Entre os temas abordados por Francisco em seu discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé estava o dos migrantes. Pobreza, guerras e abuso da casa comum são as principais causas que forçam milhares de pessoas a deixar sua terra natal em busca de um futuro pacífico. Monsenhor Felicolo, Diretor Geral da Fundação: “o Pontífice chama a atenção para essa tragédia, não deixe que suas palavras passem despercebidas”.
Do deserto do Saara à floresta de Darién, passando pelas fronteiras entre os Estados Unidos e o México, chegando ao Mediterrâneo, que na última década se tornou “um grande cemitério”. Essas são as etapas migratórias lembradas pelo Papa Francisco em seu longo discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, na última segunda-feira, 08, para chamar a atenção para a “imensa tragédia” de milhões de pessoas forçadas a deixar seus países por causa de guerras, pobreza ou mudanças climáticas, em busca de um futuro melhor para si e para seus filhos.
“O Papa Francisco”, comentou monsenhor Pierpaolo Felicolo, diretor geral da Fundação Migrantes, ao Vatican News, “fez uma análise extremamente precisa da situação vivida pelos migrantes. Ele não falou apenas sobre o trágico contexto do Mediterrâneo, mas seu olhar se estendeu ao mundo inteiro, porque todos os países estão envolvidos, ninguém está excluído. E, portanto, também é necessária uma atenção mundial para com essas pessoas. As palavras do Papa chegam diretamente aos nossos corações, e não devemos nos deixar levar por elas, mas refleti-las e senti-las como se fossem nossas”. De fato, o Mediterrâneo, lembrou o Papa Francisco, não deve ser um lugar de morte, um cemitério, mas um lugar onde os povos possam se encontrar e criar laboratórios de paz, amizade e confronto.
O drama dos menores desacompanhados
E outro problema sério do qual o Papa Francisco falou é o dos muitos menores desacompanhados que chegam e cujos rastros, infelizmente, às vezes se perdem. Somente na Itália, em 2023, de acordo com os últimos dados pelo governo, o número de menores que chegaram sozinhos foi de mais de 17.200. “Essas crianças”, enfatiza monsenhor Felicolo, “chegam já profundamente marcadas por dramas muito maiores do que elas, e muitas vezes carregarão o peso dessas tragédias que testemunharam durante toda a vida. Portanto, em primeiro lugar, elas devem ser colocadas em estruturas adequadas, não em centros de recepção para adultos, depois devem aprender italiano e receber um forte apoio psicológico. Só então elas poderão começar a viver novamente e não ter medo do que os espera. Infelizmente, não em todos os casos isso acontece, portanto, nunca devemos baixar a guarda em relação à situação delicada dessas pessoas”.
A prioridade de deixar o coração aberto
Em seu discurso, o Papa Francisco também enfatizou que, às vezes, essa tragédia, em vez de abrir nossos corações, nos leva a nos entrincheirar atrás do medo desmotivado de uma “invasão”, esquecendo que, em vez disso, por trás dessas mortes há rostos, histórias e pessoas que perderam suas vidas buscando o sonho de serem livres. “O Papa Francisco sempre nos diz que devemos olhar para essas pessoas com os olhos do coração”, continua mons. Felicolo, “porque a tentação é nos fecharmos em nós mesmos diante do medo e da desconfiança. Precisamos conhecer os dados reais para entender que não há invasão, mas apenas pessoas que foram forçadas a deixar tudo e fugir por causa das guerras civis, da violência, mas também da mudança climática, que em alguns países é realmente muito dramática, e então, não fechar nossos corações se torna uma prioridade”.
E o Papa também enfatizou, ao mesmo tempo, o direito de poder permanecer em seu próprio país e não ir para outros países: “nesse caso”, explicou o diretor da Migrantes, “devemos ajudar a criar as condições que permitam que essas pessoas permaneçam em seus países de origem sem precisar fugir. Isso nem sempre é possível, especialmente se houver guerras civis ou situações políticas inseguras, e se for dada ajuda econômica, certifique-se de que esses fundos sejam realmente destinados a projetos de trabalho e não a outros fins. É claro que permanecer em seu próprio país também é um direito, mas é preciso criar condições adequadas”.
Fonte: Vatican News