O Santo Padre se encontrou com representantes da Federação Internacional de Universidades Católicas (FIUC) por ocasião dos 100 anos de sua fundação.
Na manhã desta sexta-feira, 19, o Papa Francisco se encontrou com uma delegação da Federação Internacional de Universidades Católicas (FIUC), acompanhados pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação e pela professora Gil, presidente da Confederação.
O Papa iniciou seu discurso afirmando: “tenho um longo discurso para ler, mas minha respiração está um pouco difícil; veja, ainda estou com esse resfriado que não vai embora! Tomo a liberdade de entregar o texto aos senhores para que possam lê-lo. E obrigado, muito obrigado. Obrigado: gostaria de agradecê-los por este encontro, pelo bem que as fazem as universidades, nossas universidades católicas: semear a ciência, a Palavra de Deus e o verdadeiro humanismo. Muito obrigado. E não se cansem de seguir em frente: sigam sempre em frente, com a belíssima missão das universidades católicas. Não é o caráter confessional que lhes dá identidade: é um aspecto, mas não é o único; talvez seja esse humanismo claro, esse humanismo que faz entender que o homem tem valores e que eles devem ser respeitados: essa talvez seja a coisa mais bela e maior de suas universidades. Muito obrigado.”
No discurso escrito, que foi entregue aos participantes, o Santo Padre afirmou ter o “prazer de participar da celebração do centenário da Federação Internacional de Universidades Católicas” e recordou que “Foi Pio XI quem abençoou a primeira associação de dezoito Universidades Católicas, em 1924” e “vinte e cinco anos depois, o Venerável Pio XII estabeleceu a Federação das Universidades Católicas.”
Trabalhar em rede em tempos de guerra
O Papa ressaltou dois aspectos que remetem as origens desta Federação: “o primeiro é a exortação para trabalhar em rede. Hoje existem quase duas mil universidades católicas no mundo. Imaginemos o potencial que uma colaboração mais eficaz e mais operacional poderia desenvolver, fortalecendo o sistema universitário católico. Em uma época de grande fragmentação, devemos ter a audácia de ir contra a maré, globalizando a esperança, a unidade e a concórdia, em vez da indiferença, das polarizações e dos conflitos. O segundo aspecto é o fato de que a Federação – como escreveu Pio XII – foi estabelecida ‘após a mais terrível guerra’, como um instrumento que contribui ‘para a conciliação e a formação da paz e da caridade entre os homens’. Infelizmente, ainda estamos celebrando esse centenário em um cenário de guerra, a terceira guerra mundial em pedaços. Portanto, é essencial que as Universidades Católicas desempenhem um papel de liderança na construção da cultura da paz, em suas muitas dimensões a serem abordadas de maneira interdisciplinar.”
Uma busca comum pela verdade
O Pontífice afirmou que vivemos “Em uma época em que, infelizmente, até mesmo a educação está se tornando um negócio (…) as instituições da Igreja devem demonstrar que têm uma natureza diferente e se movem de acordo com uma lógica diferente. Um projeto educacional não se trata apenas de um programa de estudos perfeito, de equipamentos eficientes ou de uma boa gestão empresarial. Uma paixão maior deve pulsar na universidade, é preciso ver uma busca comum pela verdade, um horizonte de significado, e tudo isso vivido em uma comunidade de conhecimento onde a generosidade do amor, por assim dizer, pode ser tocada.”
Inteligência artificial aliada com a inteligência espiritual
De acordo com o Papa Francisco “não basta conceder títulos acadêmicos: é necessário despertar e acalentar em cada pessoa o desejo de ser. Não basta modelar carreiras competitivas: é necessário promover a descoberta de vocações frutíferas, inspirar caminhos de vida autêntica e integrar a contribuição de cada pessoa na dinâmica criativa da comunidade. Certamente precisamos pensar em inteligência artificial, mas também em inteligência espiritual, sem a qual o homem permanece um estranho para si mesmo. A universidade é um recurso importante demais para viver apenas ‘em sintonia com os tempos’ e adiar a responsabilidade que as grandes necessidades humanas e os sonhos dos jovens representam.”
O medo devora a alma
Francisco disse que “não podemos confiar a administração de nossas universidades ao medo (…). A tentação de se fechar atrás de muros, em uma bolha social segura, evitando riscos ou desafios culturais, dando as costas à complexidade da realidade pode parecer o caminho mais confiável. Isso é mera ilusão! O medo devora a alma.” Segundo o Papa “uma universidade que se protege dentro dos muros do medo pode alcançar um nível prestigioso, reconhecido e apreciado, ocupando as primeiras posições da produção acadêmica. Mas, como disse o pensador Miguel de Unamuno, ‘conhecimento pelo conhecimento: isso é desumano’. Devemos sempre nos perguntar: para que serve nossa ciência? Que potencial transformador tem o conhecimento que produzimos? A que e a quem estamos servindo? A neutralidade é uma ilusão.”
Gratidão e pedido de ajuda
O Papa agradeceu às Universidades Católicas por seu empenho e pediu que elas ajudassem a Igreja “(…) neste momento da história, a iluminar as mais profundas aspirações humanas com as razões da inteligência e as ‘razões da esperança’ (cf. 1Pd 3,15); que ajudem a Igreja a conduzir diálogos destemidos sobre as grandes questões contemporâneas. Ajude-nos a traduzir culturalmente, em uma linguagem aberta às novas gerações e aos novos tempos, a riqueza da inspiração cristã; a identificar as novas fronteiras do pensamento, da ciência e da tecnologia e a habitá-las com equilíbrio e sabedoria. Ajude-nos a construir alianças intergeracionais e interculturais no cuidado da casa comum, em uma visão de ecologia integral, que ofereça uma resposta eficaz ao clamor da terra e ao clamor dos pobres.”
Fonte: Canção Nova