No quarto centenário da morte de São Francisco de Sales, Francisco dedicou a catequese aos ensinamentos de Natal do Santo e Doutor da Igreja; Pontífice anunciou ainda a publicação de uma Carta Apostólica intitulada “Tudo pertence ao amor”
Na Sala Paulo VI, o Papa Francisco realizou, nesta quarta-feira, 28, a última Audiência Geral do ano de 2022. Neste tempo litúrgico, o Pontífice fez uma pausa no ciclo sobre o discernimento e dedicou sua catequese ao mistério do Natal, inspirando-se em um santo em particular: São Francisco de Sales.
Por ocasião do quarto centenário da morte deste Bispo e Doutor da Igreja, o Santo Padre anunciou que hoje será publicada a Carta Apostólica intitulada “Tudo pertence ao amor”.
Manjedoura
Em uma de suas muitas cartas dirigidas a Santa Joana Francisca de Chantal, São Francisco de Sales escreve: “Eu prefiro cem vezes ver o querido Menino na manjedoura, do que todos os reis em seus tronos”.
Jesus, o Rei do universo, comentou o Papa, “nunca se sentou em um trono, nasceu em um estábulo, envolto em faixas e deitado em uma manjedoura; e no fim morreu em uma cruz e, envolto em um lençol, foi deposto no sepulcro”.
A manjedoura, explicou o Santo Padre, não é apenas um detalhe logístico, mas um elemento simbólico para entender que tipo de Messias é Aquele que nasceu em Belém, ou seja, quem é Jesus.
“O sinal é: encontrarão um menino sobre uma manjedoura. Este é sinal. O trono de Jesus ou é a manjedoura ou a rua, durante a sua vida, pregando, ou a cruz no final da vida. Este é o trono do nosso Rei”, disse.
Este sinal, de acordo com o Papa, mostra o ‘estilo’ de Deus, que é proximidade, compaixão e ternura. “Quer nos atrair com o amor”, comentou. Em outra carta a uma religiosa, sempre no contexto do Natal, São Francisco de Sales escreve: “O ímã atrai o ferro e o âmbar atrai a palha e o feno”.
Amor
Às vezes, destacou Francisco, os homens são ‘”ferro”, isto é, são duros, rígidos, frios. Em outros momentos, são “palha”, frágeis, fracos, inconsistentes. “As nossas forças, as nossas fragilidades, só se resolvem diante do presépio, ou diante da Cruz. Então, Deus encontrou o meio para nos atrair como somos: com o amor”.
“Não é um amor possessivo e egoísta, como infelizmente é tão frequente o amor humano. Seu amor é puro dom, pura graça, é tudo e somente para nós, para o nosso bem. E assim ele nos atrai, com este amor desarmado e desarmante.”
Segundo o Pontífice, ao ver esta simplicidade de Jesus, também os fiéis abrem mão da soberba e vão, humildes, pedir salvação, perdão, luz para a vida, para poder ir avante. “Não se esqueçam do trono de Jesus: a manjedoura e a cruz”.
Pobreza
Outro aspecto que se destaca no presépio é a pobreza, entendida como a renúncia a toda vaidade mundana. E hoje, lamentou o Santo Padre, quanto dinheiro é gasto por vaidade. São Francisco de Sales escreve ainda: “Não encontro outro mistério em que a ternura e a austeridade, amor e tristeza, doçura e dureza sejam tão docemente misturados”. O Natal certamente é alegria e festa, mas na simplicidade e austeridade, completou o Papa.
“Hoje, vemos ‘outro Natal’, entre aspas, uma caricatura mundana do Natal, que o reduz a uma festa de consumo. Pode-se fazer festa, isto é bom, mas que não seja Natal. Natal é outra coisa.”
Francisco concluiu com mais um pensamento de São Francisco de Sales. Dois dias antes de sua morte, o santo afirmou que “não devemos desejar nada nem recusar nada, suportando tudo o que Deus nos enviará, o frio e as agruras do tempo”.
Estas palavras, afirmou o Santo Padre, significam que se deve aceitar tudo o que Deus manda, “mas atenção: sempre e só por amor, porque Deus nos ama e quer sempre e só o nosso bem”. O caminho da felicidade, concluiu, passa pela manjedoura e pela cruz.
“A todos vocês e suas famílias, ainda Feliz Natal e um bom início de Ano Novo!”, foram os votos finais de Francisco.
Fonte: Canção Nova