Graças à intercessão de Nossa Senhora, Oleksandr Shvetsov conseguiu sair do seu abismo pós-traumático e hoje organiza peregrinações para outros feridos de guerra.
Ele perdeu uma perna na fronte do Donbass em 2014. Mergulhou no álcool e no desespero. O Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, porém, seria o seu local de reencontro com a paz.
“Em Lourdes, emergi do abismo da guerra”.
Oleksandr Shvetsov conversou com Aleteia Polônia. Hoje, o veterano ucraniano de 38 anos organiza peregrinações para soldados mutilados e paramaratonas, durante as quais angaria fundos para apoiar hospitais ucranianos que ajudam as vítimas da guerra – de ontem e de hoje.
“Sempre acreditei, mas reconheço que não sou um exemplo”, declara o militar. Em combate desde 2014, bem antes da invasão russa de fevereiro de 2022, ele entrou no exército por acaso. Quando foi em busca de uma autorização para ampliar a casa dos pais, Oleksandr achou uma unidade de recrutamento no mesmo edifício. “Conheci caras prontos para lutar pelo país. Na época não pensei em entrar, mas um deles me perguntou se eu também queria ser soldado. Ouvindo as motivações deles, não pude recusar”.
A recusa em aceitar
Após meses de treinamento, Oleksandr ingressou na 39ª Brigada Mecanizada. “Com o tempo, fomos enviados para a linha de frente em torno de Lugansk. Antes que pudéssemos reforçar as nossas posições, começou um ataque russo. Senti alguma coisa e só depois de algum tempo notei que não conseguia mais ficar de pé”, lembra. Oleksandr foi então levado de helicóptero para um hospital em Kharkiv. “Vi muitos colegas feridos, mas só mais tarde é que percebi que a minha perna tinha sido amputada”, diz.
As feridas mentais foram ainda mais profundas do que as físicas. Durante meses, o soldado recusou a reabilitação e a colocação de uma prótese.
“Eu não aceitei o que tinha acontecido na minha vida. Comecei a beber. Depois comecei a tomar anfetaminas. Achei que me ajudaria, mas era uma ilusão”.
Enquanto afundava cada vez mais no desespero, Oleksandr recebeu o convite para fazer uma peregrinação a Lourdes. Decidiu ir.
“Eu estava tendo dores de cabeça terríveis. Elas desapareceram depois da imersão nas piscinas do santuário e a minha ansiedade desapareceu”.
Embora seja pragmático demais para descrever este fenômeno como um milagre, Oleksandr não pode deixar de constatar uma melhoria real no seu estado de saúde.
“Essa experiência me colocou de pé e deu sentido à minha vida. Foi assim que nasceu a ideia das peregrinações”, continua o soldado ucraniano, que começou então a organizar peregrinações de outros feridos de guerra até o santuário francês. Com o sucesso dessa iniciativa, Oleksandr levou os veteranos também ao Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia-Łagiewniki, onde Santa Faustina viveu e recebeu as aparições de Cristo. Depois, estendeu as peregrinações à Terra Santa e ao Vaticano, onde conheceu o Papa Francisco.
O “samaritano dos mutilados”
Hoje, aqueles que foram ajudados por Oleksandr o chamam de samaritano dos soldados mutilados. De fato, muitos veteranos conseguiram escapar do túnel escuro do alcoolismo e do estresse pós-traumático – embora alguns tenham se alistado novamente depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022.
As peregrinações e caminhadas organizadas por Oleksandr ganharam forte visibilidade nas redes sociais. “Comecei a usar as redes sociais para arrecadar dinheiro para ajudar hospitais. Por exemplo, organizamos paramaratonas para soldados que sofreram amputações de membros”, explica Oleksandr. Numa das ocasiões, ele e um amigo que perdeu uma perna e um braço na guerra conseguiram arrecadar dinheiro para comprar um aparelho de endoscopia para um hospital em Kiev.
Destacando o quanto Lourdes lhe devolveu a esperança, Oleksandr explica que, mais do que nunca, quer devolvê-la também aos feridos de guerra e a todas as vítimas deste conflito.
“Mal posso esperar para ver crianças sorridentes brincando de novo nos parques, sem o medo desumano de bombas prestes a cair sobre elas”.
Fonte: Aleteia