Essa é a 39ª viagem apostólica de Francisco, que foi anteriormente ao Cazaquistão em setembro; discurso às autoridades marcou o início da programação
O Papa Francisco iniciou uma viagem ao Bahrein nesta quinta feira, 3. Ele desembarcou no país após mais de cinco horas de voo em uma viagem na qual ele se define como peregrino da paz. Seu primeiro discurso foi no encontro com as autoridades, a sociedade civil e diplomatas.
Logo no início do discurso, o agradecimento ao Rei do Bahrein, Sua Majestade Hamad bin Isa bin Salman Al Khalifa, pelo “amável convite para visitar o Reino do Bahrein” e pelo “caloroso e generoso acolhimento” em suas palavras de boas-vindas.
O Papa comentou que, ao preparar-se para essa viagem, tomou conhecimento de um emblema que é símbolo de vitalidade e caracteriza o país: “A Árvore da vida”, (Shajarat-al-Hayat), sobre a qual se inspirou para partilhar algumas ideias.
As raízes: valorização do passado
“Uma majestosa acácia, que, há séculos, sobrevive numa zona deserta, onde a chuva é muito escassa. Parece impossível que uma árvore tão longeva resista e prospere em tais condições.”
O Papa ressaltou que, na opinião de muitos, o segredo estaria nas raízes, que se estendem por dezenas de metros sob o solo, recorrendo aos depósitos subterrâneos de água. “As raízes! O Reino do Bahrein empenha-se na pesquisa e valorização do seu passado, que fala duma terra extremamente antiga, para onde, já há milênios, acorriam os povos, atraídos pela sua beleza, resultante em particular das abundantes nascentes de água doce que lhe deram a fama de ser paradisíaca”.
Lugar de encontro
Francisco ressaltou um aspecto que sobressai no Bahrein: este sempre foi lugar de encontro entre populações diferentes. “Está aqui a água vital, aonde vão ainda hoje beber as raízes do Bahrein, cuja maior riqueza se vê na sua variedade étnica e cultural, na convivência pacífica e no tradicional acolhimento da população.”
Para Francisco, esta é uma diversidade, não homogeneizadora, mas inclusiva que constitui o tesouro de qualquer país verdadeiramente evoluído. “E, nestas ilhas, pode-se admirar uma sociedade mista, multiétnica e multirreligiosa, que foi capaz de superar o perigo do isolamento. Isto é muito importante no nosso tempo, cujo excludente retraimento em si mesmo e nos próprios interesses impede de captar a irrenunciável importância do todo”.
A importância do diálogo
O Papa disse, então, estar na terra da árvore da vida, como semeador de paz, para viver dias de encontro, participar num Fórum de diálogo entre Oriente e Ocidente em prol da coexistência humana pacífica. Um caminho fraterno que quer favorecer a paz na Terra, observou o Pontífice.
Francisco também manifestou o seu apreço pelas conferências internacionais e as oportunidades de encontro que este Reino organiza e favorece, centrando-se especialmente na temática do respeito, da tolerância e da liberdade religiosa.
“São pontos essenciais, reconhecidos pela Constituição do país, onde se estabelece que ‘não deve haver discriminação alguma com base no sexo, na proveniência, na língua, na religião ou no credo’ (art. 18), que ‘a liberdade de consciência é absoluta’ e que ‘o Estado tutela a inviolabilidade do culto’ (art. 22).
Trata-se sobretudo de compromissos, é o que explica Francisco, “que hão de traduzir se constantemente na prática, para que a liberdade religiosa se torne plena, não se limitando à liberdade de culto; para que igual dignidade e paridade de oportunidades sejam reconhecidas concretamente a todo o grupo e a toda a pessoa”.
O Papa enxerga que acontece assim na prática para que não haja discriminações e os direitos humanos fundamentais não sejam violados, mas promovidos. “Penso, antes de mais nada, no direito à vida, na necessidade de o garantir sempre, mesmo em relação a quem é punido, cuja existência não pode ser eliminada. Voltemos à árvore da vida. Os múltiplos ramos de diferente tamanho que a caracterizam, com o passar do tempo, deram vida a espessas ramagens, fazendo crescer a sua altura e circunferência”.
Promoção dos direitos
Precisamente no Bahrein a contribuição de tantas pessoas de diferentes povos consentiu um notável progresso produtivo. Francisco afirmou que isto tornou-se possível graças à imigração que registra no Reino do Bahrein uma das taxas mais elevadas do mundo: cerca de metade da população residente é estrangeira e trabalha de forma significativa para o progresso dum país, onde – tendo deixado a própria pátria – se sente em casa.
Para o Papa, não se pode esquecer que, nos nossos dias, há ainda muita falta de trabalho e demasiado trabalho desumano. Isto acarreta não só graves riscos de instabilidade social, mas representa um atentado à dignidade humana. O Pontífice defendeu condições laborais seguras e dignas do homem, que não impeçam, mas favoreçam a vida cultural e espiritual; que promovam a coesão social, em proveito da vida comum e do próprio progresso dos países.
O Bahrein pode gloriar-se de preciosas conquistas neste sentido, indicou Francisco. Ele incentivou que o país continue a ser farol na promoção em toda a área dos direitos e condições iguais e cada vez melhores para os trabalhadores, as mulheres e os jovens.
Fazer a vida prosperar
O Papa continuou o discurso dizendo que a árvore da vida, que se ergue, solitária, na paisagem desértica, o sugere ainda dois âmbitos decisivos para todos. Interpelam, primariamente, quem, governando, detém a responsabilidade de servir o bem comum.
“Em primeiro lugar, a questão ambiental: quantas árvores são derrubadas, quantos ecossistemas devastados, quantos mares poluídos pela ganância insaciável do homem, cuja conta se deve pagar depois!”, disse o Papa. Ele incentivou todos que não se cansarem de trabalhar em prol desta dramática pendência, realizando opções concretas e previdentes.
Em segundo lugar, o Papa afirmou que, do subsolo, a água vital se comunica ao tronco e, em seguida deste, aos ramos, e sucessivamente às folhas, que dão oxigênio às criaturas. “Faz-me pensar na vocação do homem, de todo o homem que está na terra: fazer a vida prosperar.”
Rejeitar a lógica das armas
Sobre as ações e ameaças de morte que se assiste, hoje e sempre mais cada dia, o Papa disse que, de modo particular, pensa na realidade monstruosa e insensata da guerra, que semeia por toda a parte destruição e erradica a esperança.
“Na guerra, aparece o lado pior do homem: egoísmo, violência e mentira. Sim, porque a guerra, qualquer guerra, constitui também a morte da verdade. Rejeitemos a lógica das armas e invertamos o rumo, transformando as enormes despesas militares em investimentos para combater a fome, a falta de cuidados sanitários e de instrução. Tenho no coração a tristeza por tantas situações de conflito.”
Ao olhar para a Península Arábica, Francisco dirigiu um pensamento especial e sentido ao Iémen, martirizado por uma guerra esquecida que, como qualquer guerra, não leva a nenhuma vitória, mas apenas a amargas derrotas para todos. “Recordo na oração sobretudo os civis, as crianças, os idosos, os doentes, e imploro: calem-se as armas, empenhemo-nos por toda parte e de verdade em prol da paz!”
A respeito disto, a Declaração do Reino do Bahrein reconhece que a fé religiosa é “uma bênção para todo o gênero humano”, o alicerce “para a paz no mundo”. “Estou aqui como crente, como cristão, como homem e peregrino da paz, porque hoje, mais do que nunca, somos chamados a empenhar-nos seriamente, por todo o lado, em prol da paz.
Fonte: Canção Nova