Conheça as ações da Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano e porque Santa Bakhita é referência nesse enfrentamento.
Nesta quarta-feira, 8, dia em que a Igreja comemora a memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita, também é celebrado o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas.
A data foi instituída pelo Papa Francisco em 2015. Na ocasião, o Papa se referiu ao tráfico de pessoas como “uma ferida profunda, infligida pela vergonhosa busca de interesses econômicos sem nenhum respeito pela pessoa humana”.
No Brasil, a Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano foi criada em 2014. O trabalho é voltado à conscientização, sensibilização e articulações de combate e prevenção em todo o país.
“Nos últimos tempos as violações estão sendo mais severas, sobretudo no contexto da discriminação e abuso de vulnerabilidade. Nosso compromisso é com a vida e dignidade de nossos irmãos e irmãs vítimas do tráfico de pessoas, caminhando junto pela dignidade humana, mobilizando ações de formação e incidência política.”, explica a Irmã Maria Bernardete Macarini, religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria e que integra a comissão.
Conscientização social
Segundo a Irmã Bernadete, na prática, a comissão vem realizando ações de mobilização, conscientização e sensibilização do tema para a sociedade em geral através de processos formativos realizados junto às pastorais, organizações e instituições que promovem iniciativas ao tráfico de pessoas.
“Atua para além do interno da Igreja, procurando sensibilizar a sociedade em geral sobre este crime que destrói o sonho de muitos de nossos irmãos e irmãs, principalmente meninas e mulheres que são as maiores vítimas.”
Para a religiosa, um dos papéis mais importantes é a escuta dos gritos e angústias de irmãos que sofrem diversas formas de violência como o grito da fome, do desemprego, da falta de políticas públicas. “Neste ano de 2022 foram priorizados seminários de formação nos diversos regionais o que tem tornado o tema mais conhecido para a sociedade em geral e tem sido um canal de sensibilização e conscientização”.
Material formativo
Em 2022, a CNBB lançou um caderno para o enfrentamento ao Tráfico de Pessoas intitulado “ver julgar e agir”. O material visa conscientizar, animar e fortalecer as ações existentes na Igreja, em conjunto com a sociedade civil e outros organismos envolvidos nesta causa.
“Somos convidados a olhar as causas do tráfico de pessoas, suas modalidades e sua forma de persuadir a pessoa humana. Ele acontece de forma silenciosa. É difícil imaginar que uma pessoa possa ser tratada como mercadoria, que mulheres são aliciadas com promessas de um trabalho melhor e acabam caindo na prostituição, que trabalhadores em busca de uma vida melhor acabam caindo na escravidão.”
Na origem do tráfico de pessoas existe um problema estrutural, como a desigualdade que gera a pobreza, o racismo, o machismo, explica a irmã Bernadete. “Só é possível atacar o tráfico de pessoas se olharmos para suas causas e atacá-las de forma ampla e integrada, construindo uma sociedade mais justa e igualitária”.
Neste dia 8 de fevereiro, informa a religiosa, a CNBB se une a outras redes de enfrentamento ao tráfico de pessoas para o 9º dia Internacional de Oração e reflexão contra o Tráfico de Pessoas que tem como tema “Caminhar pela Dignidade”. “Como Igreja, queremos ser sinal de vida e esperança em meio a tanta dor e sofrimento”.
Santa inspiradora contra o tráfico humano
Santa Josefina Bakhita foi uma religiosa sudanesa que, quando menina, foi vítima de tráfico humano. A celebração do Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas no dia dela reforça também o quanto mulheres e crianças ainda são as vítimas mais vulneráveis deste crime.
Não é à toa que Bakhita é a santa inspiradora contra o tráfico humano. O próprio Papa Francisco, na oração do Angelus em 2021, confiou as vítimas do tráfico de pessoas a Santa Josefina Bakhita. O Pontífice encorajou a economia a “nunca fazer do homem e da mulher uma mercadoria”.
O mal não tem a última palavra
Segundo o seminarista da Comunidade Canção Nova, José Dimas da Silva, Santa Bakhita é exemplo de esperança, como afirmou o Papa Bento XVI. Dimas recorda que, depois de passar por vários patrões, ela chegou às mãos de uma família católica de Veneza.
“Bakhita nasceu no Sudão, sofreu muito até chegar nessa família, foi raptada da sua família ainda criança e a partir daí vendida várias vezes. Chega na família do Sr. Michieli de Veneza, se torna babá da sua filha. Como o casal viaja a trabalho para África, confia Bakhita e a filha ao cuidado das Canossianas de Veneza”.
No convívio com as religiosas, Bakhita se encontrou com a fé cristã, passou por um processo de evangelização e depois recebeu o batismo. Foi catequizada pelas irmãs Canossianas fundadas por Santa Madalena de Canossa e depois ingressou nesta congregação.
Dimas recorda que, diante de tantos sofrimentos e injustiças, Bakhita soube perdoar. Em toda a sua vida como escrava, experimentou maus tratos, foi ferida em sua dignidade humana. Mas a partir do encontro com Deus, Bakhita aprendeu a ressignificar tudo, ao ponto de dizer que se encontrasse aqueles que foram seus maus patrões iria beijar as suas mãos e agradecer por ter chegado onde chegou, pois graças a eles ela se encontrou com a fé cristã, encontrou Deus.
“O mal não tem a última palavra e o mal não tem consistência. Bakhita vence todo o mal com a doçura. Bakhita soube enxergar além da dor. Irmã Bakhita faleceu no dia 8 de fevereiro de 1947 na Casa das Canossianas de Schio”, concluiu Dimas.
Fonte: Canção Nova