O “hospital do papa” se tornou, por exemplo, referência em transplante de órgãos em crianças, além de separação de siameses
O hospital pediátrico do Vaticano, Bambino Gesù, é um dos melhores do mundo graças, principalmente, a três fatores: excelência dos médicos, tecnologia de ponta e influência internacional. Sem dúvida, o centro médico possuiu também uma reputação que se deve a uma cultura baseada na humildade.
As famílias vêm de longe, acompanhando seus filhos em tratamento. Há um desfile interminável de jalecos brancos e os gritos de crianças brincando ao ar livre. De fato, o hospital é uma pequena cidade com vista para Roma.
Conhecendo o “hospital do papa”
O hospital pediátrico do Vaticano, também conhecido como “hospital do papa”, existe desde 1869. Foi a família Salviati que o fundou e o doou à Santa Sé, em 1924. Cerca de 700 médicos com múltiplas especializações atuam todos os dias a serviço das crianças.
No final de um dos corredores da imensa estrutura, Massimiliano Raponi, diretor de saúde, trabalha a portas fechadas. No entanto, ele faz questão de nos receber.
Primeiramente, um telefonema interrompe nossa conversa. “Sim, senhora presidente?” – o italiano responde. Do outro lado da linha, a carismática Mariella Enoc, diretora do prestigioso estabelecimento, precisa falar urgentemente com seu braço direito. Certamente, não há razão para mantê-la esperando.
O diretor de saúde nos explica que a liderança da chamada nonna (avó, em italiano) do hospital é uma das chaves para o sucesso da instituição. Ou seja: além de encorajar suas tropas a alcançarem proezas técnicas, esta mulher italiana – muito apreciada pelo atual pontífice – espalha um estado de espírito e valores que não são encontrados em nenhum outro lugar.
“Quando você começa a trabalhar na Bambino Gesù, aprende imediatamente que está lá para servir as crianças”, resume o diretor. Estamos, portanto, falando de um homem na casa dos 50 anos com entusiasmo comunicativo. “A humildade é uma virtude fundamental que permite superar o individualismo e o egoísmo que cada um de nós carrega. Quando essa exigência é concretizada, um grande movimento é criado naturalmente”, explica ele. Além disso, o diretor explica: “Um hospital pediátrico, se visar o lucro, está perdido. Aqui, sucesso significa devolver o sorriso ao rosto dos pacientes e de suas famílias”.
Pesquisa e inovação
Ademais, o diretor afirma que este código de valores traz consigo o dever moral de se esforçar constantemente para dar o melhor a essas crianças enfermas. Em termos concretos, o hospital pediátrico decidiu fazer da inovação e da pesquisa as suas áreas de excelência. Como resultado, foi construindo ao longo dos anos uma excelente reputação internacional. Aliás, mais de 400 pesquisadores trabalham todos os dias no local. Diariamente, eles lutam para encontrar a cura para as doenças infantis mais raras do mundo.
E para estimular esse tipo de pesquisa, o hospital aposta, principalmente, na internacionalização e no trabalho em equipe. Raponi explica: “Nos últimos anos, trabalhamos com jovens pensadores que tiveram experiência em outros hospitais no exterior, na Inglaterra, França ou Estados Unidos. Todas essas culturas chegaram ao hospital e criaram um importante movimento de colaboração em todos os setores”.
Um hospital pioneiro nos transplantes de órgãos
No entanto, segundo o diretor, os pesquisadores não são suficientes se o hospital não tiver a capacidade de aplicar a inovação no dia a dia. É por isso que, para o Bambino Gesù é uma questão de honra formar seus profissionais, como, por exemplo, técnicos, enfermeiras e auxiliares de enfermagem. São esses profissionais que ajudam os pequenos pacientes todos os dias.
Como resultado, a exigente ética do hospital pediátrico e esta cultura de pesquisa e formação fizeram dele o hospital pediátrico mais importante da Europa para transplantes de órgãos e tecidos. De fato, cerca de 30% dos transplantes em pacientes jovens da Itália são realizados no hospital do papa.
Além disso, o Bambino Gesù também desenvolveu uma habilidade especial em cuidar de gêmeos siameses. Quatro casos desse tipo já foram tratados no hospital, como, por exemplo, as gêmeas de Bangui. As duas irmãs nasceram unidas no crânio e foram operadas com sucesso em junho de 2020. Todas as competências disponíveis na instituição, desde o departamento de psicologia ao serviço de cirurgia plástica (que teve que inventar uma forma para “fechar” os crânios das crianças), foram mobilizados neste caso.
Tecnologia de ponta e apoio espiritual
Nada teria sido possível, entretanto, sem a tecnologia de ponta do hospital. Um moderno software 3D, por exemplo, permite simular com precisão as manobras a serem realizadas. Na verdade, o programa reproduz exatamente a situação que os cirurgiões irão encontrar. “Dessa forma, o cirurgião já está no campo de batalha antes da operação”, explica Carai. Orgulhoso, ele acrescenta: “Por enquanto, o Bambino Gesù é o único hospital pediátrico da Europa que o utiliza”.
Porém, a expertise dos médicos e essas ferramentas tecnológicas não podem atingir o impossível. E a gestão da Bambino Gesù continua atenta, sobretudo, aos seus limites. “Quando não há possibilidade de a criança se recuperar, damos o melhor de nós mesmos por meio da empatia e da oração”, enfatiza Raponi.
Aliás, o hospital pediátrico do Vaticano oferece orientação espiritual para os pais enlutados. O próprio Raponi faz esse acompanhamento de longo prazo com as famílias.
Expansão
Nos próximos anos, portanto, o hospital do Papa pretende continuar a promover essa abertura a vários países. Na verdade, a instituição já tem parceria com mais de 50 redes hospitalares em todo o mundo. As parcerias são, principalmente, para pesquisas que visem a cura e o tratamento de de doenças raras.
Porém, o hospital não pretende parar por aí. Quer, sobretudo, expandir a sua influência na prevenção a doenças junto às autoridades públicas.
Fonte: Aleteia