O Papa Francisco advertiu que o cristianismo “não é apenas uma ética”, porque é importante lembrar a pertença ao povo de Deus que não é elitista, nem se baseia apenas na moral e nos dogmas.
Assim indicou o Santo Padre em sua homilia da Missa na Casa Santa Marta desta quinta-feira, 7 de maio.
Comentando a primeira leitura da Liturgia do dia da Carta aos Hebreus (13, 13-25) “quando Paulo é convidado a falar na sinagoga de Antioquia para explicar esta nova doutrina, isto é, para explicar Jesus, proclamar Jesus, Paulo começa falando da história da salvação”.
Por esse motivo, o Papa lembrou que “Estêvão fez o mesmo antes do martírio e também Paulo, outra vez. O autor da carta aos Hebreus faz o mesmo, quando conta a história de Abraão e ‘todos os nossos pais’. Nós cantamos o mesmo hoje: ‘Cantarei eternamente o amor do Senhor, com a minha boca farei conhecer a tua fidelidade’. Cantamos a história de Davi: ‘Encontrei Davi, meu servo’. O mesmo fazem Mateus e Lucas: quando começam a falar de Jesus, partem da genealogia de Jesus”.
“O que há por trás de Jesus? Há uma história. Uma história de graça, uma história de eleição, uma história de promessa. O Senhor escolheu Abraão e caminhou com o seu povo”, afirmou o Papa, que acrescentou que no começo da Missa, “no canto de entrada, dissemos: ‘Quando avançavas, Senhor, diante de teu povo e abrias o caminho ao lado do teu povo, próximo do teu povo’. Há uma história de Deus com o seu povo. E por isso quando é pedido a Paulo que explique o porquê da fé em Jesus Cristo, não começa de Jesus Cristo: começa da história. O cristianismo é uma doutrina, sim, mas não só. Não só as coisas em que nós cremos: é uma história que traz esta doutrina que é a promessa de Deus, a aliança de Deus, ser eleitos por Deus”.
Nesse sentido, o Santo Padre alertou que “o cristianismo não é somente uma ética. Sim, realmente, tem princípios morais, mas não se é cristão somente com uma visão ética. É mais que isso. O cristianismo não é uma ‘elite’ de pessoas escolhidas para a verdade”.
Por isso, o Pontífice alertou para o risco de pensar ou dizer, pertencer a um movimento eclesial “que é melhor do que o seu”, etc. e observou que “o cristianismo não é isso: o cristianismo é pertença a um povo, a um povo escolhido por Deus gratuitamente. Se não tivermos essa consciência de pertença a um povo seremos cristãos ideológicos, com uma doutrina pequenina de afirmações de verdades, com uma ética, com uma moral – está bem – ou com uma elite. Sentimo-nos parte de um grupo escolhido por Deus – os cristãos –, os outros irão para o inferno ou se se salvam é pela misericórdia de Deus, mas são os descartados… E assim sucessivamente”.
“Se não temos uma consciência de pertença a um povo, não somos verdadeiros cristãos. Por isso Jesus explica desde o início, desde a história… Por outro lado, muitas vezes, nós caímos nesta parcialidade, sejam dogmáticas, morais ou elitistas. E o sentido de elite nos faz muito mal e perdemos aquele sentido de pertença ao santo povo fiel de Deus, que Deus elegeu em Abraão e prometeu a grande promessa, Jesus, e o fez caminhar com esperança e fez aliança com ele”.
Consciência de povo
Nesse sentido, o Santo Padre reconheceu que lhe impressiona uma passagem do livro de Deuteronômio, na qual está escrito que “uma vez por ano quando fores apresentar as ofertas ao Senhor, as primícias, e quando teu filho te perguntar: ‘Papai, por que fazes isto’, não deves dizer-lhe: ‘Porque Deus mandou’, não, mas sim contar a história, como Paulo fez aqui” e incentivou “a transmitir a história da salvação”.
Dessa maneira, o Pontífice enfatizou que “o Senhor no mesmo Deuteronômio aconselha: ‘Quando entrares na terra que não conquistastes, que eu conquistei, e comerás dos frutos que não plantastes e habitarás as casas que não edificastes, no momento de fazer a oferta’ recita o famoso credo do Deuteronômio (…).Canta a história, a memória de povo, a memória de um povo, de ser povo”.
“E nesta história houve tantos santos, pecadores e muitas pessoas comuns, boas, com as virtudes e os pecados, mas todos. A famosa multidão que seguia Jesus”, disse o Papa Francisco, que enfatizou novamente a importância de “pertencer a um povo, ter a memória de Deus”.
Por isso, o Santo Padre pediu recordar “aqueles que nos precederam neste caminho de salvação. Se alguém me perguntasse: Para o senhor, qual seria o desvio mais perigoso dos cristãos? Eu diria, sem duvidar: a falta de memória de pertença a um povo. Quando falta isso, vêm os dogmatismos, os moralismos… Falta o povo. Um povo pecador, sempre, todos o somos, mas que em geral não erra, que tem o faro de ser povo eleito, que caminha tendo recebido uma promessa e que fez uma aliança que talvez não cumpre, mas sabe pedir ao Senhor esta consciência de povo, que Nossa Senhora cantou belamente em seu Magnificat, que Zacarias cantou de modo tão belo em seu Benedictus, cânticos que rezamos todos os dias, pela manhã e à noite”.
“Consciência de povo: nós somos o santo povo fiel de Deus que, com diz o Concílio Vaticano I, e depois o II, na sua totalidade tem o faro da fé e é infalível neste modo de crer”, concluiu o Papa.
Leituras comentadas pelo Papa Francisco:
Atos 13, 13-25
13Paulo e seus companheiros embarcaram em Pafos
e chegaram a Perge da Panfília.
João deixou-os e voltou para Jerusalém.
14Eles, porém, partindo de Perge,
chegaram a Antioquia da Pisidia.
E, entrando na sinagoga em dia de sábado, sentaram-se.
15Depois da leitura da Lei e dos Profetas,
os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes:
‘Irmãos, se vós tendes alguma palavra
para encorajar o povo, podeis falar.’
16Paulo levantou-se,
fez um sinal com a mão e disse:
‘Israelitas e vós que temeis a Deus, escutai!
17O Deus deste povo de Israel
escolheu os nossos antepassados
e fez deles um grande povo
quando moravam como estrangeiros no Egito;
e de lá os tirou com braço poderoso.
18E, durante mais ou menos quarenta anos,
cercou-os de cuidados no deserto.
19Destruiu sete nações na terra de Canaã
e passou para eles a posse do seu território,
20por quatrocentos e cinqüenta anos aproximadamente.
Depois disso, concedeu-lhes juízes, até ao profeta Samuel.
21Em seguida, eles pediram um rei
e Deus concedeu-lhes Saul, filho de Cis,
da tribo de Benjamim,
que reinou durante quarenta anos.
22Em seguida, Deus fez surgir Davi como rei
e assim testemunhou a seu respeito:
‘Encontrei Davi, filho de Jessé,
homem segundo o meu coração,
que vai fazer em tudo a minha vontade.’
23Conforme prometera, da descendência de Davi
Deus fez surgir para Israel um Salvador,
que é Jesus.
24Antes que ele chegasse,
João pregou um batismo de conversão
para todo o povo de Israel.
25Estando para terminar sua missão,
João declarou: ‘Eu não sou aquele que pensais que eu seja!
Mas vede: depois de mim vem aquele,
do qual nem mereço desamarrar as sandálias’.
Fonte: acidigital