A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou hoje (14) a mensagem do Papa Francisco pela 38ª Jornada Mundial da Juventude, que será celebrada em todas as dioceses no dia 26 de novembro, na festa de Cristo Rei.
No texto, o papa diz: “A esperança cristã não é otimismo fácil nem uma panaceia para simplórios: é a certeza, radicada no amor e na fé, de que Deus nunca nos deixa sozinhos e mantém a sua promessa”.
Abaixo, o texto completo da mensagem do Papa Francisco aos jovens:
Queridos jovens!
No passado mês de agosto, encontrei centenas de milhares de vossos coetâneos que, vindos de todo o mundo, se reuniram em Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude. Nos dias da pandemia alimentámos, no meio de muitas incertezas, a esperança de que esta grande celebração do encontro com Cristo e com outros jovens se pudesse realizar. Esta esperança concretizou-se e, para mim e muitos de quantos lá estiveram presentes, superou todas as expetativas! Como foi lindo o nosso encontro em Lisboa! Uma verdadeira e real experiência de transfiguração, uma explosão de luz e alegria!
No final da Missa conclusiva no «Campo da Graça», indiquei a próxima etapa da nossa peregrinação intercontinental: Seul, na Coreia, em 2027. Mas antes disso marquei encontro convosco em Roma, para o Jubileu dos jovens em 2025, onde também vós sereis «peregrinos da esperança».
De facto vós, jovens, sois a esperança jubilosa duma Igreja e duma humanidade sempre a caminho. Quero tomar-vos pela mão e, junto convosco, percorrer a senda da esperança. Quero falar convosco das nossas alegrias e esperanças, mas também das tristezas e angústias dos nossos corações e da humanidade que sofre (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 1). Nestes dois anos de preparação para o Jubileu, meditaremos, primeiro, sobre a expressão paulina «Alegres na esperança» (Rm 12, 12) e, depois, aprofundaremos a frase do profeta Isaías: «Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar» (cf. Is 40, 31).
Donde vem esta alegria?
«Alegres na esperança» (Rm 12, 12) é uma exortação de São Paulo à comunidade de Roma, que se encontra num período de intensa perseguição. E na realidade a «alegria na esperança», pregada pelo Apóstolo, brota do mistério pascal de Cristo, da força da sua ressurreição. Não é fruto do esforço humano, do engenho ou da arte. É a alegria que deriva do encontro com Cristo. A alegria cristã vem do próprio Deus, de nos sabermos amados por Ele.
Refletindo sobre a experiência vivida na Jornada Mundial da Juventude de Madrid, em 2011, Bento XVI perguntava-se: a alegria «donde brota? Como se explica? Seguramente são muitos os fatores que interagem; mas, a meu ver, o fator decisivo é (…) a certeza que deriva da fé: eu sou desejado; tenho uma tarefa; sou aceite; sou amado». E especificou: «No fim de contas, precisamos de um acolhimento incondicional; somente se Deus me acolher e eu estiver seguro disso mesmo é que sei definitivamente: é bom que eu exista; (…) é bom existir como pessoa humana, mesmo em tempos difíceis. A fé faz-nos felizes a partir de dentro» (Discurso à Cúria Romana, 22/XII/2011).
Onde está a minha esperança?
A juventude é um tempo cheio de esperanças e sonhos, alimentados pelas realidades belas que enriquecem a nossa vida: o esplendor da criação, as relações com os nossos entes queridos e com os amigos, as experiências artísticas e culturais, os conhecimentos científicos e técnicos, as iniciativas que promovem a paz, a justiça e a fraternidade, e assim por diante. Contudo vivemos num tempo em que para muitos, mesmo jovens, a esperança parece ser a grande ausente. Infelizmente muitos dos vossos coetâneos, que vivem experiências de guerra, violência, bulling e várias formas de mal-estar, veem-se afligidos pelo desespero, o medo e a depressão. Sentem-se como que encerrados numa prisão escura, incapazes de ver os raios do sol. Demonstra-o dramaticamente a elevada taxa de suicídio entre os jovens de vários países. Em semelhante contexto, como se pode experimentar a alegria e a esperança, de que fala São Paulo? Antes, pelo contrário, há o risco de se impor o desespero, a convicção de ser inútil fazer o bem, porque ninguém o apreciará nem reconhecerá, como lemos no Livro de Job: «Onde está a minha esperança? A minha esperança, quem a viu?» (Job 17, 15).
