Projeto consiste na doação de cestas básicas; religiosos comentam atual situação da capital do Amazonas
A pandemia tem gerado consequências para muitas famílias do Brasil e do mundo. Entre elas está o desemprego e a fome. Em Manaus foram dois momentos bem críticos – logo no início da pandemia no final de abril de 2020 e no início deste ano com o “colapso do oxigênio”. É o que recorda o assistente eclesiástico da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) Brasil, frei Rogério Severino.
A cidade não está mais nas manchetes como esteve no início do ano, no entanto, o religioso afirma que a situação de pobreza permanece.
O frade capuchinho que atua nas comunidades do Amazonas, frei Paolo Maria Braghini, comenta que a pandemia, além de gerar fome, gera também dramas psicológicos. “Muitos olham o futuro e não sabem como manter os filhos, a própria família e isso é realmente dramático”.
Diante disso, os frades capuchinhos e a ACN se mobilizaram em prol das famílias que estão à beira do desespero. Ambos fazem parte de um projeto para a doação de cestas básicas por um período de 7 meses.
Parceria desde 1973
A parceria, de acordo frei Paolo, é antiga. “A AIS nos ajuda em missões há anos e de várias formas. Quando percebemos essa urgência, esse grito das famílias carentes, (…) nosso coração nos levou a olhar de imediato a essa grande instituição parceira. Por isso nos direcionamos a ela para pedir essa ajuda”.
Frei Rogério conta que a ACN ajuda a região amazônica desde 1973. Na época, ela enviou 300 caminhões para a região, permitindo assim que muitas regiões recebessem a visita de um missionário pela primeira vez.
“Já naquela época os missionários capuchinhos estavam envolvidos nesse projeto. Essa parceria continua até os dias de hoje. Iniciativas como a tradução da Bíblia da Criança para línguas indígenas, barcos para os missionários e mesmo ajuda existencial para que os frades capuchinhos possam manter suas atividades fazem parte dos projetos apoiados pela ACN”, relata.
Projeto
Frei Paolo conta como começou a iniciativa de criação da rede de solidariedade. Segundo ele, foram muitas as famílias que pediram ajuda aos capuchinhos no início deste ano.
“Famílias não conseguiam mais ter alimentos suficientes para alimentar seus filhos. Foi aí que veio de imediato em nosso coração a ACN”, recorda. Surgiu, então, o projeto que ajuda aproximadamente 100 famílias de quatro periferias de Manaus. Ele já dura quatro meses.
O assistente eclesiástico da ACN sublinha que o andamento do projeto se dá graças a Deus e à caridade dos benfeitores da fundação.
As famílias ajudadas, de acordo com o frei Rogério, recebem não apenas o alimento, mas também a assistência espiritual dos frades capuchinhos.
O religioso relata que, durante esse período de pandemia, muitos projetos têm chegado para a ACN. “A Igreja sofre a falta de recursos para dar continuidade ao seu trabalho missionário. Para isso contamos que mais pessoas possam ajudar”.
É possível ajudar realizando uma doação pelo site acn.org.br ou mesmo ligando para 0800 77 099 27.
A solidariedade e a Igreja
“A pandemia está levando ao agravamento de uma crise econômica que já existia”, observa frei Paolo. Para o frade capuchinho, se hoje não houvesse a Igreja Católica, instituições religiosas e voluntários, o povo estaria em uma situação bem pior.
No entanto, o religioso comenta que é importante destacar que esta crise sanitária também está se tornando uma “pandemia da solidariedade”. “Com certeza a obra de Deus está acontecendo em um momento tão dramático”.
A partilha do alimento, princípio da iniciativa, está presente em muitos trechos do Evangelho, comenta frei Rogério. Jesus sempre começava essa partilha a partir da oferta de alguém, como o menino que colocou os 5 pães e 2 peixes nas mãos de Jesus e viu aquela pequena oferta alimentar milhares (Jo 6, 1-15), recorda.
“Hoje somos chamados a fazer o mesmo. A ACN é uma obra pastoral e faz parte do nosso trabalho ensinar e incentivar as pessoas a partilhar o que têm. Não pensamos apenas em quem precisa de ajuda material, mas pensamos também naqueles que precisam de ajuda espiritual, aqueles que encontrarão a mesma felicidade do menino que entregou os pães e os peixes”, reforça.
Segundo o assistente eclesiástico da ACN, muito tem se falado do termo “linha de frente”. A Igreja, com suas fundações, comunidades, congregações e todos os seus membros está na linha de frente do amor, afirma.
A ACN no Brasil
O Brasil é um dos países mais ajudados pela ACN, frisa seu assistente eclesiástico. Graças aos benfeitores, frei Rogério conta que a fundação tem conseguido ajudar centenas de religiosas, sacerdotes e missionários a darem continuidade às suas atividades, mesmo em meio à pandemia, e respeitando todos os protocolos.
“Nos últimos anos, permitimos também a formação de seminaristas e noviças; bem como ajudamos com meios de transporte, como barcos, carros, motos e até bicicletas, para que o Evangelho não seja impedido de chegar nos lugares mais distantes”, revela.
A construção e reforma de mosteiros contemplativos, igrejas e capelas também fazem parte do trabalho da ACN. “Acreditamos que apenas com muita oração conseguiremos enxugar as lágrimas do Cristo que ainda hoje chora nos rostos de nossos irmãos”.
Fonte: Canção Nova