferença. Mais que um encontro, o evento se tornou um movimento social, considera Eduardo.
“Falamos de movimento porque nós latino-americanos sabemos que quem constrói a historia é o povo, dando sentido à sua forma de compreender as coisas. Quando somos movidos pelo pessimismo e pela descrença, caímos no ostracismo da indiferença.”
Novos paradigmas civilizatórios
Eduardo acredita que a Economia de Francisco e Clara, inspirada nos santos de Assis, ensina a como fazer uma conversão de caminho, o que pode ser chamado de novos paradigmas civilizatórios.
“Da competição para a colaboração, do banco para o caixa comum, de uma economia que empobrece para uma economia que prospere e lembro neste quesito que a prosperidade humana depende da prosperidade do planeta.”
Como coordenador da articulação brasileira do movimento, Eduardo percebe que o Papa convida jovens do mundo inteiro no sentido de criar um corpo cada vez maior na sociedade em torno da necessidade de mudança. “Ou mudamos ou morremos todos, e teremos de ir na raiz do problema: um modelo econômico que só beneficia os mais ricos, uma política coordenada por elites agrárias e da alta sociedade do consumo.”
Participantes do Brasil no evento
O filósofo e teólogo Augusto Luis Pinheiro Martins e a economista Ana Carolina Fernandes Alves são brasileiros que participam do evento em Assis. O casal de jovens é atuante na Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Cascavel (PR) e desenvolveu um projeto denominado ‘Educação financeira para a vida’. O projeto foi inscrito e selecionado para participar do encontro global.
“É um projeto que une finanças e espiritualidade. O objetivo é levar educação financeira para as famílias, comunidades e empresas com uma linguagem acessível, e partindo dos princípios da Doutrina Social da Igreja, das Espiritualidades Franciscana e Inaciana, unindo com as descobertas da Economia Comportamental.”
Augusto Luís e Ana Carolina estão com uma grande expectativa para o encontro. Para eles, vai muito além de um evento. “Se tornou um processo de mudanças, onde encaminhamos projetos lindíssimos com impactos sociais, ambientais e econômicos tendo como centro a dignidade humana e a ecologia integral. A viagem nos provocou muita ansiedade, pois há três anos estamos fazendo parte desta comunidade global de jovens convidados pelo Papa.”
O casal reconhece que os jovens brasileiros são muito diversos, pois representam um país continental. “Nosso país é riquíssimo em potencialidades, porém, marcado por uma economia da desigualdade, de injustiças sociais e concentração de renda. A Economia de Francisco oferece luzes para as trevas da fome, do desemprego e de nossos problemas sociais.”
Por fim, o casal afirma que há uma provocação do Papa a participar ativamente das mudanças, se envolver e propor coisas novas, olhando para os pobres não com um olhar assistencialista. “Como diz o Papa, é necessário colocá-los no centro, dialogar, ouvir e construir a partir deles. Essas são algumas contribuições da EoF no Brasil.”
Fonte: Canção Nova