O Pe. Antônio Hofmeister e o jornalista Daniel Scola tem o pontificado do Papa Francisco em comum: em 2013 os dois se conheceram em Roma, enquanto o primeiro era motorista de cardeais brasileiros que participavam do conclave que elegeu Bergoglio e o segundo fazia cobertura do evento internacional para o Rio Grande do Sul. Neste mês, após 10 anos de amizade – e de pontificado -, vem a bênção e a recomendação do Pontífice a Scola, que sofreu com um câncer raro: comer polenta.
São 10 anos de amizade abençoada pelo seu responsável: o próprio Papa Francisco. Esta é a história de dois gaúchos que acabam de se reencontrar em Roma: Daniel Scola, jornalista e apresentador da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre/RS, e Padre Antônio Hofmeister, da arquidiocese da capital gaúcha, há 3 anos trabalhando no Vaticano. Eles se conheceram naquele início de março de 2013, enquanto ambos trabalhavam em virtude do mesmo objetivo: o conclave que elegeria o sucessor de Bento XVI, como recorda Pe. Antônio:
Pe. Antônio – “Ele não podia falar e entrevistar os cardeais, pois antes dos conclaves os cardeais são proibidos de falar. Então, ele entrevistava quem fazia de motorista: que, no caso, era eu. Eu morava no Colégio Pio Brasileiro e servia como motorista de três cardeais brasileiros que estavam hospedados lá, trazendo-os para as reuniões – chamadas Congregações Gerais – as reuniões de antes do conclave.”
Scola – “Como tinha muito cardeal, já tinha mais de cem, eu comprei um pôster. Colei na parede do meu quarto com as fotos e os nomes de todos. Lá no cantinho tinha uma foto e a informação: ‘cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. Ele estava num canto, tá. Não estava em cima. E eu estava transmitido ao vivo para a Rádio Gaúcha naquele 13 de março de 2013, ali da frente da Basílica de São Pedro. Fazia naquele dia 5 graus e chovia, mas a gente estava ali. E tinha uma torcida brasileira, padres e freiras enrolados em bandeiras do Brasil. Por isso que quando apareceu o cardeal Bergoglio na sacada da Basílica eu disse ‘é argentino, não é brasileiro’. ‘É argentino!’, e aí ficou essa frase: ‘o Papa é argentino!’. E aí, 10 anos depois, eu vim aqui para passear (lá eu estava trabalhando), agora vim para passear. E aí aconteceu isso, o encontro com o Papa Francisco.”
“Pela primeira vez eu beijei a mão de alguém. E primeira vez também que eu fiquei trêmulo, não sabia o que fazer, porque daquele cardeal que era mais um entre 100, agora o cara é Papa, tu entende?”
O dedo divino e a bênção do Papa 10 anos depois
O encontro aconteceu na metade do mês de outubro, na Casa Santa Marta. Daniel Scola conta que trouxe fotos com familiares e amigos para serem abençoados e deu duas coisas para o Papa: um pacote de erva-mate do Rio Grande do Sul e material fotográfico sobre a cidade Porto Alegre. Na oportunidade, o Pe. Antônio contou a Francisco a história da amizade dos dois e também da luta do jornalista, de 47 anos, que venceu um câncer no cerebelo, raro entre adultos, que descobriu em julho de 2021. Do Pontífice veio a recomendação mais insólita, típica para que vem do sul do Brasil com forte imigração italiana:
Scola – “O Papa me abençoou e disse assim: ‘polenta. Isso é muita polenta. Coma muita polenta’. Eu fiz duas cirurgias, 33 sessões de radioterapia e 6 ciclos de quimioterapia. Aí me livrei dele em 26 de maio de 2022. E desde, então, estou fazendo todos os dias fisioterapia e fonoaudiologia. Antes do câncer eu tinha uma voz de locutor, trabalhava na Rádio Gaúcha; ainda trabalho, só que eu não falo. Hoje a minha voz está assim. E é resultado do tratamento, que é muito pesado, salva a vida, porém, fica com sequelas: uma delas é isso aqui. Tem um dedo divino aí! E o encontro com o Papa depois disso tudo? Chego a ficar arrepiado só em pensar no que aconteceu.”
Pe. Antônio – “O Scola disse: com certeza tem um dedinho de Deus. Eu tenho também essa certeza, porque eu lembro que quando ele recebeu o diagnóstico, ele me mandou uma mensagem: ‘amigo, reza por mim porque aconteceu isso, eu tive um diagnóstico de um câncer’. E não só eu rezei, mas como também pedi para gente que eu sei que reza para valer, pedi que rezasse também, então, tenho certeza que o poder da oração é muito grande.”
“Tanta gente talvez que nunca viu o Scola, mas conhecia a voz do Scola e rezou por ele. Com certeza tem o dedinho de Deus para que ele tivesse aqui, 10 anos depois, para a gente se encontrar aqui em Roma e, desta vez, o Papa não estava lá no balcão, estava ali na nossa frente.”
Fonte: Vatican News