Estamos no tempo quaresmal e durante este período muitas pessoas optam por fazer jejum ou até mesmo abdicar de certos alimentos como uma prática religiosa. Durante este tempo é comum evitar carne vermelha em favor de refeições mais simples e à base de peixes, vegetais e grãos. Conversamos com a Dra. Lenita Salgado Nutricionista Especialista em Fitoterapia, pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional, que desde 2005, ministra cursos, palestras, aulas de pós-graduação para nutricionistas e médicos, e faz atendimento na área clínica e consultório particular há 40 anos. A mesma nos concedeu uma entrevista com informações importantes e fundamentais para aqueles que desejam viver este período quaresmal.
Como nutricionista, como você encara o período da Quaresma?
Como nutricionista e cristã vejo o tempo da Quaresma como um período de preparação para a Páscoa, reservados à reflexão e à conversão espiritual onde me aproximo ainda mais de Deus e preparo o meu espírito para a acolhida do Cristo Vivo, Ressuscitado no Domingo de Páscoa.
A quaresma é um momento de reflexão e preparação. É muito comum que as pessoas façam jejuns nesse período. Como equilibrar uma vida saudável com a fé nessa situação?
O jejum para nós cristãos tem sido ao longo do tempo uma prática que para muitos é sinônimo de algo difícil e penoso. O conceito de jejum é o de não passar fome. A própria Nossa Senhora em suas aparições em Medjugorje repetiu isso várias vezes. Jejuar é aquietar e refrear nossos excessos e ter disciplina em nossas refeições.
Equilibrando uma vida saudável com a fé, nossa igreja preconiza a prática do jejum para todos nós sem exceção e podemos dividir da seguinte maneira:
Jejum da Igreja: tomar o café da manhã e depois fazer uma refeição completa, isto é, ou o almoço ou o jantar. A escolha do almoço ou jantar vai depender dos seus hábitos, da sua saúde e das suas atividades laborais. A refeição que não será feita, poderá ser substituída por uma fruta ou uma salada composta por hortaliças por exemplo. O importante é ter consciência do controle da sua saciedade. Qual é a essência do jejum? A disciplina. Qualquer pessoa poderá fazer este tipo de jejum, mesmo os doentes porque água e remédios não quebram o jejum de forma alguma.
Jejum a pão e água: este é o jejum que mais controla nossos excessos na alimentação, a nossa gula. Este jejum garante nossa disciplina. Deve-se comer pão toda vez que tiver fome e beber água toda vez que tiver sede, portanto um jejum somente de pão e água.
Jejum à base de líquidos: este jejum é baseado na prática de ingestão de sucos, chás e água de coco. Os sucos podem ser preparados com frutas, legumes e verduras ou ainda uma mistura deles. Tomar um suco não significa tomar uma vitamina (adição de leite).
Jejum completo: este jejum que é somente à base de água deverá ser feito apenas por pessoas treinadas que possuem hábito na realização deste jejum, ou seja, que já o fazem por muito tempo. Este jejum deixa o corpo leve, a cabeça fica desanuviada, a mente se abre e fica preparada para a recepção das atividades espirituais.
Muita gente evita comer carne, seja alguns dias na semana ou durante toda a quaresma. Quais alimentos podem substituir a proteína da carne na alimentação?
Podemos substituir as carnes por ovos, peixe e pelas proteínas vegetais, tais como quinua, ora-pro-nóbis, leguminosas (feijão, ervilha, lentilha, grão-de-bico, fava e outras), cogumelos e castanhas.
O peixe é um alimento que ganha destaque na Quaresma. Quais os benefícios de incluí-lo na alimentação? Quais são as opções mais saudáveis?
Sempre recomendo que se consuma peixe pelo menos três vezes na semana, pois trata-se de um alimento rico em gorduras boas, proteínas, vitaminas, e tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, reduzindo o risco das desordens cardiovasculares. Orientações para escolher peixes.
Optar por peixes de escamas, que vivem em grandes cardumes, em água límpida, na superfície, como:
Água salgada: anchova, bacalhau, badejo, cavalinha, corvina, garoupa, linguado, manjuba, merluza, namorado, pescada, robalo, sardinha e tainha;
Água doce: dourado, lambari, manjuba, tilápia, traíra e truta;
Optar por peixes de água doce pois eles se alimentam preferencialmente de frutos e folhas.
Escolher peixes de ciclo de vida média curto, pois provavelmente ficaram menos expostos a contaminantes:
- Água salgada: sardinha, salmão selvagem
- Água doce: dourado, lambari, manjuba, tilápia, tambaqui, traíra, truta.
Evite peixes de vida média longa:
Tubarão, peixe espada, filé de atum, arenque, cação e salmão de cativeiro.
Que outros alimentos são importantes para mantermos uma relação saudável com a comida e a fé nesse período?
Prefira sempre a comida de verdade, lembrando da expressão “desembale menos e descasque mais”, ou seja, tenha uma alimentação à base de hortaliças (verduras e legumes), frutas, cereais integrais (arroz integral, aveia, quina e outros), oleaginosas (castanhas, sementes de girassol, abóbora, gergelim e outras), peixes, ovos (caipira/orgânico) e os líquidos na forma de água, água de coco natural e chá.
Dra. Lenita finalizou dizendo, “não estamos passando por um teste de resistência, nosso objetivo com o jejum é de nos encontrarmos com Deus, estarmos abertos às orações e nos disciplinar. É a graça da contemplação, da intercessão e da unção do Espírito Santo. Seja comedido, tenha disciplina e aja com sabedoria porque o Senhor estará contigo”.
Na Semana Santa vai estar disponível no perfil do instagram @dralenitasalgado receitas com sugestões de preparações para a Páscoa.