Neste Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, confira ações que buscam facilitar o acesso de indivíduos com dificuldades cognitivas em atividades comunitárias.
Nesta quinta-feira, 21, o Brasil celebra o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A data foi instituída pela Lei nº 11.133, de 2015, com o objetivo de conscientizar sobre a importância do desenvolvimento de meios de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD): Pessoas com Deficiência 2022, lançada em julho deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), a população de pessoas com deficiência no país com mais de dois anos de idade é estimada em 18,6 milhões de indivíduos.
Muitos deles não encontram acessibilidade e recursos necessários para inclusão nos mais diversos âmbitos: trabalho, educação, saúde e religião. Diante deste contexto, um movimento busca promover a inclusão de pessoas com deficiência em ambientes religiosos no país: o Movimento Fé e Luz.
Fé e Luz
O movimento surgiu na França, em 1971. Ele foi fundado pelos leigos Jean Vanier e Marie-Hélène Mathieu, e nasceu de uma peregrinação para o Santuário de Lourdes organizada para pessoas com deficiência intelectual.
A partir dali, nasceu o Movimento Fé e Luz, que tem caráter comunitário, internacional, ecumênico e leigo, de inclusão da pessoa com deficiência intelectual e sua família, nas igrejas e na sociedade, através das relações de amizade e a comunhão com amigos, especialmente os jovens.
No Brasil, chegou pelas mãos do próprio Jean Vernier, que visitou o país em 1975. Ele fez diversas visitas a centros de atendimento a pessoas com deficiência em Curitiba (PR), Jundiaí (SP), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), e pouco tempo depois, as sementes lançadas começaram a germinar. Em maio de 1977, aconteceu o encontro da primeira comunidade do Rio de Janeiro, na Paróquia dos Sagrados Corações, Tijuca. Em agosto do mesmo ano, a primeira comunidade de São Paulo nasceu na Paróquia Santa Cecília.
Busca pela inclusão
A professora aposentada Márcia Valéria Souza participa das atividades do Fé e Luz na Paróquia São Sebastião de Vila Guilherme, em São Paulo. Ela integra o movimento, ajudando a organizar as atividades promovidas, há mais de 40 anos, junto com seu marido, Walter de Souza.
Ela explica que a falta de acolhimento das igrejas acaba por afastar muitas famílias que têm em seu meio pessoas com deficiência. “Os pais têm vergonha de levar (crianças e adolescentes com deficiência) muitas vezes, com medo também de ouvir ‘tira seu filho daqui que está fazendo muito barulho’. Isso tudo afasta as famílias da Igreja”, indica Márcia.
O próprio Papa Francisco já pediu que as igrejas sejam mais inclusivas. No Dia Internacional das Pessoas com Deficiência do ano passado, o Pontífice afirmou que “acolher as pessoas com deficiência e responder às suas necessidades é um dever das comunidades civil e eclesial”.
“Todo homem e toda mulher, seja qual for a condição em que se encontrem, são portadores não só de direitos que devem ser reconhecidos e garantidos, mas também de necessidades ainda mais profundas, como a necessidade de pertencer, relacionar-se e cultivar a sua vida espiritual para vivê-la em sua plenitude e bendizer ao Senhor por este dom único e maravilhoso”, assinalou o Santo Padre, na ocasião.
Desta forma, o trabalho realizado pelo Movimento Fé e Luz é diretamente ligado a, assim como na sua origem na França há mais de 50 anos, promover atividades que façam as famílias se sentirem incluídas. A professora explica que o grupo “faz encontros com a família e com as pessoas com deficiência intelectual dentro da Igreja, trazendo pra dentro da Igreja para que possam ter seu lugar dentro da comunidade”.
Acesso aos Sacramentos
Durante sua experiência, Márcia observa que, muitas vezes, as famílias não sabem que seus membros com deficiência podem receber os Sacramentos. Ela declara que, muitas vezes, estes eram negados a essas pessoas por conta da dificuldade em transmitir os ensinamentos da doutrina católica na catequese e, por conta disso, começou a se dedicar a catequizar essas pessoas à medida que as famílias procuravam uma maior participação na comunidade por meio da vida sacramental.
Em sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, o Papa Bento XVI declarou o direito de acesso aos sacramentos por parte de pessoas com deficiência: “seja garantida também a comunhão eucarística, na medida do possível, aos deficientes mentais, batizados e crismados: eles recebem a Eucaristia na fé também da família ou da comunidade que os acompanha” (Sacramentum Caritatis, n. 58).
Nesta busca por oferecer preparação para os Sacramentos da Primeira Eucaristia e do Crisma, Márcia passou a frequentar os Seminários Nacionais de Catequese ainda em 2002. Atualmente, ela integra a Comissão de Animação Bíblico-Catequética da Arquidiocese de São Paulo, representando a catequese inclusiva, que ainda está dando seus primeiros passos para coordenar ações inclusivas nas paróquias.
A professora afirma ainda que está em contato com outros grupos que auxiliam na inclusão de pessoas com outros tipos de deficiência. Todo esse cuidado é essencial para que cada vez mais pessoas se aproximem de Jesus Cristo. “A Igreja tem que ser inclusiva, se abrir à inclusão”, sinaliza Márcia.
Catequese inclusiva
O professor Wilson Candido Braga, autor de diversos livros sobre transtornos mentais e educação, aponta que o termo “catequese inclusiva” se refere a “um espaço onde se busca, por ferramentas diversas de acessibilidade, e que garanta a todo e qualquer participante, independente de ter deficiência, transtorno ou qualquer dificuldade, temporária ou permanente, a possibilidade de acesso àquela informação que será trabalhada”.
Ou seja, a promoção da acessibilidade à doutrina católica e aos ensinamentos da Igreja diante de qualquer barreira que o catequizando possa apresentar representa a missão da catequese inclusiva. Neste sentido, o professor Braga vai além e dá foco à educação especial, “ que se destina a um grupo específico de deficiências: física, auditiva, visual, intelectual, múltipla, autismo e altas habilidades”.
Ele também afirma que as dificuldades enfrentadas dependem dos “prejuízos de ordem cognitiva e intelectual que algumas pessoas podem apresentar”, e por isso é necessário desenvolver ferramentas para facilitar a compreensão da informação, tornando-a mais acessível.
Conhecer para incluir
Para promover essa acessibilidade, destaca o professor, é importante ter conhecimento da diversidade de diagnósticos, com o esforço de identificar possíveis sinais de dificuldades e deficiências em cada indivíduo. “A inclusão requer conhecimento, é o primeiro passo”, assinala.
Uma vez que há esse conhecimento, Braga sugere algumas ações para promover a inclusão: além de identificar as dificuldades, os catequistas e educadores devem identificar as capacidades dos seus aprendizes, criar laços de parceria com a família e orientá-la a buscar por serviços de atendimento de ordem multiprofissional para que haja estimulação cognitiva. “A acessibilidade é um direito de todos, mas acima de tudo é uma responsabilidade de cada um de nós”, conclui o professor.
Fonte: Canção Nova