A principal fonte sobre ele são lendas e relatos populares, mas há também elementos trazidos pela arqueologia.
Comecemos com as controvérsias: muitos historiadores não acreditam que São Nicolau tenha sido de fato uma pessoa real. Assim como as crianças a certa altura começam a duvidar da existência do Papai Noel, também alguns pesquisadores duvidam da existência da própria pessoa que teria inspirado o mito do Bom Velhinho.
Relatos orais
De fato, não existem documentos escritos contemporâneos a ele que registrem a sua existência: tudo o que se sabe sobre São Nicolau veio de lendas difundidas depois da sua morte. Sua primeira hagiografia, escrita por outro desconhecido chamado Miguel, o Arquimandrita, remonta, aproximadamente, ao ano 700 – cerca de três séculos e meio após o fim da existência terrena do santo. Só este fato já leva alguns historiadores a afirmarem que São Nicolau foi apenas uma lenda.
No entanto, é justo observar que este é o mesmo tempo que separa Alexandre, o Grande, dos seus principais biógrafos; por si só, o argumento da distância cronológica não seria suficiente, portanto, para “comprovar” a inexistência de São Nicolau. Além disso, a história oral foi, durante muito tempo, a forma mais comum de transmitir a vida de um indivíduo – o que evidentemente acarreta muitas imprecisões, omissões, acréscimos e distorções, mas não necessariamente invalida todos os dados.
Arqueologia
No caso de São Nicolau, as investigações mais embasadas sobre a sua vida têm-se baseado em trabalhos arqueológicos. Uma equipe turca declarou, recentemente, que, durante escavações em Demre, na costa sul da atual Turquia, encontrou pistas de um templo preexistente sob a atual igreja dedicada a São Nicolau, que remonta ao século VI – ou seja, a 1.500 anos atrás.
O que os arqueólogos descobriram são os restos da primeira igreja, incluindo um piso intacto, de mármore, com inscrições em grego, que pode apontar o local exato do túmulo original do santo. No mesmo templo, foi achado também um mural que mostra Jesus segurando a Sagrada Escritura com a mão esquerda e dando a bênção com a direita. Cabe lembrar que, no século IV, São Nicolau era o bispo de Mira, nome antigo daquela cidade.
Depois da sua morte, o seu túmulo passou a ser visitado por peregrinos cristãos procedentes de várias regiões. Já no século XI, marinheiros do sul da Itália abriram a sepultura e transferiram os restos mortais de São Nicolau, o que fez com que a localização do túmulo se perdesse no tempo. Os indícios encontrados agora pelos arqueólogos levam a crer que o túmulo de São Nicolau ocupava um lugar de destaque dentro da igreja original.
Lendas e milagres
É certo, de qualquer forma, que a principal fonte sobre São Nicolau são as lendas e relatos populares a seu respeito, envolvendo milagres e acontecimentos extraordinários.
Entre fatos e lendas, conta-se que ele nasceu na Lícia, atual a Turquia, numa família rica. Seus pais teriam morrido ajudando os doentes durante uma epidemia, deixando-lhe uma grande herança que o jovem teria repartido com os pobres. Em seguida, tornando-se monge, Nicolau teria peregrinado ao Egito e à Terra Santa e, ao retornar ao que é hoje o território turco, chegou à cidade de Mira, onde o clero discutia no templo sobre quem deveria ser eleito o novo bispo. Nicolau, que já era sacerdote, teria sido escolhido por aclamação unânime.
Foi quando, historicamente, começou uma grande perseguição aos cristãos promovida pelo imperador romano Diocleciano. Nicolau teria sido preso e só libertado quando o imperador Constantino subiu ao trono.
Segundo um depoimento atribuído a São Metódio, o bispo Nicolau manteve Mira livre da heresia ariana, que se espalhava com ímpeto e negava a divindade de Jesus Cristo. O bispo era também um notório defensor da justiça e teria impedido a execução de três jovens, vítimas de um suborno do governador Eustácio.
Padroeiro das crianças
Um relato bastante mais extraordinário dá conta de que três meninos teriam sido assassinados e jogados num barril de sal, mas, pela oração de São Nicolau, teriam voltado à vida. Foi devido a essa narrativa popular que o santo passou a ser considerado padroeiro das crianças – sendo frequentemente representado com três pequenos ao seu lado.
Papai Noel?
Outra lenda narra que, em Mira, um morador em extrema pobreza teria chegado, por desespero, a submeter as suas três filhas virgens à prostituição. Procurando evitar que isto acontecesse, São Nicolau teria jogado pela chaminé da casa daquela paupérrima família uma bolsa com moedas de ouro, o que teria permitido que ao menos a filha mais velha se casasse. Tentando fazer o mesmo em benefício das outras duas, o bispo acabou sendo visto pelo pai das jovens, que lhe agradeceu pela sua caridade e divulgou o episódio pela vizinhança. É daí que nasceria um dos elementos inspiradores do Papai Noel.
A figura do Papai Noel, porém, é uma obra de marketing muito mais recente, inspirada em características aleatórias de São Nicolau e no acréscimo de muitos outros elementos fictícios – como a sua suposta relação com o Polo Norte e o uso de um trenó puxado por renas.
O mito do Papai Noel, hoje explorado comercialmente em todo o mundo, não guarda relação alguma com o Natal cristão, uma vez que não apenas não faz qualquer menção a Jesus Cristo como, sobretudo, desvia explicitamente o foco do Natal, esvaziando-o do seu verdadeiro significado.
Morte e culto
Considera-se que a data de falecimento de São Nicolau é o dia 6 de dezembro, que, por isso mesmo, é também a data da sua festa litúrgica. Há inconsistências, porém, quanto ao ano: segundo as diferentes versões, teria sido entre 343 e 352.
No século VI, o imperador Justiniano construiu uma igreja em Constantinopla, atual Istambul, em honra de São Nicolau, o que ajudou a popularizar ainda mais o culto ao santo – que veio a se tornar padroeiro da Rússia, da Grécia e da Turquia, além de ser especialmente venerado em diversas cidades da Itália, da Holanda, da Suíça, da Alemanha, da Áustria e da Bélgica.
Fonte: Aleteia