O Papa escreve à direção do diário nacional italiano Il Messaggero, que está celebrando seu 145º aniversário: promover a dimensão ética do jornalismo em uma era de tantas fake news. O Ano Santo, um tempo para reacender a esperança por um mundo mais fraterno.
É com particular alegria que envio minhas saudações ao senhor e a seus colaboradores por ocasião do 145º aniversário da fundação do Il Messaggero, com satisfação pela reflexão que estão realizando nessa ocasião. Vosso jornal diário nacional, que atravessou a história italiana desde o final do século XIX até os dias de hoje, relatando-a, colhendo as diferentes faces do país e refletindo sobre os desafios que o marcaram, ainda representa um ponto forte do jornalismo e da informação.
Uma tarefa, a vossa, que gostaria de incentivar e promover especialmente por sua dimensão ética, já que nos encontramos em uma época social e cultural em que está se tornando cada vez mais difícil discernir a verdade distinguindo-a das fake news.
No contexto dessa comemoração, tende-vos debruçando também sobre o significado do próximo Jubileu de 2025, um evento que afetará de perto a cidade de Roma, mas que afetará a Europa e o mundo inteiro. A Cidade Eterna se tornará mais uma vez o polo de atração para relançar a mensagem cristã e reacender a esperança para aqueles que, nas dificuldades da vida e nos anseios interiores, virão até aqui como peregrinos. Da rica tradição bíblica herdamos o significado do ano jubilar, em primeiro lugar como um tempo favorável e propício para colocar a reconciliação com Deus e uns com os outros de volta no centro de nossas vidas, rompendo as correntes do mal, da escravidão e da violência, que desfiguram a beleza da dignidade humana.
Nesses momentos, a Igreja católica deseja lembrar a importância de repensar a própria existência e pedir perdão por suas falhas, na certeza de que o Deus da misericórdia e da compaixão vem nos encontrar e nos reconciliar. No entanto, não se trata – é bom lembrar – apenas de uma prática religiosa como um fim em si mesma, mas de um processo que, partindo dos indivíduos, envolve todas as relações interpessoais, com a intenção de promover uma visão de sociedade mais justa e fraterna, na qual os erros e as faltas são perdoados, os que erraram são ajudados a se recuperar, a justiça é restabelecida e, dessa forma, promove-se a reconciliação e a construção de um mundo mais solidário e, acima de tudo, mais humano. Nesse sentido, o Jubileu não tem apenas um significado religioso, mas também implica um renascimento ético, moral, social e cultural capaz de curar as feridas causadas pela injustiça e pelas várias formas de violência, superar as desigualdades econômicas e a discriminação, refundar um clima coletivo de confiança e esperança e iniciar processos de crescimento humano integral, com atenção especial aos mais fracos e vulneráveis.
É, portanto, um Ano para dar corpo e forma ao tema bíblico da “libertação”, em todas as suas implicações antropológicas e comunitárias: empreender ações e caminhos capazes de libertar pessoas, cidades, nações e povos de todas as formas de escravidão e degradação. Será então particularmente importante refletir sobre o que vivemos e sofremos durante a pandemia “que não só nos fez experimentar o drama da morte na solidão, a incerteza e a temporariedade da existência, mas também mudou nosso modo de vida”; “com relação a isso, será necessário viver o próximo Jubileu com entusiasmo e participação, o que pode favorecer muito a reconstituição de um clima de esperança e confiança, como sinal de um renascimento renovado do qual todos sentimos a urgência” (Carta a S. Exa. o Arcebispo Fisichella para o Jubileu de 2025).
Concluo agradecendo-vos pelo valioso serviço que prestais à comunidade, renovando meus melhores votos para este importante evento. Saúdo-vos enviando a cada um a minha Bênção. E peço-vos, por favor, que rezem por mim.
Cidade do Vaticano, 6 de junho de 2023
Francisco
Fonte: Vatican News