O professor Virgílio Viana participou de evento da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, da qual é membro recém-empossado pelo Papa. Superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável, fez ecoar no Vaticano a urgência de cuidar do meio ambiente e dos mais vulneráveis
“Resiliência de pessoas e ecossistemas sob estresse climático”: este foi o tema de um evento que se realizou esta semana no Vaticano na Casina Pio IV, sede da Pontifícia Academia das Ciências.
O representante da América Latina foi o professor Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável e membro recém-empossado da Pontifícia Academia das Ciências. Diante de fenômenos sempre mais drásticos, como grandes enchentes e secas que se verificaram recentemente no Brasil, o professor explica na prática o que significa resiliência. E adverte: as mudanças climáticas são muito mais graves do que por exemplo a Covid. Para o vírus temos a vacina, para as consequências desses fenômenos podemos contar somente com nossa capacidade de adaptação.
Nós estamos diante da maior crise e da maior ameaça para o futuro da humanidade, que são as mudanças climáticas. Isso é um tema que já vem sendo estudado por muitos cientistas há muitas décadas e nós estamos num momento extremamente crítico, porque a janela de oportunidade para evitar que o problema se agrave está se fechando. Nós temos muito pouco tempo para fazer uma mudança radical no atual sistema de produção — e falo ‘sistemas’ de maneira global em todo mundo, tanto da agricultura, quanto da indústria, quanto dos modos de vida de cada um. E ao mesmo tempo nós já estamos sofrendo as consequências das mudanças climáticas.
Isso representa uma ameaça para todas as sociedades, a todas as pessoas. É como se fosse um covid, só que muito mais grave do que o covid, muito mais grave, porque o covid tem uma vacina. Não tínhamos uma vacina, mas se sabia que seria possível produzir e ela veio ser produzida. No caso das mudanças climáticas, uma parte disso não tem solução, então nós temos que nos adaptar. E essa adaptação é urgente e tem que começar com um olhar especial às populações mais vulneráveis, que são as populações pobres. O mundo tem de três a quatro bilhões de pessoas pobres. O Brasil teve um aumento recente da pobreza extrema, que é muito preocupante e essas populações têm o que nós chamamos de uma menor resiliência. Ou seja, uma vez que uma família de baixa renda sofre inundação e perde o fogão, a geladeira, os seus pertences, ela tem muito menos capacidade de recuperar-se disso. Aí a gente vai assistir a situações muito trágicas. E isso vai afetar a todos, independentemente de a pessoa ter um poder aquisitivo maior ou menor, mas nós precisamos de um olhar especial mais atento e olhar também para o grande desafio que o Brasil tem que é a redução das desigualdades. O Brasil é um dos países mais desiguais, mais injustos e o Papa Francisco tem falado muito sobre esse tema da justiça.
O professor Viana revelou que o Brasil esteve presente na Conferência por meio da recordação do Cardeal Cláudio Hummes, que faleceu no dia 4 de julho.
Dom Cláudio Hummes foi um grande embaixador da Amazônia junto ao Papa Francisco, junto à Igreja junto è sociedade brasileira e internacional como um todo. Foi uma grande perda. Nós fizemos ontem uma pequena missa na Academia de Ciências em homenagem ao Cardeal Dom Cláudio Hummes. Eu tive também a oportunidade de participar da missa que ocorreu na Catedral da Sé em São Paulo, na semana passada, e que foi também muito bonita, muito emocionante. Então, eu acredito que o legado do Cláudio Hummes seja um legado que mereça a atenção de todos nós. As palavras que ele dirigiu, ele esteve visitando a Fundação diversas vezes, acompanhando o trabalho de campo, e uma mensagem que ele me falou numa das últimas conversas que tivemos, foi que agora era hora da ação, porque já tinha passado ou já passou o período de nós nos sensibilizarmos para a gravidade, para a urgência. Agora é a hora de cuidarmos da Amazônia e dos seus povos.
O professor Viana é um “novato” na Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Ele foi nomeado pelo Papa em 18 de outubro do ano passado, mas só tomou posse dois meses atrás:
“Tive a honra e o privilégio de ser empossado pelo Papa Francisco cerca de dois meses atrás e foi uma cerimônia simples, mas muito tocante para mim pessoalmente. O Papa colocou no meu pescoço um colar, uma insígnia, que faz parte do ritual da nomeação para a Academia de Ciências. E eu troquei umas palavras com ele e foi muito marcante essa cerimônia de posse para mim, porque é uma missão, não é uma condecoração: é mais uma missão de contribuir para a doutrina da Igreja, mas também para a humanidade. A Academia de Ciências tem isso, tem esse mandato de olhar de uma maneira bem ampla para os temas que afligem a humanidade e que extrapolam os muros da Igreja Católica”.
Fonte: Canção Nova