Eu sei que não sou o único padre ou católico lutando para imaginar uma Páscoa muito diferente este ano. Como celebrar a Páscoa em meio à pandemia do coronavírus? Podemos realmente cancelar a missa no domingo de Páscoa ou as outras cerimônias da Semana Santa? Um dos sinais de uma Igreja viva está em estarem os batizados reunidos para com entusiasmo celebrar a fé. As nossas igrejas fechadas não são um contratestemunho?
No entanto, o cerne da nossa fé também é um amor sacrifical que desiste de tudo em benefício dos outros. Paulo não nos chamou a ter a mesma mente que Cristo, que “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Flp 2: 7-8)? E o mesmo Jesus não nos ensinou que o maior amor é “dar a vida pelos amigos” (João 15:13)? O coração do amor ao próximo não está disposto a sacrificar pelo bem-estar desse próximo?
Quando ficamos em casa no domingo de Páscoa – e todo domingo, por enquanto – não estamos respondendo ao chamado de amar um ao outro e ao mundo como Jesus ama?
Devemos afirmar que a ressurreição de Jesus não depende de uma grande reunião. A Páscoa não é valorizada pela presença de uma grande multidão e nem diminuída por uma igreja vazia. A Páscoa não pode ser cancelada, a ressurreição não pode ser removida. O grande mistério de nossa fé permanece: Cristo morreu, Cristo ressuscitou e Cristo voltará.
O Cristo ressuscitado pode nos encontrar em nossos lares, nos caminhos de nossas vidas e no meio dos maiores desafios de nosso tempo. A questão não é se Cristo ressuscitou ou mesmo se a Páscoa será celebrada. A única questão é como vamos celebrar e participar do milagre da ressurreição em um momento em que a verdade está mais poderosa do que nunca.
A primeira Páscoa não foi celebrada em uma grande igreja. A ressurreição foi anunciada primeiro a um pequeno grupo de mulheres diante de um túmulo e depois aos discípulos reunidos com as portas fechadas “por medo dos judeus.” (Atos 20,19).
A primeira celebração da Páscoa foi realizada em uma casa com os discípulos de Emaús.(Lc 24,13-32). A igreja primitiva se espalhou por pequenas reuniões em lares por toda a Ásia Menor e Europa. O testemunho das Escrituras e a história da igreja primitiva são claras que a ressurreição não requer grandes assembleias. O poder do Cristo ressuscitado é que ele está em todo lugar, entre todas as pessoas. Ele está vivo e está onde nos reunimos em seu nome. E mesmo celebrando online, Ele aí estará.
Alguns podem dizer que o testemunho cristão mais poderoso seria o das igrejas abrirem suas portas, realizando suas cerimônias, apesar do vírus, anunciando assim que o Cristo ressuscitado é mais poderoso que o coronavírus. Isso é verdade. Porém, estaríamos expondo as pessoas ao contágio, principalmente as mais vulneráveis, como os idosos e aquelas sujeitas a determinadas doenças e, inclusive, os saudáveis. Já existem evidências em algumas partes do mundo, como por exemplo os Estados Unidos e Coréia do Sul, que as reuniões religiosas ajudaram na disseminação do vírus.
Insistir em uma reunião pública no domingo de Páscoa é enviar a mensagem de que, se não podemos nos reunir, de alguma forma, a realidade da Páscoa está em dúvida. Esta é uma visão falsa do verdadeiro significado da ressurreição de Cristo.
Este ano viveremos um domingo de Páscoa como nenhum outro. Estaremos pelos mais diferentes meios testemunhando que nem o vírus nos impedirá de celebrar a vitória de Jesus sobre a morte, pela Sua ressurreição.
Nesta Páscoa testemunharemos como nunca a verdade que muda o mundo e muda a vida: Cristo, nosso Senhor, ressuscitou. A resposta dos lares cristãos, acompanhando as cerimônias em todo o mundo, será: Ele realmente ressuscitou! Aleluia!
Padre Alberto Gambarini