Consolação autêntica foi o tema da Audiência Geral de hoje; Papa disse que é importante fazer o exame de consciência diário: “O que aconteceu no meu coração?”
“A consolação autêntica” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 30, realizada na Praça São Pedro. Na ocasião, refletindo sobre o discernimento, tomou como base a passagem dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola que trata dos pensamentos bons e ruins.
“Se nos pensamentos tudo é bom, o princípio, o meio e o fim, e se tudo está orientado para o bem, este é um sinal do anjo bom. Por outro lado, pode ser que no decurso dos pensamentos se apresente algo mau, ou que distraia, ou menos bom do que aquilo que antes a alma se propusera fazer, ou algo que debilite a alma, que a torne inquieta, que a ponha em agitação e lhe tire a paz, a tranquilidade e a calma que antes tinha: então, este é um sinal claro de que tais pensamentos vêm do espírito maligno”.
O Pontífice sublinhou que existe uma verdadeira consolação, que foge de outras que podem supostamente ser e não são. Com isso, afirmou a necessidade de se entender bem o percurso da consolação, para onde vai, para onde leva e se chegar a algo que não é bom, não se trata de algo verdadeiro.
O princípio do pensamento
“O que significa que o princípio está orientado para o bem? Por exemplo, tenho o pensamento de rezar, e observo que se acompanha ao afeto pelo Senhor e pelo próximo, convida a realizar gestos de generosidade, de caridade: é um bom princípio. No entanto, pode acontecer que aquele pensamento surja para evitar um trabalho ou uma tarefa que me foi confiada: sempre que devo lavar a louça ou limpar a casa, vem-me uma grande vontade de começar a rezar! A oração não é uma fuga dos nossos afazeres; pelo contrário, é uma ajuda para realizar o bem que somos chamados a praticar, aqui e agora. Isto a propósito do princípio”, disse.
O Santo Padre ainda explicou que Santo Inácio dizia que o princípio, o meio e o fim devem ser bons. “O princípio é este: tenho vontade de rezar para não lavar a louça. Então, primeiro, lava a louça e depois vai rezar”, frisou.
O meio do pensamento
Explicando ainda sobre as partes do pensamento e a verdadeira consolação, Francisco deteve-se no meio, o que vem depois do que já foi começado anteriormente.
Trazendo a figura do fariseu que tende a agradar a si mesmo com a oração e a desprezar o outro com um animo ressentido e azedo, o Papa apontou ser sinais de que o espírito maligno utilizou aquele pensamento como chave de acesso para entrar no coração de quem reza. Francisco acenou que esse tipo “de oração termina mal”, pois é “uma consolação de rezar para se sentir como um pavão diante de Deus. Este é um meio que não funciona”.
O fim da oração
Explicando sobre o fim da oração, o Pontífice disse que é o lugar onde chega o pensamento. “Pode acontecer que eu trabalhe arduamente por uma obra boa e meritória, mas isto impele-me a deixar de rezar, descubro-me cada vez mais agressivo e zangado, considero que tudo depende de mim, a ponto de perder a confiança em Deus. Evidentemente, aqui há a ação do espírito maligno. Eu começo a rezar e na oração me sinto onipotente. Portanto, examinar bem o percurso dos próprios sentimentos, e o percurso dos bons sentimentos, da consolação a partir do momento que eu quero fazer alguma coisa”.
Segundo o Papa, “o estilo do inimigo”, do demônio, é o estilo que consiste em apresentar-se de maneira sorrateira e disfarçada: começa a partir daquilo que é mais querido e depois, pouco a pouco, atrair a si: “o mal entra secretamente, sem que a pessoa perceba. E, com o passar do tempo, a suavidade torna-se dureza: aquele pensamento revela-se pelo que realmente é”.
A importância do exame de consciência
Francisco disse ser indispensável esse exame de consciência sobre a origem e a verdade dos próprios pensamentos. Por tratar-se de um convite para o aprendizado diante das experiências para não continuar repetindo os mesmos erros.
“Quanto mais nos conhecemos, mais sentimos por onde entra o espírito maligno, as suas senhas, as portas de entrada do nosso coração, que são os pontos onde somos mais sensíveis, de modo a prestar-lhes atenção no futuro. Cada um de nós sabe onde está os pontos mais sensíveis, os pontos mais frágeis da própria personalidade e dali entra o maligno e nos leva para a estrada errada, ou nos tira da estrada certa”.
O Papa frisou que é importante fazer “o exame de consciência diário: antes de terminar o dia, parar. Se perguntar, o que aconteceu no meu coração? Cresceu ou foi uma estrada na qual passou de tudo? Trata-se do precioso esforço de reler a experiência sob um ponto de vista particular. É importante compreender o que aconteceu, é sinal de que a graça de Deus age em nós, ajudando-nos a crescer em liberdade e consciência. Não estamos sozinhos, o Espírito Santo está conosco”.
Antes de concluir, o Papa disse que a consolação autêntica é uma espécie de confirmação de que foi cumprido o que Deus quer de nós, que os seus caminhos foram percorridos nas estradas da vida, da alegria, da paz. “Com efeito, o discernimento não é simplesmente sobre o bem, nem sobre o máximo bem possível, mas sobre o que é um bem para mim aqui e agora: é nisto que sou chamado a crescer, colocando limites a outras propostas, atraentes, mas irreais, para não ser enganado na busca do verdadeiro bem”.
O Santo Padre finalizou sua reflexão acreditando ser preciso aprender a ler no livro do coração o que aconteceu durante o dia. “Façam isso. São apenas dois minutos, mas garanto a vocês que lhes fará bem”.
Fonte: Canção Nova