Os vencedores da quinta edição do prêmio foram anunciados nesta sexta-feira, em Abu Dhabi. A iniciativa premeia as contribuições de pessoas e organizações para o progresso da humanidade e da coexistência pacífica, e celebra o quinto aniversário da assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana. Foram premiadas a Irmã Nelly León Correa, o cirurgião cardiovascular egípcio Sir Magdi Yacoub e as duas principais organizações islâmicas indonésias Nahdlatul Ulama e Muhammadiyah.
A “mãe das detentas” chilena, Irmã Nelly Leòn Correa, as organizações de solidariedade indonésias Nahdlatul Ulama e Muhammadiyah, o mundialmente famoso cirurgião cardiovascular Sir Magdi Yacoub, são os vencedores do Prêmio Zayed para a Fraternidade Humana 2024. O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira, 2, em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, durante coletiva de imprensa com o secretário-geral do Prêmio, o juiz egípcio Mohamed Abdelsalam.
Os três vencedores, que receberão cada um um prêmio de um milhão de dólares para incrementar as suas atividades, foram escolhidos por um comitê independente de juízes, pelos seus esforços excepcionais em abordar desafios sociais complexos e em promover a coexistência pacífica e a solidariedade entre a humanidade a nível internacional e local. Eles receberão o Prêmio no dia 5 de fevereiro, durante cerimônia no Memorial do Fundador, em Abu Dhabi.
Irmã Nelly León, uma vida dedicada ao resgate das detentas
Conhecida como “Madre Nelly”, Irmã Nelly León Correa, religiosa chilena da Congregação do Bom Pastor, é presidente e co-fundadora da Fundação “Mujer Levántate” e há mais de 25 anos assiste mulheres presas, oferecendo apoio e formação durante o período de detenção e depois que cumprem pena, ajudando-as a reintegrar-se na sociedade. Comprometida com os princípios da fraternidade humana, a fundação, lê-se nas motivações do Prêmio, “leva esperança às detentas e cura àquelas que acabam de ser libertadas”.
Quase 94% das participantes do programa não reincidem dois anos depois de terem deixado a prisão. Para a religiosa, a situação das mulheres detidas é “um drama atroz que a sociedade não pôde ver ou não quer ver”. Neste sentido agradece que o Prêmio Zayed permita de tornar visíveis as mulheres privadas de liberdade. A religiosa espera que este prêmio seja um incentivo para que “cidadãos, políticos e líderes de opinião se sintam responsáveis e comprometidos em contribuir para a reintegração das mulheres, da sua dignidade, dos seus sonhos, esperanças e desafios, trabalhando em conjunto com o Estado do Chile”.
A mesa de participantes na conferência de imprensa de anúncio dos vencedores do Prémio Zayed 2024. Da direita: Irmã Nelly Leon Correa, juiz Mohamed Abdelsalam, Ulil Abshar-Abdalla, do Nahdlatul Ulama, Irina Bokova e Syafiq A. Mughni, do Muhammadiyah indonésio
A Fundação “Mujer Levántate” ajuda 250 mulheres a cada ano
“Uma mulher que se recupera é uma família que se recupera, podemos ser uma luz, um exemplo para outras prisões da América Latina, onde vivem os mais pobres entre os pobres – acrescentou Irmã León. Somos uma fundação pequena, que se mantém quase sozinha, mas com o Prêmio poderíamos crescer muito, e ajudar mais mulheres, mais famílias e mais crianças”.
A Fundação, liderada pela Irmã Nelly, atende em média 250 mulheres por ano por meio dos seus diversos programas, com um impacto positivo direto nas condições de vida de 700 crianças. “Este prêmio vai permitir-nos duplicar e até triplicar este número e isso deixa-nos imensamente felizes”, declarou emocionada a religiosa.
Duas organizações islâmicas e humanitárias indonésias
Nahdlatul Ulama e Muhammadiyah, as maiores organizações islâmicas da Indonésia, com mais de 190 milhões de membros, foram reconhecidas “pelos seus incomensuráveis esforços humanitários e de construção da paz”. A primeira, a maior e mais moderada organização islâmica da Indonésia, celebrou recentemente cem anos de existência e promove a ideia de um Islã em diálogo com os desafios da sociedade atual.
A segunda foi a primeira organização islâmica a nascer, no arquipélago ainda sob domínio holandês. Por meio da criação de instituições educativas, hospitais e projetos de redução da pobreza, ambas as organizações melhoraram a vida de inúmeros indonésios e de populações vulneráveis em todo o mundo.
O representante da Muhammadiyah, Syafiq A. Mughni, sublinhou que o Prêmio Zayed “terá um forte impacto no nosso trabalho humanitário, para melhorar o bem-estar das pessoas mais desfavorecidas. É importante criar redes e colaborar entre associações para a dignidade humana”.
Esse aspecto foi repetido pelo delegado do Nahdlatul Ulama, Ulil Abshar-Abdalla, que acrescentou que o Prêmio “é um reconhecimento pelo nosso trabalho na Indonésia, também nos vilarejos mais distantes, um compromisso que, no entanto, é pouco conhecido no exterior. Agora, este reconhecimento nos levará, por exemplo, também a países islâmicos fora da Indonésia, e isto pode ser o início de um futuro melhor. Ainda existem muitas tensões e conflitos no mundo, mas acreditamos que em todas as religiões e sociedades existam muitas pessoas belas e boas, e estas podem ajudar-se mutuamente a fazer ainda mais bem aos necessitados.”
