Nesta quarta-feira, 23, Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses dedicado ao tema do sentido e o valor da velhice
O Papa Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses, nesta quarta-feira, 23, dedicado ao tema do sentido e o valor da velhice. Segundo o Pontífice, esta idade da vida diz respeito a um verdadeiro “novo povo” que são os idosos.
“Nunca fomos tão numerosos na história da humanidade”, sublinhou o Santo Padre. O “risco de sermos descartados é ainda mais frequente: os idosos muitas vezes são vistos como um peso”.
Segundo o Papa, na primeira fase dramática da pandemia, foram os idosos que pagaram o preço mais alto. “Já eram a parte mais frágil e transcurada”. Francisco aconselhou as pessoas mais idosas a lerem a Carta do Direito dos Idosos.
Junto com a migração, prosseguiu o Pontífice, a velhice está entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento. “Não se trata apenas de uma mudança quantitativa; está em jogo a unidade das idades da vida, ou seja, o verdadeiro ponto de referência para a compreensão e apreciação da vida humana em sua totalidade. Existe amizade, existe aliança entre as diferentes idades da vida ou prevalece a separação e o descarte?”.
Inverno demográfico
Segundo o Santo Padre, vivemos em um presente onde convivem crianças, jovens, adultos e idosos. No entanto, a proporção mudou: a longevidade tornou-se massa e, em grandes regiões do mundo, a infância é distribuída em pequenas doses. “Falamos também do inverno demográfico. Um desequilíbrio que tem muitas consequências”.
Francisco afirmou que a cultura dominante tem como modelo único o jovem adulto, ou seja, um indivíduo que é autodidata e que sempre permanece jovem.
“Mas é verdade que a juventude contém todo o sentido da vida, enquanto a velhice simplesmente representa o seu esvaziamento e sua perda? É verdade isso? Somente a juventude contém o sentido pleno da vida, e a velhice é o esvaziamento da vida, a perda da vida? A exaltação da juventude como a única idade digna de encarnar o ideal humano, aliada ao desprezo pela velhice vista como fragilidade, degradação ou deficiência, foi o ícone dominante do totalitarismo do século XX. Será que esquecemos isso?”, questionou.
De acordo com o Papa, o prolongamento da vida tem um impacto estrutural na história dos indivíduos, das famílias e das sociedades. De fato, na representação do sentido da vida, e nas chamadas culturas “desenvolvidas”, a velhice tem pouca incidência, comentou. Isso, segundo Francisco, porque é considerada uma idade que não tem conteúdos especiais para oferecer, nem significados próprios para viver. “Falta o incentivo das pessoas a procurá-los, e falta educação da comunidade para reconhecê-los”.
Cultura do descarte
Em suma, o Pontífice destacou que para uma idade que é parte decisiva do espaço comunitário e se estende por um terço de toda a vida, há – às vezes – planos de assistência, mas não projetos de existência.
“Planos de assistência, sim; mas não projetos para fazê-los viver plenamente. E isso é um vazio de pensamento, imaginação, criatividade. Sob esse pensamento, o que cria o vazio é que o idoso, a idosa são material de descarte: nessa cultura do descarte, os idosos entram como material de descarte. A aliança entre gerações, que restitui ao humano todas as idades da vida, é o nosso dom perdido e devemos recuperá-lo. Deve ser reencontrado nesta cultura do descarte e nesta cultura de produtividade”.
Segundo Francisco, quando os idosos comunicam seus sonhos, os jovens veem bem o que devem fazer. Os jovens que não mais questionam os sonhos dos idosos, farão fadiga para carregar o seu presente e suportar seu futuro. Se os avós se voltam para suas melancolias, os jovens vão olhar ainda mais para seus celulares. A tela pode permanecer ligada, mas a vida se extingue antes do tempo”, disse.
“A repercussão mais grave da pandemia não está na desorientação dos jovens? Os idosos têm recursos de vida já vivida aos quais podem recorrer a qualquer momento. Ficarão a ver os jovens perderem a visão ou vão acompanhá-los aquecendo seus sonhos? Diante dos sonhos dos velhos, o que farão os jovens? A velhice é um dom para todas as idades da vida. É um dom de maturidade, de sabedoria”, sublinhou.
Idosos e jovens
O Papa frisou que é importante a interlocução dos jovens com os idosos e os idosos com os jovens. Para o Santo Padre, esta ponte será a transmissão da sabedoria na humanidade.
“Espero que essas reflexões sejam úteis para todos nós, para levar adiante esta realidade que o profeta Joel dizia, de que no diálogo entre jovens e idosos, os idosos possam doar sonhos e os jovens possam recebê-los e levá-los adiante. Não nos esqueçamos que tanto na cultura familiar quanto na social, os idosos são como as raízes da árvore: eles têm toda a história ali, e os jovens são como flores e frutos”.
O Pontífice concluiu, dizendo que se o suco não vier das raízes, nunca poderão florescer. “Tudo o que há de bonito numa sociedade está relacionado às raízes dos idosos. Por isso, nestas catequeses, gostaria que emergisse a figura do idoso, para que se entenda bem que o idoso não é um material de descarte, mas uma benção para uma sociedade”.
Fonte: Canção Nova