No Domingo de Ramos, o papa Francisco celebrou a missa da Paixão do Senhor na Praça de São Pedro. Em sua homilia, o papa afirmou que, “na loucura da guerra”, “se torna a crucificar Cristo”.
“Cristo é pregado na cruz mais uma vez nas mães que choram a morte injusta de maridos e filhos. É crucificado nos refugiados que fogem das bombas com os meninos no braço. É crucificado nos idosos deixados sozinhos a morrer, nos jovens privados de futuro, nos soldados mandados a matar os seus irmãos. Hoje, Cristo está crucificado aí”, disse o papa sobre a guerra na Ucrânia, que acontece desde 24 de fevereiro.
Como é tradição, Francisco abençoou os ramos de oliveira dos presentes. Em seguida, um diácono cantou a passagem do evangelho de são Lucas que narra a entrada de Jesus em Jerusalém. Depois, aconteceu a procissão formada por alguns cardeais.
Durante a missa, foram lidas as leituras e cantado o evangelho da Paixão do Senhor por três solistas e um coro.
No início de sua homilia, o papa Francisco recordou as palavras daqueles que crucificaram Jesus: “Salva-te a ti mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito”.
Diante dessas palavras, o papa destacou que a frase “salva-te a ti mesmo” é “o refrão da humanidade que crucificou o Senhor”, e que leva as pessoas a ” a si mesmo, olhar por si mesmo, pensar em si mesmo; não nos outros, mas apenas na própria saúde, no próprio sucesso, nos próprios interesses; ter, poder e aparecer”.
Francisco encorajou a refletir sobre isso e assegurou que “à mentalidade do ‘eu’ opõe-se a de Deus”, já que Jesus “marca a diferença do salva-te a ti mesmo” com a frase “Pai, perdoa-lhes”.
O papa continuou enfatizando que Jesus “não repreende os algozes nem ameaça castigos em nome de Deus, mas reza pelos ímpios. Cravado no patíbulo da humilhação, aumenta a intensidade do dom, que se torna ‘perdão’”.
“Fixemos Jesus na cruz e vejamos que nunca recebemos um olhar mais terno e compassivo. Fixemos Jesus na cruz e convençamo-nos de que nunca recebemos um abraço mais amoroso. Fixemos o Crucificado e digamos: ‘Obrigado, Jesus! Amas-me e perdoas-me sempre, mesmo quando me custa amar e perdoar a mim mesmo’”, disse o papa Francisco.
Além disso, o papa destacou que Cristo rompe assim “o círculo vicioso do mal e dos queixumes”, algo que nos ensina “reagir aos cravos da vida com o amor, aos golpes do ódio com a carícia do perdão”.
“Senhor pede-nos para responder, não como nos apetece a nós nem como fazem todos, mas como Ele procede conosco”, disse o papa. Assegurou ainda que “Deus vê um filho em cada um. Não nos divide em bons e maus, em amigos e inimigos. Somos nós que o fazemos, fazendo-O sofrer. Para Ele, todos somos filhos amados, que deseja abraçar e perdoar”.
“Vemos isto também naquele convite para o banquete de núpcias do filho: aquele senhor envia os seus servos à encruzilhada dos caminhos, dizendo-lhes ‘tragam todos, brancos, pretos, bons e maus, todos, sãos e doentes, todos…’. O amor de Jesus é para todos; nisto, não há privilégios. Todos. O privilégio de cada um de nós é ser amado, perdoado”, destacou.
Na guerra Cristo volta a ser crucificado
O papa Francisco afirmou que Jesus “faz-se nosso advogado” e “não se coloca contra nós, mas por nós e contra o nosso pecado”.
Também lamentou que “esquece-se a razão por que se está no mundo e chega-se a realizar absurdas crueldades”. Francisco disse que isso pode ser visto “na loucura da guerra, onde se torna a crucificar Cristo. Sim, Cristo é pregado na cruz mais uma vez nas mães que choram a morte injusta de maridos e filhos. É crucificado nos refugiados que fogem das bombas com os meninos no braço. É crucificado nos idosos deixados sozinhos a morrer, nos jovens privados de futuro, nos soldados mandados a matar os seus irmãos. Hoje, Cristo está crucificado aí”.
Por fim, o papa lembrou o bom ladrão e a forma como Jesus o perdoou. “Eis o prodígio do perdão de Deus, que transforma o último pedido deum condenado à morte na primeira canonização da história”.
“Com Jesus, a vida nunca acaba. Nunca é tarde demais; com Deus, sempre se pode voltar a viver”, disse Francisco.
“Cristo intercede continuamente por nós junto do Pai e, olhando para o nosso mundo violento e, o nosso mundo ferido, não Se cansa de repetir – e em silêncio, no coração, repitamos com Ele –: Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem”, concluiu o papa Francisco.
Ao querido povo do Peru
Ao final da missa, durante a oração do Ângelus, o papa Francisco demonstrou sua proximidade ao “querido povo do Peru, que está atravessando um difícil momento de tensão social”.
“Acompanho-os com a oração e encorajo todas as partes a encontrar uma solução pacífica o mais rápido possível para o bem do país, especialmente dos mais pobres, no respeito aos direitos de todos e das instituições”, disse o papa Francisco.
Nada é impossível para Deus
O Papa também dirigiu seu olhar para a Maria, lembrando que o anjo disse à Virgem “que nada é impossível para Deus”.
“Nada é impossível para Deus, inclusive fazer cessar uma guerra da qual não se vê o fim, uma guerra que todos os dias nos coloca diante dos olhos massacres hediondos e atrozes crueldades realizados contra civis inermes. Rezemos por esta intenção”, pediu o papa.
“Hoje há a guerra, porque se quer vencer assim, de maneira mundana, mas assim somente se perde. Por que não deixar que Ele vença? Cristo carregou a cruz para nos libertar do domínio do mal, morreu para que reine a vida, o amor e a paz”, disse.
Em seguida, o papa pediu novamente: “Deponham-se as armas, se inicie uma trégua pascal, mas não para recarregar as armas e retomar o combate, não! Uma trégua para se chegar à paz através de uma verdadeira negociação, disponíveis também a qualquer sacrifício pelo bem das pessoas. Com efeito, que vitória será aquela que fincará uma bandeira sobre um acúmulo de escombros?”, questionou.
“Nada é impossível a Deus. A Ele confiamos por intercessão da Virgem Maria”, concluiu.
Por fim, o papa Francisco subiu no papamóvel para saudar os fiéis presentes na Praça de São Pedro, algo que não acontecia há dois anos devido à pandemia de covid-19.
Fonte: ACI Digital