O cirurgião cardiovascular que salvou milhares de vidas
Sir Magdi Yacoub, cirurgião cardiovascular e docente de renome mundial, foi premiado pelo seu compromisso em salvar as vidas dos mais necessitados, incluindo as populações vulneráveis. Fundador da Magdi Yacoub Heart Foundation no Egito e da instituição de caridade Chain of Hope no Reino Unido, o Dr. Yacoub ajudou a salvar milhares de vidas, especialmente de crianças. Abriu centros cardiológicos na Etiópia e em Moçambique e atualmente trabalha em um centro em Kigali, Ruanda. Suas técnicas cirúrgicas pioneiras revolucionaram o transplante de coração e ele recebeu vários prêmios, incluindo o título de Cavaleiro britânico, a Grande Ordem do Nilo e a Ordem do Mérito da Rainha Elizabeth II.
Em uma conversa on-line, Yacoub comentou que o Prêmio “servirá para ajudar muito mais pessoas em África e sobretudo para formar um maior número de jovens médicos”. “Há uma grande necessidade de desenvolver os talentos dos jovens africanos – acrescentou – e aliviar o sofrimento da população, eliminando a discriminação nos cuidados de saúde.”
Abdelsalam: exemplos dos valores do Documento sobre a Fraternidade
O secretário-geral do Prêmio Zayed para a Fraternidade Humana, juiz Mohamed Abdelsalam, comentou que os três premiados “são um verdadeiro exemplo dos valores do Documento sobre a Fraternidade Humana”. Apoiaram-no “agindo como faróis de esperança nas suas comunidades”. Cada um dos homenageados, acrescentou, “defendeu a nobre visão de um mundo mais pacífico e faremos com que este reconhecimento ajude a acelerar os seus esforços nos seus respectivos campos”. O Prêmio tornou-se, para o secretário-geral, um grande “portal” por meio do qual todos aqueles que se dedicam à solidariedade humana podem partilhar as suas experiências.
Bokova: Irmã Nelly ajuda as detentas a não perderem o respeito próprio
Também participou da coletiva, como representante do júri, a ex-diretora geral da UNESCO, a búlgara Irina Bokova, que também é membro do Alto Comitê para a Fraternidade Humana, criado para dar difusão e concretude ao Documento de Abu Dhabi. Dos premiados, recordou que as duas organizações indonésias “representam o melhor do Islã na saúde, na educação e na promoção da paz e da reconciliação, um exemplo maravilhoso de organizações não governamentais que têm um enorme impacto na vida da Indonésia”.
Sobre o compromisso da Irmã Nelly, Bokova, que é cristã ortodoxa, quis sublinhar que “as mulheres na prisão são as mais esquecidas em todas as sociedades. É importante para elas que não percam o respeito por si próprias e depois consigam se reintegrar na sociedade, e a Irmã Nelly as ajuda nisso”.
Sandri: reconhecem Deus presente no mundo e nas pessoas
Um dos membros da comissão julgadora do Prêmio 2024, o cardeal Leonardo Sandri, sub-decano do Colégio Cardinalício e prefeito emérito do Dicastério para as Igrejas Orientais, entrevistado pela mídia vaticana, sublinhou que ficou impressionado com o elevado número de candidaturas apresentadas em todo o mundo. “É bom saber que existem tantas pessoas e associações comprometidas com a promoção da dignidade humana – afirmou – e aqueles que escolhemos, trabalham todos com o impulso que lhes vem da presença de Deus no mundo e nas pessoas”.
Cinco anos depois da assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana, o cardeal reconheceu progressos na fraternidade e no diálogo, mas que ainda são muitos os “países que procuram uma guerra uma solução para as tensões entre eles, com o risco de levar o mundo rumo à autodestruição”
Um prêmio que celebra a assinatura histórica de 2019 em Abu Dhabi
O anúncio do prêmio foi feito, como todos os anos desde a primeira edição em 2020, às vésperas do Dia Internacional da Fraternidade Humana, 4 de fevereiro, instituído pelas Nações Unidas para celebrar a histórica assinatura do Documento sobre a Fraternidade, em 2019, em Abu Dhabi, pelo Papa Francisco e pelo Grão Imã de Al-Azhar Ahmed Al-Tayeb. O Prêmio Zayed para a Fraternidade Humana é um prêmio internacional anual independente concedido a indivíduos e organizações de todas as origens, em qualquer lugar do mundo, que trabalham abnegadamente e incansavelmente para além das diferenças para promover os valores da solidariedade, integridade, justiça e otimismo e criar progressos rumo à coexistência pacífica. O prêmio leva o nome do falecido Xeque Zayed bin Sultan Al Nahyan, fundador dos Emirados Árabes Unidos, famoso por seu trabalho humanitário e dedicação em ajudar as pessoas, independentemente de sua origem ou do local onde estivessem no mundo.
A cerimônia de premiação ao vivo no dia 5 de fevereiro também no Vatican News
A cerimônia de premiação, no dia 5 de fevereiro, às 19h (16h na Itália), será transmitida pelos canais de televisão locais e também pelo canal internacional no YouTube do Vatican News.
Desde que o prêmio foi instituído, líderes, ativistas e organizações humanitárias de todo o mundo foram reconhecidos, incluindo: Papa Francisco e Grão Imã Al-Tayeb (destinatários honorários) em 2019. Em 2021, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e a ativista contra o extremismo Latifa Ibn Ziaten; em 2022, Sua Majestade Abdullah II bin Al Hussein, Rei do Reino Hachemita da Jordânia e sua esposa, a Rainha Rania Al Abdullah, com a organização humanitária haitiana Fundação para o Conhecimento e a Liberdade (Fokal). E, por fim, em 2023, a Comunidade de Sant’Egidio e o construtor da paz queniano Shamsa Abubakar Fadhil.
Fonte: Vatican News