Na catequese desta quarta-feira, 19, Francisco afirmou que existem pessoas que vivem com o coração cinzento: “Isso é terrível”!”
Rezar para ter um coração luminoso, não cinzento. É o que exortou o Papa Francisco na Catequese desta quarta-feira, 19. O tema, veiculado à oração, foi: “Distrações, aridez e acídia”. A Audiência Geral foi realizada no Pátio São Dâmaso com a presença dos fiéis.
Em sua reflexão, Francisco procurou mostrar algumas dificuldades comuns identificadas e superadas na experiência vivida da oração. Ele ressaltou que “rezar não é fácil” e que são muitas “as dificuldades que surgem na oração”.
Distração
O primeiro problema, segundo o Pontífice, é a distração. De acordo com o Santo Padre, ao começar a rezar e a mente gira, gira o mundo inteiro. A oração convive frequentemente com a distração.
“A mente humana tem dificuldade de se concentrar por muito tempo num único pensamento. Todos nós experimentamos este turbilhão contínuo de imagens e ilusões em movimento perpétuo, que nos acompanha até durante o sono”, pontuou.
Todos sabem que não é bom dar seguimento a esta inclinação fragmentada, alertou o Papa. Para ele, a luta para alcançar e manter a concentração não se limita à oração.
“Se não se atinge um grau de concentração suficiente, não se pode estudar com proveito, nem se pode trabalhar bem”, sublinhou Francisco. O Pontífice afirmou que as distrações não são culpáveis, mas devem ser combatidas.
Vigilância
No patrimônio da fé, o Santo Padre observou que há uma virtude que é frequentemente esquecida, mas que está muito presente no Evangelho. Ela chama-se “vigilância”.
Francisco recordou que Jesus chama frequentemente os discípulos ao dever de uma vida sóbria. Essa vida deve ser guiada pelo pensamento de que mais cedo ou mais tarde ele voltará, como um noivo volta das bodas ou um senhor da viagem.
A distração, sublinhou o Papa, é a imaginação que gira, gira, gira. Santa Teresa chama essa imaginação que gira, gira na oração de “a louca da casa”. “É como uma louca que te faz girar, girar. Temos que pará-la e engaiolá-la com atenção”, disse.
Aridez
A aridez é outra dificuldade que surge na oração. Segundo o Pontífice, ela nos faz pensar na Sexta-feira Santa, na noite e no Sábado Santo. Jesus morreu: estamos sozinhos. Este é um pensamento da aridez.
“Muitas vezes não sabemos quais são as razões da aridez. Ela ode depender de nós, mas também de Deus, que permite certas situações na vida exterior ou interior”, comentou.
Os mestres espirituais, apontou o Francisco, descrevem a experiência da fé como uma alternância contínua de tempos de consolação e tempos de desolação. São tempos em que tudo é fácil, enquanto outros são marcados por uma grande dificuldade.
Esperança nos dias cinzentos
O Papa disse ainda que muitas vezes encontramos um amigo que nos diz: “Estou pra baixo”. “Muitas vezes estamos assim, ou seja, não temos sentimentos, não temos consolação. São aqueles dias cinzentos que existem na vida!”, complementou.
De acordo com Francisco, “o perigo é ter um coração cinzento, quando o estar pra baixo chega ao coração e o adoece”.
“Existem pessoas que vivem com o coração cinzento. Isso é terrível! Não se reza mais, não se sente o consolo com o coração cinzento. O coração deve ser aberto e luminoso para que entre a luz do Senhor. E se ela não entrar”, disse o Papa, “é preciso esperá-la com esperança”.
Acídia
O terceiro problema que se apresenta para quem reza é a acídia. O Santo Padre a define como “uma verdadeira tentação contra a oração e, mais geralmente, contra a vida cristã”.
A acídia, explicou o Papa, é uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração. É um dos sete “pecados capitais” pois, alimentado pela presunção, pode levar à morte da alma.
“O que devemos fazer, então, nesta sucessão de entusiasmos e desencorajamentos?”, perguntou. “Devemos aprender a caminhar sempre”, respondeu Francisco.
Perseverar em tempos difíceis
O verdadeiro progresso na vida espiritual, segundo o Pontífice, não consiste em multiplicar os êxtases, mas em ser capaz de perseverar em tempos difíceis.
“Caminhar, caminhar e se você se cansar, pare um pouco, mas volte a caminhar, com perseverança. Todos santos passaram por este ‘vale escuro’, e não nos escandalizemos se, lendo os seus diários, ouvirmos o relato de noites de oração sem vontade, vivida sem gosto”, descreveu.
O Papa contou também que protestar diante de Deus é uma forma de rezar. “Zangar-se com Deus é uma forma de rezar também”, falou.
Oração do porquê
Francisco convidou a não “esquecer a oração do porquê, que é a oração das crianças quando começam a não entender as coisas. A idade dos porquês”.
“Mas a criança não escuta a resposta do pai. O pai responde e vem logo outro porquê. A criança quer chamar a atenção do pai. Quando nos zangamos com Deus e continuamos a dizer porquê, estamos atraindo o coração do nosso Pai para a nossa miséria, para as nossas dificuldades, para a nossa vida”.
Segundo o Santo Padre, zangar-se com Deus faz bem, pois faz despertar a relação de filho com o Pai, de filha com o Pai. “Uma relação que nós temos de ter com Deus”, concluiu.
Fonte: Canção Nova