Papa Francisco conversou com jornalista da Reuters, ocasião em que também afirmou que quer viajar para a Rússia e a Ucrânia
O Papa Francisco concedeu, no último sábado, 2, uma entrevista de 90 minutos, em sua casa na Santa Marta, ao correspondente da Agência Reuters, Phil Pullella. Na ocasião, tocou em assuntos como sua saúde, rumores de uma possível renúncia, viagem à Rússia e Ucrânia, como também sua visão diante das discussões sobre o aborto nos Estados Unidos.
Rumores sobre renúncia
Francisco, olhando para Celestino V, que renunciou em 1294, e Bento XVI, em 2013, falou de vários artigos e comentários de mídias que sugeriram a intenção de sua renúncia, mas o Papa negou essa interpretação. “Todas essas coincidências fizeram alguns pensarem que a mesma ‘liturgia’ aconteceria. Mas isso nunca passou pela minha cabeça. Não para o momento, não para o momento. Sério!”.
Ao mesmo tempo que disse isso, o Pontífice explicou que considera a possibilidade de renunciar, especialmente após a escolha feia por Bento XVI, caso sua saúde o impossibilite de continuar no serviço. Ao ser questionado pelo jornalista quando isso poderia acontecer, ele respondeu: “Não sabemos. Deus dirá”, com palavras semelhantes às usadas na sexta-feira, 1º de julho, na entrevista à agência Telam.
A saúde de Francisco
Falando de seu problema no joelho, o Santo Padre explanou acerca do adiamento da viagem à África e a necessidade de terapia. Ele disse que a decisão de adiamento lhe causou “muito sofrimento”, principalmente porque ele queria promover a paz tanto na República Democrática do Congo quanto no Sudão do Sul.
O Papa, observa o entrevistador, usou uma bengala para entrar na sala de recepção no térreo da Casa Santa Marta. E ele então forneceu detalhes sobre o estado de seu joelho, dizendo que sofreu “uma pequena fratura” quando deu um passo em falso enquanto um ligamento estava inflamado. “Estou bem, estou melhorando lentamente”, acrescentou, explicando que a fratura está cicatrizando, auxiliada por laser e terapia magnética.
Francisco, ao ser questionado sobre possível diagnóstico de câncer, negou. Há um ano foi submetido a uma operação de seis horas para remover uma seção do cólon devido a diverticulite, uma condição comum em idosos. “A operação foi um grande sucesso”, disse o Papa, acrescentando com um sorriso que “não me disseram nada” sobre o suposto câncer, que ele descartou como “fofoca do tribunal”. Ele então disse à Reuters que não queria uma operação no joelho porque a anestesia geral da cirurgia do ano passado teve efeitos colaterais negativos.
A Guerra
Abordando assuntos internacionais, Papa Francisco partilhou sobre a Ucrânia e a Rússia. Destacou que houve contatos entre o secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, sobre uma possível viagem a Moscou. Os sinais iniciais não eram bons.
Pela primeira vez, falou-se dessa possível viagem, há vários meses, disse o Papa, explicando que Moscou respondeu que não era o momento certo. No entanto, ele deu a entender que agora algo pode ter mudado. “Eu gostaria de ir para a Ucrânia e queria ir para Moscou primeiro. Trocamos mensagens sobre isso, porque pensei que se o presidente russo tivesse me concedido uma pequena janela para servir à causa da paz … E agora é possível, após meu retorno do Canadá, poder ir para a Ucrânia . A primeira coisa a fazer é ir à Rússia para tentar ajudar de alguma forma, mas gostaria de ir às duas capitais”.
O aborto nos Estados Unidos
Pullella tocou na questão da decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que revogou a histórica decisão Roe v. Wade que estabeleceu o direito da mulher ao aborto. Francisco disse que respeitou a decisão, mas não tinha informações suficientes para falar sobre isso do ponto de vista legal. Ele também condenou veementemente o aborto, comparando-o, como havia feito muitas vezes no passado, a “contratar um assassino”. “Eu pergunto: é legítimo, é certo, eliminar uma vida humana para resolver um problema?”
O Papa também foi convidado a comentar o debate em curso nos Estados Unidos sobre a possibilidade de que um político católico, pessoalmente contrário ao aborto, mas que apoia o direito de escolha de outros, possa receber a comunhão. A presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, por exemplo, foi proibida de receber a Eucaristia do arcebispo de sua diocese, São Francisco, mas ela se comunica regularmente em uma paróquia de Washington, e na semana passada recebeu a comunhão de um padre durante Missa na Basílica de São Pedro presidida pelo Pontífice.
“Quando a Igreja perde sua natureza pastoral, quando um bispo perde sua natureza pastoral, isso causa um problema político”, comentou o Papa. “É tudo o que posso dizer”.
Fonte: Canção Nova