No dia de São Francisco de Sales, Francisco divulgou tradicionalmente sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações: “Testemunhando a verdade no amor” (Ef 4, 15).
No dia em que a Igreja celebra São Francisco de Sales, patrono dos escritores e dos jornalistas, o Papa Francisco tradicionalmente divulga a sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações 2023. Este ano não foi diferente, o texto desta terça-feira, 24, teve como tema “Falar com o coração”, com ênfase no trecho bíblico: “Testemunhando a verdade no amor” (Ef 4, 15).
Em sua mensagem, o Pontífice recordou que nos anos anteriores refletiu sobre os verbos “ir” e “ver”, por isso escolheu destacar neste o “falar com o coração”. “Foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora”, sublinhou.
O Santo Padre afirmou que não se deve ter medo de proclamar a verdade, mas sim de proclamá-la sem amor, sem coração. O programa do cristão, destacou o Papa, citando Bento XVI, é “um coração que vê”, ou seja, é primordial olhar para o outro com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito, em vez de julgar.
Tesouro do coração
Francisco sublinhou que Jesus ressaltou que cada árvore se conhece pelo seu fruto (cf. Lc 6, 44). De igual modo, o Pontífice frisou que “o homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro, tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração” (6, 45).
Para poder comunicar testemunhando a verdade no amor, é preciso purificar o próprio coração, indicou Francisco. “Só ouvindo e falando com o coração puro é que podemos ver para além das aparências”, comentou.
Comunicar cordialmente
Comunicar cordialmente, explicou o Santo Padre, quer dizer que a pessoa que lê ou escuta é levada a deduzir a participação do escritor ou locutor nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens deste tempo. “Quem assim fala, ama o outro, pois preocupa-se com ele e salvaguarda a sua liberdade, sem a violar”, disse.
Para o Papa, neste período da história marcado por polarizações e oposições – de que, infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune – o empenho em prol duma comunicação “de coração e braços abertos” não diz respeito exclusivamente aos agentes da informação, mas é responsabilidade de cada um.
“Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor” – Papa Francisco
Francisco defendeu que “falar amável” abre uma brecha até nos corações mais endurecidos. Ele prosseguiu alertando que a comunicação não deve fomentar uma aversão que exaspere, gere ódio e conduza ao confronto, mas sim que ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade onde vivem.
A comunicação de coração a coração
O Papa destacou que São Francisco de Sales, a quem ele recentemente dedicou a Carta Apostólica Totum amoris est, é um grande exemplo deste “falar com o coração”.
“Mente brilhante, escritor fecundo, teólogo de grande profundidade”, Francisco de Sales foi bispo de Genebra no início do século XVII, em anos difíceis marcados por animadas disputas com os calvinistas. A sua mansidão, humanidade e predisposição a dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus”, comentou.
Deste santo, prosseguiu Francisco, se pode dizer que as suas “palavras amáveis multiplicam os amigos, a linguagem afável atrai muitas respostas agradáveis” (Sir 6, 5). “Aliás uma das suas afirmações mais célebres – ‘o coração fala ao coração’ – inspirou gerações de fiéis. (…) ‘Basta amar bem para dizer bem’: constituía uma das suas convicções”.
Inspiração para os comunicadores
Para São Francisco de Sales, indicou o Pontífice, “somos aquilo que comunicamos”. Uma lição contracorrente hoje, opinou o Santo Padre, num tempo em que, como se pode experimentar particularmente nas redes sociais, a comunicação é muitas vezes instrumentalizada para que o mundo veja as pessoas, não por aquilo que elas são, mas como desejariam ser.
“Possam os agentes da comunicação sentir-se inspirados por este Santo da ternura, procurando e narrando a verdade com coragem e liberdade, mas rejeitando a tentação de usar expressões sensacionalistas e agressivas”.
Falar com o coração no processo sinodal
Segundo o Papa, também na Igreja há grande necessidade da escuta. “É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros. Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura”, indicou.
A Igreja tem urgente necessidade de uma comunicação que inflame os corações, que seja bálsamo nas feridas e ilumine os caminhos de todos, garantiu o Santo Padre. Francisco afirmou que um de seus sonhos é uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio da Boa Nova.
“Uma comunicação que coloque no centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado, e esteja mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial. Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor”, complementou.
Desarmar os ânimos promovendo uma linguagem de paz
Por fim, Francisco defendeu que atualmente há a necessidade de falar com o coração para promover uma cultura de paz, diálogo e reconciliação. Ainda de acordo com o Pontífice, no dramático contexto de conflito global, urge assegurar uma comunicação não hostil.
“Precisamos de comunicadores prontos a dialogar, ocupados na promoção dum desarmamento integral e empenhados em desmantelar a psicose bélica que se aninha nos nossos corações”. – Papa Francisco
O Papa recordou que também agora, como há 60 anos, a humanidade vive uma hora escura temendo uma escalada bélica, que deve ser travada o mais depressa possível, inclusivamente em termos de comunicação. O Santo Padre exortou então uma comunicação que ajude a criar as condições para se resolverem as controvérsias entre os povos.
“Como cristãos, sabemos que é precisamente na conversão do coração que se decide o destino da paz, pois o vírus da guerra provém do íntimo do coração humano. Do coração brotam as palavras certas para dissipar as sombras dum mundo fechado e dividido e construir uma civilização melhor do que aquela que recebemos”.
Fonte: Canção Nova