O projeto Thesaurum Fidei. Missionários, mártires e cristãos escondidos no Japão. 300 anos de heroica fidelidade a Cristo, em que se destaca a figura do beato Angelo Orsucci, martirizado em 1622, foi lançado em Roma na quarta-feira (24).
O projeto chega à Cidade Eterna quase um ano depois de ter sido apresentado na arquidiocese italiana de Lucca e contém uma exposição que pode ser vista na Pontifícia Universidade Gregoriana a partir do dia 19 de fevereiro.
No lançamento do projeto, segundo Vatican News, serviço de informações da Santa Sé, também foi apresentado um volume que reúne pesquisas de estudiosos italianos, japoneses e americanos, sob a curadoria do arcebispo de Lucca, dom Paolo Giulietti, e do professor Olimpia Niglio, da Universidade de Pavia.
A ocasião inicial do projeto foi o 400º aniversário do martírio do beato Orsucci (1622-2022) e o 450º aniversário de seu nascimento (1573-2023).
Dom Paolo Giulietti destacou que o projeto é importante porque ao fazer “surgir o corajoso testemunho dos mártires missionários, destes cristãos que foram conservando o tesouro da fé por gerações, inclusive em um contexto tão difícil, é verdadeiramente um grande estímulo, porque a Igreja será missionária se conservar o tesouro da fé em grande honra para a própria vida, para a vida do mundo”.
O bispo também enfatizou que o testemunho dos chamados “cristãos secretos” e mártires “serve para certificar um protagonismo leigo na transmissão da fé na família, na sociedade e, depois para dizer que não existe nenhuma condição em que seja impossível ser cristão”, mesmo com “exemplos particulares de heroísmo e fidelidade”.
Os “cristãos secretos” do Japão
A perseguição no Japão foi uma das mais terríveis da história. Em 1597, 50 anos depois da chegada dos jesuítas e antes da chegada dos franciscanos e dominicanos, o imperador acreditava que o apostolado dos religiosos era, na realidade, um projeto de conquista militar.
Desde então, os cristãos foram perseguidos e tiveram que se esconder nas catacumbas. Como não havia padres porque eles tinham sido expulsos, eram os próprios pais que batizavam seus filhos e transmitiam a fé a eles.
Muitas pessoas foram mortas por ódio à fé, entre elas 26 mártires em Nagasaki e 188 pessoas que perderam a vida na segunda onda de perseguições entre 1603 e 1639.
Apesar da severa perseguição, a comunidade cristã ressurgiu em 1865, quando o Japão reabriu suas portas aos missionários franceses, que celebraram a Sexta-Feira Santa com dez mil fiéis.
O arcebispo Giuletti comentou que é possível que “nesta época não tenha menos mártires do que o Japão no século XVII”, referindo-se não apenas àqueles que morrem por ódio à fé, mas também àqueles que são discriminados “em sociedades secularizadas por suas profissões de fé”.
Beato Angelo Orsucci
Angelo Orsucci foi um dominicano de Lucca, nascido em uma família nobre, e foi missionário na Espanha, nas Filipinas e depois no Japão.
Ele se destaca por seus inúmeros testemunhos escritos, preservados no convento de San Romano, em Lucca, e por suas cartas aos seus familiares, na qual falava dos cristãos que viviam escondidos e que ele os visitava à noite disfarçado de comerciante. Ele foi descoberto e preso em 1618.
Apesar de viver em condições péssimas, em um espaço apertado e com pouquíssima comida, o beato escreveu: ” Sou muito feliz nesta prisão”.
Em 10 de setembro de 1622, junto com seus companheiros, foi condenado a morte na fogueira. Ele é um dos 205 mártires liderados pelo beato Afonso Navarrete, que foram beatificados em 1867.
Hoje, no Japão, a porcentagem de cristãos é de apenas 0,01%, em uma população de aproximadamente 126 milhões de pessoas.
Fonte: ACI Digital