O papa Francisco aprovou uma nova política para os investimentos financeiros da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano para que estejam sempre alinhados com os princípios da Doutrina Social da Igreja. Desta forma, a Santa Sé não poderá investir em empresas abortistas, por exemplo.
O novo regulamento unificado entrará em vigor a partir de 1º de setembro e será regulamentado pelo Comitê para os Investimentos instituído pela Constituição Apostólica Praedicate Evangelium.
A Secretaria para a Economia explicou em comunicado oficial que a nova política “pretende assegurar que os investimentos sejam destinados a contribuir para um mundo mais justo e sustentável; protejam o valor real do patrimônio próprio da Santa Sé, gerando um retorno suficiente a fim de contribuir de forma sustentável para o financiamento de suas atividades”.
Nesse sentido, os investimentos devem estar “alinhados com os ensinamentos da Igreja católica, com exclusões específicas de investimentos financeiros que contradizem seus princípios fundamentais, tais como a santidade da vida ou a dignidade do ser humano ou o bem comum”.
No ano passado a Santa Sé esteve envolvida em uma polêmica acerca de investimentos contrários à doutrina. A Congregação para a Doutrina da Fé ensinou que não pode haver bênção para uniões homossexuais porque “a Igreja não abençoa o pecado”. O cantor e compositor inglês Elton John, militante do movimento LGBT, tuitou: “como pode o Vaticano se recusar a abençoar casamentos gays porque são pecado e ainda lucrar alegremente com os milhões investidos em Rocketman, um filme que celebra como eu encontrei a felicidade no meu casamento com David?”
Em 2019, a Santa Sé investiu US$ 4,5 milhões em dois filmes, um dos quais foi Rocketman, sobre a vida de Elton John.
A Secretaria para a Economia, comandada pelo padre jesuíta Juan Antonio Guerrero Alves, disse que o Comitê fará, através da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), “as consultas apropriadas visando a implementação da estratégia de investimento e avaliará a adequação das escolhas, com particular atenção à conformidade dos investimentos feitos com os princípios da Doutrina Social da Igreja, assim como com os parâmetros de rendimento e de risco segundo a Política de Investimento”.
O novo regulamento foi discutido no Conselho para a Economia com a assessoria de especialistas e é dirigido aos chefes dos Dicastérios da Cúria Romana, aos responsáveis pelas instituições e organismos ligados à Santa Sé.
A nova política de investimentos foi aprovada ad experimentum por cinco anos e com um “período de moratória para se adaptar aos critérios propostos”.
Os investimentos da Santa Sé devem sempre ser direcionados para “atividades financeiras de natureza produtiva, excluindo as de natureza especulativa” e devem ser guiados especialmente “pelo princípio de que a escolha de investir em um lugar e não em outro, em um setor produtivo e não em outro, é sempre uma escolha moral e cultural”.
Da mesma forma, o comunicado da Secretaria da Economia destacou que “as instituições curiais terão que confiar seus investimentos financeiros à APSA, transferindo sua própria liquidez a ser investida – ou seus próprios títulos depositados em bancos estrangeiros ou no próprio IOR – para a conta da APSA criada no IOR para este fim”.
A APSA, como instituição que administra os bens da Santa Sé, estabelecerá “um fundo único para a Santa Sé, no qual confluirão os investimentos nos diversos instrumentos financeiros e terá uma conta para cada instituição, processando os relatórios e pagando os rendimentos”.
Fonte: ACI Digital