“Como homem de fé, acredito que a paz seja o sonho de Deus para a humanidade. A paz é possível, se realmente desejada”, escreve Francisco em seu discurso lido no Conselho de Segurança da ONU por dom Paul Richard Gallagher. A “fraternidade não pode permanecer uma ideia abstrata, mas deve se tornar o ponto de partida concreto”, recorda o Papa.
O secretário para Relações com os Estados e as Organizações Internacionais, dom Paul Richard Gallagher, leu um discurso do Papa Francisco, na tarde desta quarta-feira (14/06), no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova Iorque.
O Santo Padre agradece o convite, ao qual aceitou de bom grado, para se dirigir ao Conselho de Segurança da ONU, “porque estamos atravessamos um momento crucial para a humanidade, no qual a paz parece sucumbir diante da guerra”.
Francisco recorda, no texto lido por dom Gallagher, “que os conflitos estão aumentando e a estabilidade está cada vez mais ameaçada”. “Estamos vivendo uma terceira guerra mundial em pedaços que, quanto mais o tempo passa, mais parece se expandir. O Conselho, cujo mandato é supervisionar a segurança e a paz no mundo, às vezes parece impotente e paralisado aos olhos do povo. Porém, o seu trabalho, apreciado pela Santa Sé, é essencial para promover a paz”, ressalta o Papa, convidando os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas a “enfrentar os problemas comuns, distanciando-se das ideologias e particularismos, das visões e interesses partidários, cultivando uma única intenção: trabalhar para o bem de toda a humanidade”. “Espera-se que o Conselho respeite e aplique «a Carta das Nações Unidas com transparência e sinceridade, sem segundas intenções, como um ponto de referência obrigatório de justiça e não como um instrumento para mascarar intenções ambíguas».”
A seguir, o Papa recorda que “no mundo globalizado de hoje estamos todos mais próximos, mas não por isso mais irmãos. Pelo contrário, sofremos a escassez de fraternidade, que emerge das tantas situações de injustiça, pobreza e desigualdade, a falta de uma cultura da solidariedade”. “As novas ideologias, marcadas pelo individualismo generalizado, egocentrismo e consumismo materialista, enfraquecem os laços sociais, alimentando a mentalidade do ‘descarte’, que leva ao desprezo e abandono dos mais frágeis, daqueles que são considerados ‘inúteis’”, ressalta.
Segundo Francisco, “o pior efeito desta escassez de fraternidade são os conflitos armados e as guerras, que não tornam apenas as pessoas inimigas, mas povos inteiros, cujas consequências negativas se repercutem por gerações”. “Com o nascimento das Nações Unidas parecia que a humanidade tivesse aprendido, depois de dois terríveis conflitos mundiais, a caminhar em direção a uma paz mais estável, a se tornar, finalmente uma família de nações. Em vez disso, parece que se está voltando atrás na história, com o surgimento de nacionalismos fechados, acirrados, ressentidos e agressivos, que desencadearam conflitos não apenas anacrônicos e ultrapassados, mas ainda mais violentos”, escreve o Papa.
Como homem de fé, acredito que a paz seja o sonho de Deus para a humanidade. Mas constato, infelizmente, que por causa da guerra esse sonho maravilhoso está se transformando num pesadelo. Claro, do ponto de vista econômico, muitas vezes a guerra atrai mais do que a paz, pois favorece ganhos, mas sempre para poucos e em detrimento do bem-estar de populações inteiras. Portanto, o dinheiro ganho com a venda de armas é dinheiro sujo de sangue inocente. É preciso mais coragem para abrir mão dos lucros fáceis a fim de manter a paz do que para vender armas cada vez mais sofisticadas e poderosas. É preciso mais coragem para buscar a paz do que para fazer a guerra. É preciso mais coragem para favorecer o encontro do que o confronto, para sentar-se à mesa das negociações do que para continuar as hostilidades.
“Para construir a paz é preciso sair da lógica da legitimidade da guerra”, sublinha Francisco, ressaltando que se essa lógica poderia valer nos tempos passados, “em que os conflitos armados tinham um alcance mais limitado, hoje, com as armas nucleares e as armas de destruição em massa, o campo de batalha tornou-se praticamente ilimitado e os efeitos potencialmente catastróficos”. “Chegou a hora de dizer seriamente “não” à guerra, de afirmar que as guerras não são justas, mas que só a paz é justa: uma paz estável e duradoura, não construída sobre o equilíbrio precário da dissuasão, mas sobre a fraternidade que une”, ressalta ele.
Segundo o Pontífice, “aqueles que trabalham para a construção da paz devem promover a fraternidade”, escutar “o grito de quem sofre por causa dos conflitos, principalmente as crianças. Os seus olhos cheios de lágrimas nos julgam, o futuro que preparamos para elas será o tribunal das nossas escolhas presentes”.
“A paz é possível, se realmente desejada! A paz deve ser racional, não passional, magnânima, não egoísta; a paz não deve ser inerte e passiva, mas dinâmica, ativa e progressiva; a paz não deve ser frágil, inepta e servil, mas forte tanto pelas razões morais que a justificam quanto pelo consenso unido das nações que devem sustentá-la”.
Segundo o Papa, “estamos ainda em tempo para escrever um novo capítulo de paz na história: podemos fazer da guerra uma coisa do passado e não do futuro”. A seguir, citou a palavra “fraternidade” que “não pode permanecer uma ideia abstrata, mas deve se tornar o ponto de partida concreto”.
“Pela paz, por toda iniciativa e processo de paz”, Francisco garantiu o seu apoio, sua oração e a dos fiéis católicos. O Papa conclui o texto, esperando “que não só o Conselho de Segurança, mas toda a Organização das Nações Unidas, todos os seus Estados membros e cada um de seus funcionários, possam prestar um serviço eficaz à humanidade, assumindo a responsabilidade de zelar não só pelo seu próprio futuro, mas também pelo de todos, com a audácia de renovar agora, sem medo, o que é preciso para promover a fraternidade e a paz em todo o planeta”.
Fonte: Vatican News