Em um novo livro lançado nesta terça-feira, 2, na Itália, o Papa Francisco afirma que o mundo poderia enfrentar uma catástrofe da proporção do dilúvio se os seres humanos não começarem a confrontar as mudanças climáticas.
O Santo Padre fez esta observação no livro-entrevista “Dei Vizzi e dele virtù” (Sobre os vícios e virtudes, em tradução livre), que transcreve o diálogo com o sacerdote Marco Pozza, publicado em italiano pela editora Rizzoli, no qual, entre outros temas, trataram o relato do dilúvio no Livro do Gênesis.
De acordo com um trecho do livro publicado pelo jornal Corriere delle Sera, o Papa afirma em relação ao acontecimento narrado no livro do Gênesis: “Uma grande enchente, talvez devido ao aumento das temperaturas e ao derretimento das geleiras: é isso que acontecerá se continuarmos no mesmo caminho”.
No livro, o padre e o Papa refletem sobre as sete virtudes e vícios, inspirados nas pinturas da Capela Scrovegni em Pádua. A capela contém 14 imagens monocromáticas do artista renascentista Giotto, nas quais o italiano personificou as virtudes e os vícios.
Na parede norte estão os vícios: a estultícia, a pusilanimidade, a cólera, a injustiça, a infidelidade, a inveja e o desespero. Na parede sul estão as virtudes: prudência, justiça, temperança, fortaleza, fé, caridade e esperança.
Os comentários do Papa sobre o dilúvio vieram durante uma conversa sobre a ira de Deus, que ele disse ter sido dirigida contra o mal que emana de Satanás no mundo.
“A ira de Deus busca trazer justiça e ‘purificar’. O Dilúvio é o resultado da ira de Deus, de acordo com a Bíblia”, disse o Papa no livro-entrevisa.
O Papa Francisco observou que alguns especialistas consideram o dilúvio, ou a grande enchente, como uma história mítica e ressaltou que não gostaria de ser mal interpretado, acusado de dizer que a Bíblia é um mito, mas sugeriu que o mito era uma forma de conhecimento da época dos autores das Sagradas Escrituras. No entanto, o Papa sustenta a historicidade do relato bíblico.
“O dilúvio é sim um relato histórico, e isto dizem os arqueólogos, porque encontraram evidências de uma grande inundação em suas escavações”, afirmou o pontífice.
Depois de se referir a uma possível nova grande enchente, o Santo Padre disse: “Deus libertou sua ira, mas viu um homem justo, o levou e o salvou.”
“A história de Noé mostra que a ira de Deus também é uma salvação”, pontuou.
Pe. Pozza é capelão de uma prisão na cidade de Pádua, no norte da Itália, realizou três entrevistas anteriormente com o Papa Francisco, dedicadas respectivamente ao Pai-Nosso, à Ave Maria e ao Credo, que foram exibidas na televisão italiana e publicadas como livros.
O padre de 41 anos, que frequentemente aparece vestido casualmente, é considerado uma estrela em ascensão na mídia italiana. No início de sua vida sacerdotal, ele ganhou o apelido de Padre “Spritz”, que é o nome de um popular coquetel italiano à base de vinho. O padre ficou conhecido assim pelo costume de realizar discussões com jovens católicos em bares.
Pozza chamou a atenção do Papa pela primeira vez em 2016, quando trouxe um grupo de detentos para visitar Francisco em sua residência, a Casa Santa Marta, no Jubileu de Prisioneiros no Ano da Misericórdia.
Ele ajudou a compilar as meditações para o Via Crucis papal no ano passado, realizadas em uma deserta praça de São Pedro na Sexta-feira Santa, devido ao surto de Covid-19 na Itália.
No novo livro, o Papa também discutiu a relação entre fé e dúvida. Ele argumentou que, embora o diabo semeie dúvidas, um acerto de contas honesto com as nossas dúvidas pode levar ao crescimento espiritual.
De acordo com o Vatican News, o Papa disse: “O pensamento de ser abandonado por Deus é uma experiência de fé que muitos santos experimentaram, juntamente com muitas pessoas hoje que se sentem abandonadas por Deus, mas não perdem a fé. Eles tomam o cuidado de cuidar do presente: ‘Agora eu não sinto nada, mas eu guardo o dom da fé'”.
“O cristão que nunca passou por esses estados mentais não tem nada, porque significa que eles se estabeleceram por menos. Crises de fé não são faltas contra a fé. Pelo contrário, elas revelam a necessidade e o desejo de entrar mais plenamente nas profundezas do mistério de Deus. Uma fé sem essas provações me leva a duvidar que é fé verdadeira”.
Fonte: acidigital