Conhecemos São Paciano sobretudo pelos seus escritos e pelo testemunho de São Jerônimo que, um ano após a morte do santo bispo, dizia: "Paciano, bispo de Barcelona, nas faldas dos Pirinéus, de correta eloqüência, e tão esclarecido pela sua vida como pela sua fala, compôs vários opúsculos contra os Novacianos. Morreu no tempo de Teodósio". Sucedeu ao bispo Pretextato, durante o último quartel do século IV.
Acrescenta São Jerônimo que Paciano, casado a sua juventude, teve um filho chamado Dextro, que ocupou altos cargos. Era de família distinta. Os seus escritos pressupõem uma boa formação literária, tanto sagrada como profana. Através deles se o dá a conhecer a sua personalidade. Perdeu-se um livro chamado "Cervus" em tratado contra os Novacianos, citados por São Jerônimo. Restam-nos a Paraenesis, um Sermão sobre o Batismo e três Cartas ao novaciano Simproniano.
Parece que escreveu contra os maniqueus, mas nada se conhece.
Estes breves escritos dão a São Paciano um lugar apreciável na patrologia do século IV, e ainda nos dão a entender a solicitude do pastor pelas suas ovelhas, mostrando-lhes os bons caminhos, conduzindo-as a pastagens seguras e avisando-as dos perigos que envolvem as falsas doutrinas.
Vale a pena resumir a doutrina dos seus escritos. O conteúdo do perdido Cervus conhecemo-lo por alusões. Há nele uma zelosa diatribe contra as desordens que se cometiam numa espécie de carnaval do primeiro dia do ano. Para atuarem mais livremente e sem pudor, disfarçavam-se concretamente de cabras e de veados, e daí o título do opúsculo.
O Sermão sobre o batismo é uma instrução aos catecúmenos sobre a situação do homem antes de receber o batismo. É uma clara exposição sobre a doutrina do pecado original. A vitória de Cristo, diz Paciano, torna-se nossa, porque se ao nascer de Adão se faz o homem pecador, ao renascer em Cristo se faz santo. O batismo dá-nos vida nova.
As três Cartas a Simproniano são importantes na teologia peni¬tencial. Simproniano tinha-se unido ao cisma dos novacianos. Não admitia que a Igreja se chamasse católica nem o valor da penitência. Paciano responde-lhe com vigor. "A Igreja é católica porque é una em todos e una sobre todos". E acrescenta: "Cristão é o meu nome, católico o apelido".
Quanto ao perdão dos pecados pela penitência, afirma: "Nunca Deus ameaçaria àquele que não faz penitência, se não perdoasse ao penitente. Mas dirás: só Deus pode fazê-lo. Sim, é verdade, mas o que faz por meio dos sacerdotes, é poder seu, bis os sacerdotes agem em seu.
As três Cartas são resposta a outras tantas que Simprónio lhe havia dirigido. A terceira é uma refutação precisa dos erros dos novacianos, que não queriam admitir a reconciliação dos pecadores penitentes. A Igreja é, responde-lhe, a casa grande que mostra a sua riqueza em preciosos vasos de ouro puro e prata legítima, mas não se envergonha de se servir também de pobres vasos de barro, de pobres vasos de madeira".
A Paraenesis é uma calorosa exortação à penitência pública, à penitência em geral. Queixa-se o santo dos que são "tímidos depois da desvergonha, envergonhados depois do pecado. Não se envergonham de pecar, mas envergonham-se de confessar as suas fraquezas e os seus pecados".
O bom pastor já podia descansar. Morreu em extrema velhice. Tinha-se gasto a alimentar o seu rebanho e a defendê-lo dos falsos pastores. Por isso, acudia tranquilo à chamada: "Entra no gozo do teu Senhor". Era o ano 391.