Nesta quinta-feira (30), ao receber a Congregação para a Doutrina da Fé, o Papa Francisco falou do valor intangível da vida humana, do cuidado dos doentes nas fases críticas e terminais, e da necessidade de reescrever a “gramática” ao assumir e cuidar da pessoa que sofre. Presente na audiência no Vaticano, o arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã desta quinta-feira (30), na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes da assembleia plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, inclusive, o arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
As palavras do Pontífice foram dedicadas ao cuidado das pessoas nas fases críticas e terminais da vida, além da urgência de “converter o olhar do coração” à luz da compaixão. O Papa sublinhou o bem que fazem os asilos, onde se pratica a “terapia da dignidade”. Francisco exortou, então, a prosseguir com firmeza o estudo em relação à revisão das normas sobre delicta graviora, contidas no Motu proprio “Sacramentorum sanctitatis tutela”, de João Paulo II, para seguir na estrada da transparência e do respeito da dignidade dos menores.
A doutrina, uma realidade dinâmica
O Pontífice começou o discurso agradecendo pelo trabalho desenvolvido a serviço da Igreja na promoção e tutela da integridade da doutrina cristã – que não é “um sistema rígido e fechado em si” e nem mesmo “uma ideologia”. O Papa descreveu o conceito como sendo uma “realidade dinâmica”, que se “renova de geração em geração” e se resume “num rosto, num corpo e num nome: Jesus Cristo Ressuscitado”.
“Graças ao Senhor Ressuscitado, a fé se abre ao próximo e às suas necessidades, daquelas menores até as maiores. Por isso, a transmissão da fé exige que se considere o seu destinatário, que se conheça ele e o ame efetivamente.”
O tema da preciosidade da vida humana
O Papa Francisco então discorreu sobre o contexto sociocultural vivido atualmente com o enaltecimento da “eficiência e utilidade” da vida humana e a “perda dos valores autênticos” em detrimento aos “deveres imperativos da solidariedade e da fraternidade” que rendem a vida preciosa. O Pontífice explicou:
“Na realidade, uma sociedade merece a qualificação de ‘civil’ se desenvolve os anticorpos contra a cultura do descarte; se reconhece o valor intangível da vida humana; se a solidariedade é efetivamente praticada e protegida como fundamento da convivência. Quando a doença bate à porta da nossa vida, aflora sempre mais em nós a necessidade de ter próximo alguém que nos olhe nos olhos, que segure a mão, que manifeste a sua ternura e cuide de nós, como o Bom Samaritano da parábola evangélica (Mensagem para XXVIII Dia Mundial do Enfermo, 11/02/2020).”
A “gramática” da cura
O Papa então recordou o quanto é importante a compaixão, “um refrão” no Evangelho, e a presença de um Bom Samaritano, uma “plataforma humana de relações”, que abrem à esperança, bálsamo para acalmar o “desconforto emotivo” e a “angústia espiritual”. “Não abandonar jamais ninguém”, sublinhou Francisco, “em presença de maus incuráveis. A vida humana, devido o seu destino eterno, conserva todo o seu valor e toda a sua dignidade em qualquer condição, inclusive de precariedade e fragilidade, e, como tal, é sempre digna da máxima consideração”.
“O tema do cuidado dos doentes, nas fases críticas e terminais da vida, chama em causa a tarefa da Igreja de reescrever a ‘gramática’ do assumir e do cuidar da pessoa que sofre. O exemplo do Bom Samaritano ensina que é necessário converter o olhar do coração porque, muitas vezes, quem olha não vê. Por quê? Porque falta a compaixão. Sem a compaixão, quem olha não se sente envolvido naquilo que observa e passa além; ao contrário, quem tem o coração compassivo é tocado e envolvido, se detém e cuida.”
A terapia da dignidade
“Quem, no caminho da vida, acendeu também apenas uma chama na hora escura de alguém não viveu em vão”: Francisco citou Santa Teresa de Calcutá para desenhar “o estilo da proximidade e da partilha”, “tornando mais humano o morrer”. Uma tarefa importante que hoje realizam os asilos.
“A esse propósito, penso quanto bem fazem os asilos para os cuidados paliativos, onde os doentes terminais são acompanhados com um qualificado apoio médico, psicológico e espiritual, para que possam viver com dignidade, confortados da proximidade das pessoas queridas, a fase final da vida terrena deles. Desejo que tais centros continuem a ser lugares nos quais se pratiquem com empenho a ‘terapia das dignidade’, alimentando assim o amor e o respeito pela vida.”
Rigor e transparência
O Pontífice ainda expressou apreço pelo estudo iniciado sobre a revisão das normas sobre os delicta graviora, contidas no Motu proprio “Sacramentorum sanctitatis tutela”, de São João Paulo II. Um empenho que se coloca na direção de uma atualização da normativa para tornar mais eficazes os procedimentos à luz das novas situações e problemáticas do atual contexto sociocultural.
“Exorto vocês a prosseguir com firmeza nessa tarefa para oferecer uma contribuição válida num âmbito em que a Igreja está diretamente envolvida a prosseguir com rigor e transparência no tutelar a santidade dos Sacramentos e a dignidade humana violada, especialmente dos pequenos.”
Enfim, Francisco parabenizou o documento elaborado pela Pontifícia Comissão Bíblica sobre os temas fundamentais da antropologia bíblica que aprofunda “uma visão global do projeto divino, iniciado com a criação e que encontra a sua realização em Cristo, o Homem novo”, “a chave, o centro e o fim de toda a história humana”.
Rádio Vaticano