Ainda se recuperando de uma “leve gripe”, o Papa Francisco encontrou-se com os peregrinos reunidos para a Audiência Geral. Na Sala Paulo VI, ele deu prosseguimento ao ciclo de reflexões sobre vícios e virtudes.
Na semana anterior, a Audiência havia sido desmarcada em razão do retiro espiritual feito pelo Pontífice e outros religiosos para a prática de exercícios quaresmais. Nesta quarta-feira, 28, ele esteve presente, mas pediu que o colaborador da Secretaria de Estado, Dom Filippo Ciampanelli, lesse o texto preparado, por ainda estar um pouco resfriado.
A inveja leva ao ódio dos outros
Na reflexão, o Santo Padre escreveu sobre a inveja e a vanglória. Em relação à primeira, aponta que se trata de um dos mais antigos vícios apresentados à humanidade, relatado na história de Caim e Abel. O livro do Gênesis relata que Caim odiava Abel, porque os sacrifícios do seu irmão agradavam a Deus.
“O rosto do invejoso é sempre triste: o seu olhar está abaixado, parece examinar continuamente o chão, mas, na realidade, não vê nada, porque a mente está envolvida por pensamentos cheios de malícia. A inveja, se não for controlada, leva ao ódio pelos outros. Abel será morto pelas mãos de Caim, que não podia suportar a felicidade do irmão”, leu Dom Ciampanelli.
Francisco destaca que, na raiz da inveja, há uma relação de amor e ódio, uma vez que o invejoso deseja mal ao outro ao mesmo tempo em que deseja ser como ele. Além disso, sinaliza que esse vício cria uma “falsa ideia de Deus”, que tem sua própria “matemática”.
“Gostaríamos de impor a Deus a nossa lógica egoísta, mas a lógica de Deus é o amor. Os bens que Ele nos dá são feitos para serem partilhados. É por isso que São Paulo exorta os cristãos: ‘Com amizade fraterna, sede afetuosos uns com os outros. Rivalizai uns com os outros na estima recíproca’ (Rm 12,10). Eis aqui o remédio para a inveja”, expressa no texto.
A vanglória leva ao desejo de ser o centro do mundo
Na sequência, a reflexão se volta para a vanglória. O Papa indica que este vício, “anda de mãos dadas” com a inveja, sendo ambas típicas de quem aspira ser o centro do mundo, livre para explorar tudo e todos, objeto de todo louvor e todo amor:
“A pessoa vangloriosa não tem empatia e não percebe que existem outras pessoas no mundo além dela. As suas relações são sempre instrumentais, caracterizadas pela opressão dos outros. A sua pessoa, as suas façanhas, os seus sucessos devem ser mostrados a todos: é uma perpétua mendiga da atenção. E se, às vezes, suas qualidades não são reconhecidas, fica extremamente irritada. Os outros são injustos, não entendem, não estão à altura”, observa o Pontífice.
Na leitura do texto, Dom Ciampanelli afirma que os mestres espirituais não sugerem muitos remédios para curar este vício. Isso porque a vanglória carrega o seu próprio antídoto, pois os elogios que se esperava receber logo se voltam contra o vanglorioso. “Quantas pessoas, iludidas por uma falsa imagem de si mesmas”, pontua o Santo Padre, “caíram em pecados dos quais logo se envergonhariam”.
Contudo, ele aponta para a mais bela instrução para vencer a vanglória, encontrada no testemunho de São Paulo. “O Apóstolo sempre teve que lidar com uma falha que nunca foi capaz de superar”, sinaliza Francisco, acrescentando que Paulo, “três vezes, pediu ao Senhor que o libertasse daquele tormento, mas, no final, Jesus respondeu-lhe: ‘Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se consuma’. A partir daquele dia, Paulo foi libertado”.
Por fim, o Papa enfatiza que a conclusão à qual Paulo chegou “deveria tornar-se também a nossa: ‘É, portanto, de bom grado que prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo’ (cf. 2Cor 12,9)”.
Fonte: Canção Nova