À vista dos dramas da humanidade, sobretudo do sofrimento dos inocentes, também nós – como rezamos em alguns Salmos – perguntamos ao Senhor: «Porquê?» Pois bem! Uma parte da resposta de Deus, podemos sê-la nós. Criados por Ele à sua imagem e semelhança, podemos ser expressão do seu amor que faz nascer a alegria e a esperança, mesmo onde parece impossível. Vem-me à mente o protagonista do filme «A vida é bela»: um pai jovem que consegue, com delicadeza e imaginação, transformar a dura realidade numa espécie de aventura e de jogo e, assim, dá ao filho «olhos de esperança», protegendo-o dos horrores do campo de concentração, salvaguardando a sua inocência e impedindo que a maldade humana lhe roube o futuro. Mas não se trata apenas de histórias inventadas! É o que vemos na vida de muitos Santos, que foram testemunhas de esperança mesmo no meio da maldade humana mais cruel. Pensemos em São Maximiliano Maria Kolbe, em Santa Josefina Bakhita ou nos Beatos esposos Józef e Wiktoria Ulma com os seus sete filhos.
A possibilidade de acender uma esperança no coração dos homens, a partir do testemunho cristão, foi magistralmente evidenciada por São Paulo VI, quando nos recordou que «um cristão ou punhado de cristãos, no seio da comunidade humana em que vivem, (…) irradiam, dum modo absolutamente simples e espontâneo, a sua fé em valores que estão para além dos valores correntes, e a sua esperança em qualquer coisa que não se vê nem se ousaria sequer imaginar» (Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 21).
A «pequena» esperança
O poeta francês Charles Péguy, no início do poema sobre a esperança, fala das três virtudes teologais – fé, esperança e caridade – como se fossem três irmãs que caminham juntas:
«A pequena esperança avança no meio de suas duas irmãs grandes
E não se nota sequer. (…).
Ela, a pequenita, é que arrasta tudo.
Porque a Fé não vê senão o que é
E ela vê aquilo que será.
A Caridade não ama senão aquilo que é
E ela, sim ela, ama aquilo que será. (…).
É ela que faz caminhar as outras duas
Que puxa por elas.
E que nos faz caminhar a todos»
(O pórtico do mistério da segunda virtude, Milão 1978, 17-19).
Também eu estou convencido deste caráter humilde, «menor», e todavia fundamental da esperança. Tentai imaginar: Como poderíamos viver sem esperança? Como seriam os nossos dias? A esperança é o sal da quotidianidade.
Esperança, luz que brilha na noite
Na tradição cristã do Tríduo Pascal, o Sábado Santo é o dia da esperança. Situado entre a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa, é como um meio-termo entre o desespero dos discípulos e a sua alegria pascal. É o ponto onde nasce a esperança. Neste dia, a Igreja comemora em silêncio a descida de Cristo à mansão dos mortos. Isto, podemos vê-lo pintado em muitos ícones. Mostram-nos Cristo refulgente de luz que desce às trevas mais profundas e atravessa-as. É assim: Deus não se limita a olhar com compaixão para as nossas zonas de morte ou a chamar-nos de longe, mas entra nas nossas experiências da mansão dos mortos como luz que brilha nas trevas e as vence (cf. Jo 1, 5). Bem o expressa um poema na língua sul-africana xhosa: «Mesmo que acabem as esperanças, com este poema acordo a esperança. A minha esperança acorda, porque espero no Senhor. Espero que havemos de nos unir! Permanecei fortes na esperança, porque o bom êxito está próximo».
Fonte: ACI Digital