Papa Francisco pediu aos consultores empresariais que direcionem suas escolhas considerando os valores evangélicos, a promoção integral das pessoas e o cuidado com a casa comum
O Papa Francisco recebeu em audiência nesta quinta-feira, 21, no Vaticano, consultores empresariais do grupo Deloitte, empresa presente em 150 países que atua com consultoria, aconselhamento e assistência a outras organizações na tomada de decisões. Aos profissionais reunidos por ocasião de um encontro global, o Papa Francisco iniciou seu discurso destacando o sofrimento e a falta de dignidade com que muitas pessoas vivem no mundo hoje, sem saúde, nutrição, educação e outros direitos fundamentais. Para Francisco, isso é fruto do agravamento das condições ambientais.
“A humanidade está globalizada e interconectada, mas a pobreza, a injustiça e as desigualdades permanecem”, lamentou o Papa. Diante deste quadro, Francisco apontou aos consultores um caminho para configurar o trabalho de consultoria em prol de “um mundo mais habitável, mais justo e fraterno”, baseado em três aspectos.
Escolhas em prol de uma ecologia integral
O primeiro é a consciência de que é possível deixar uma marca positiva, que vai na direção do desenvolvimento humano integral. “Os seus conhecimentos, as suas experiências, as suas competências e a vastidão da rede das suas relações constituem um imenso patrimônio imaterial que ajuda empresários, banqueiros, gestores, administradores públicos a compreender o contexto, a imaginar o futuro e a tomar decisões”.
Francisco enfatizou que os consultores devem estar cientes deste “poder” de influenciar empresários na tomada de decisões e que este poder deve ser constantemente acompanhado pelo desejo de direcionar análises e propostas para escolhas coerentes com o “paradigma da ecologia integral”. “Uma boa pergunta para se fazer ao avaliar o que funciona e o que não funciona – destacou Francisco – seria: que mundo queremos deixar para nossos filhos e netos?”
Respostas coerentes com a visão evangélica
A segunda sugestão do Papa aos profissionais foi para que assumam e exerçam a “responsabilidade cultural”. Para Francisco, esta é baseada na qualidade profissional, antropológica e ética, capaz de sugerir respostas coerentes com a visão evangélica da economia e da sociedade, ou seja, com a doutrina social católica.
“Trata-se de avaliar os efeitos diretos e indiretos das decisões, o impacto no negócio mas, antes mesmo, nas comunidades, nas pessoas, no meio ambiente”. E citou um trecho da encíclica Fratelli tutti: “As várias culturas, que produziram a sua riqueza ao longo dos séculos, devem ser preservadas para que o mundo não empobreça. E isso sem deixar de estimulá-los a deixar emergir algo novo de si mesmos no encontro com outras realidades”.(Enc. Fratelli tutti, 134).
Promoção integral da pessoa humana
A terceira sugestão de Francisco foi a valorização da diversidade. Ele citou o termo “biodiversidade empresarial” para referir-se à garantia da liberdade da empresa e liberdade de escolha para os clientes, consumidores. “Isso é o que acontece na natureza e também pode acontecer nos ‘ecossistemas’ econômicos’”, explicou o Papa.
Francisco recordou as crises severas que o mundo enfrentou como as econômicas, a pandemia, guerras e mudanças climáticas e que escolhas inescrupulosas causaram sofrimento para muitos. Diante deste ambiente difícil e incerto, pediu aos consultores um olhar e uma visão integral, que considere a dignidade das pessoas, cause impacto positivo nas comunidades e cuide da casa comum.
“De fato, nenhum lucro é legítimo quando falha o horizonte da promoção integral da pessoa humana, da destinação universal dos bens e da opção preferencial pelos pobres”, destacou.
O Papa finalizou sua mensagem encorajando estes profissionais a tornarem-se “consultores integrais, a cooperar na reorientação da forma de estar neste nosso planeta que adoecemos, no clima e nas desigualdades.
Fonte: Canção Nova