Francisco retomou a contribuição do trabalho teológico de Bento XVI, dizendo que a premiação oferece uma indicação de linhas de compromisso, estudo e de vida de grande significado
Na manhã desta quinta-feira, 1º, o Papa Francisco discursou na cerimônia de entrega do “Prêmio Ratzinger”, um prêmio internacional anual concedido pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI. O prêmio reconhece estudiosos que se destacaram por sua investigação científica na área da teologia.
Francisco iniciou o discurso cumprimentando os dois ganhadores deste ano: o padre Michel Fédou e o Prof. Joseph Halevi Horowitz Weiler.
Bento XVI
Expressando seu agrado por participar da cerimônia, o Papa disse que a ocasião se torna importante para reafirmar a contribuição do Papa Bento XVI com seu trabalho teológico e, de modo mais geral, com seu pensamento que continua sendo frutífero e eficaz.
Recordou também que a participação pessoal como especialista do Papa emérito no Concílio Vaticano II foi exitosa em seu empenho e que foi importante inclusive para a gênese de alguns documentos. “Ele nos ajudou a ler os documentos conciliares em profundidade, propondo uma ‘hermenêutica da reforma e da continuidade’”.
Ainda recordando a imensa contribuição do Papa emérito, disse: “Além do magistério pontifício do Papa Bento XVI, suas contribuições teológicas são novamente oferecidas para nossa reflexão através da publicação da Opera Omnia, cuja edição em alemão está quase terminada”.
O Pontífice enfatizou que essas contribuições oferecem à Igreja uma sólida base teológica. “Uma Igreja ‘viva’, que nos ensinou a ver e viver como comunhão, e que é um caminho- em ‘synodos’ – guiada pelo Espírito do Senhor, sempre aberta à missão de proclamar o Evangelho e de servir o mundo em que vive”.
Voltando o olhar para a Fundação Vaticana Joseph Ratzinger, Francisco considerou que, a partir dela, os pensamentos de Bento XVI não ficam voltados para o passado. As contribuições de Bento são fecundas para o futuro, para a atuação do Concílio e para o diálogo entre a Igreja e o mundo de hoje. E isso nos campos mais atuais e debatidos, como a ecologia integral, os direitos humanos e o encontro entre diferentes culturas.
Os premiados do ano
No discurso, o Papa também falou sobre as duas personalidades que foram premiadas este ano. Duas pessoas que se destacaram “pelo notável trabalho que realizaram em seus respectivos campos de estudo e ensino”. São campos diferentes, mas ambos cultivados por Joseph Ratzinger e considerados por ele como de vital importância.
Referindo-se ao padre Michel Fédou, que “é um mestre da teologia cristã”, Francisco observou que, em sua vida dedicado ao estudo e ao ensino, ele se aprofundou particularmente nos trabalhos dos Padres da Igreja do Oriente e do Ocidente. Também se debruçou no desenvolvimento da cristologia ao longo dos séculos. Mas seu olhar não se fechou sobre o passado. Afirmou também que o conhecimento da tradição de fé alimentou no premiado um pensamento vivo, que também foi capaz de abordar questões atuais no campo do ecumenismo e das relações com outras religiões.
Francisco mostrou-se feliz pelo fato do Professor Weiler ter sido premiado. A primeira personalidade judaica a receber o Prêmio Ratzinger, que até agora tinha sido concedido apenas a estudiosos pertencentes a diferentes denominações cristãs. “Estou verdadeiramente feliz com isso. Num momento difícil, quando isso havia sido questionado, o Papa Bento XVI afirmou com firmeza e orgulho que ‘um objetivo de seu trabalho teológico pessoal havia sido desde o início a partilha e a promoção de todos os passos de reconciliação entre cristãos e judeus dados desde o Concílio’”.
Diálogo e amizade com os judeus
Concentrando-se no diálogo e amizade com os judeus, recordou que Bento XVI levou adiante essa intenção em seu pontificado em muitas ocasiões. “Não é o caso de enumerá-las aqui. Na mesma linha, eu, por minha vez, continuei, com ulteriores passos, no espírito de diálogo e amizade com os judeus que sempre me animou durante meu ministério na Argentina”.
A harmonia entre o Papa Emérito e o Prof. Weiler diz respeito particularmente a temas de importância substancial, observou Francisco, como a relação entre fé e razão jurídica no mundo contemporâneo; a crise do positivismo jurídico e os conflitos gerados pela extensão ilimitada dos direitos subjetivos; exercício da liberdade religiosa em uma cultura que tende a relegar a religião para o âmbito privado entre outros.
“Estes prêmios, portanto, além de representar um reconhecimento merecido, oferecem uma indicação de linhas de compromisso, estudo e de vida de grande significado, que despertam nossa admiração e pedem para que sejam propostos à atenção de todos”.
Fonte: Canção Nova