Nesta quarta-feira, 10, o Papa recordou as etapas de sua recente viagem apostólica ao Iraque; “A guerra é sempre o monstro que continua a devorar a humanidade”
“Povo iraquiano tem o direito de viver em paz”. É o que afirmou o Papa na Catequese desta quarta-feira, 10. A Audiência Geral foi dedicada à sua recente viagem apostólica ao Iraque.
O Pontífice comentou que a visita ao país foi a realização de um projeto de São João Paulo II. “Nunca antes um Papa tinha estado na terra de Abraão. A Providência quis que isto acontecesse agora, como sinal de esperança, após anos de guerra e terrorismo e durante uma dura pandemia”.
Gratidão
Depois da visita, Francisco confidenciou que sua alma está cheia de gratidão. Gratidão a Deus e a todos aqueles que a tornaram possível. O Santo Padre citou então os colaboradores de sua visita ao Iraque.
O Presidente da República e o Governo do Iraque. Os Patriarcas e Bispos do país. Todos os ministros e fiéis das respectivas Igrejas. As Autoridades religiosas. Grão-Aiatolá Al-Sistani, com quem teve um encontro. O Papa agradeceu a todos.
Sentido penitencial da viagem
“Experimentei o forte sentido penitencial desta peregrinação. Não podia aproximar-me daquele povo martirizado, daquela Igreja mártir, sem carregar, em nome da Igreja católica, a cruz que eles carregam há anos. Uma grande cruz, como aquela colocada na entrada de Qaraqosh”, frisou o Pontífice.
Segundo o Santo Padre, tudo foi sentido de forma particular quando viu as feridas ainda abertas da destruição. Ainda mais quando conheceu e ouviu “as testemunhas que sobreviveram à violência, à perseguição e ao exílio”.
Esperança
Ao mesmo tempo, o Papa destacou ter visto a alegria do povo do Iraque ao acolhê-lo. “Vi a esperança de se abrir a um horizonte de paz e fraternidade, resumida nas palavras de Jesus, que foram o lema da visita: ‘Sois todos irmãos’”.
A esperança foi vista pelo Pontífice também no discurso do Presidente da República. Ela foi sentida nas muitas saudações e testemunhos. Também nas canções e nos gestos das pessoas.
“Eu a li nos rostos luminosos dos jovens e no olhar vivaz dos idosos. Pessoas que esperavam o Papa há cinco horas, de pé, até mesmo mulheres com crianças no colo. Esperavam! Em seus olhos havia esperança”, destacou.
Direito de viver em paz
O povo iraquiano tem o direito de viver em paz, reforçou o Santo Padre. “Tem o direito de voltar a encontrar a dignidade que lhe pertence”. O Papa recordou as raízes religiosas e culturais milenares dos iraquianos.
A guerra é sempre um monstro
O Pontífice afirmou que a Mesopotâmia é berço de civilização. Na história, Bagdá foi uma cidade de importância primordial, que durante séculos albergou a biblioteca mais rica do mundo. “E o que a destruiu? A guerra”, pontuou.
“A guerra é sempre o monstro que, na medida em que os tempos mudam, se transforma e continua a devorar a humanidade. Mas a resposta à guerra não é outra guerra, a resposta às armas não são outras armas”, enfatizou Francisco.
Armas
O Santo Padre destacou que os questionamentos que se fez é: “Quem vendia armas aos terroristas? Quem vende hoje armas aos terroristas?”. “Estão fazendo um massacre em outros lugares, pensemos na África, por exemplo. É uma pergunta que eu gostaria que alguém respondesse!”
Resposta ao terror: a fraternidade
A resposta para a guerra é a fraternidade. De acordo com o Papa o desafio para o Iraque, para as muitas regiões de conflito e para o mundo inteiro é a fraternidade.
“Seremos capazes de criar fraternidade entre nós, de criar uma cultura de irmãos? Ou continuaremos com a lógica iniciada por Caim: a guerra. Irmandade, fraternidade”.
Por isso, Francisco frisou que cristãos e muçulmanos, se encontraram e rezaram com representantes de outras religiões em Ur. O local é onde Abraão recebeu o chamado de Deus há cerca de quatro mil anos.
“Abraão é pai na fé porque ouviu a voz de Deus que lhe prometia uma descendência, deixou tudo e partiu”, disse ainda o Papa. “Deus é fiel às suas promessas e ainda hoje guia os nossos passos de paz, orienta os passos daqueles que caminham na Terra com o olhar voltado para o Céu”.
Em Ur, Abraão viu sua descendência e no coração de todos parecia ressoar a frase: “Sois todos irmãos”. Foi o que sublinhou o Santo Padre. Para ele, uma mensagem de fraternidade emanou também do encontro eclesial na Catedral sírio-católica de Bagdá.
Uma Igreja mártir
Na mesma Catedral, em 2010, quarenta e oito pessoas, incluindo dois sacerdotes, foram assassinadas durante a celebração da Missa. “A Igreja no Iraque é uma Igreja mártir. Naquele templo, que traz inscrita na pedra a memória daqueles mártires, ressoou a alegria do encontro. O meu entusiasmo por estar no meio deles fundia-se com a sua alegria de ter consigo o Papa”.
“Transmitimos uma mensagem de fraternidade de Mossul e de Qaraqosh, na margem do rio Tigre, próximo das ruínas da antiga Nínive”, recordou ainda Francisco. “A ocupação do Estado islâmico provocou a fuga de milhares de habitantes, entre os quais muitos cristãos de diferentes Confissões e de outras minorias perseguidas, especialmente os yazidis”.
A antiga identidade daquelas cidades foi destruída, frisou o Pontífice. Agora, com grande dificuldade, procura-se reconstruir. Os muçulmanos convidam os cristãos a regressar e, juntos, restauram igrejas e mesquitas.
Acompanhando com as orações
“Continuemos, por favor, a rezar por estes nossos irmãos e irmãs tão provados, para que tenham a força de recomeçar. E, pensando nos numerosos emigrantes iraquianos, gostaria de lhes dizer: vocês deixaram tudo, como Abraão; como ele, mantende a fé e a esperança, e sejam tecelões de amizade e de fraternidade onde quer que estejam”.
O Santo Padre comentou que uma mensagem de fraternidade emanou das duas Celebrações eucarísticas. Ade Bagdá, em rito caldeu, e a de Erbil. “A esperança de Abraão e da sua descendência realizou-se no mistério que celebramos em Jesus. O Filho que Deus Pai não poupou, mas ofereceu para a salvação de todos: pela sua morte e ressurreição, Ele abriu-nos a passagem para a terra prometida, para uma nova vida onde as lágrimas são enxugadas, as feridas curadas, os irmãos reconciliados”.
“Queridos irmãos e irmãs, louvemos a Deus por esta visita histórica e continuemos a rezar por aquela Terra e pelo Oriente Médio. No Iraque, apesar do fragor da destruição e das armas, as palmeiras, símbolo do país e da sua esperança, continuaram crescendo e dando frutos. Assim é com a fraternidade: não faz barulho, mas é fecunda e nos faz crescer. Deus, que é paz, conceda um futuro de fraternidade ao Iraque, ao Oriente Médio e ao mundo inteiro!”, concluiu.
Fonte: Canção Nova