Mais um brasileiro começa o caminho rumo aos altares, depois que, em 13 de janeiro, a Congregação para as Causas dos Santos concedeu o Nihil Obstat para o processo de beatificação de Padre Gilberto Maria Defina, sjs, fundador da Fraternidade Jesus Salvador.
Em 2019, quinze anos após o falecimento de Padre Gilberto, o bispo de Santo Amaro, Dom José Negri, autorizou a abertura da fase preliminar do processo e, em 2020, a presidência do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também deu parecer positivo à abertura do processo
Agora, com o Nihil Obstat concedido pela Santa Sé, o fundador dos Salvistas passa a ser considerado Servo de Deus e será instaurado um tribunal diocesano que investigará a vida do sacerdote.
A abertura deste processo responde a um desejo que há “alguns anos a comunidade em geral tinha”. Em entrevista à ACI Digital, Frater Pedro Josemaria, membro da Comissão de Beatificação e Canonização de Padre Gilberto, sublinhou que o fundador dos salvistas “já em vida gozava de fama de santidade”.
“Era um homem profundamente espiritual e de grandes virtudes”, declarou, ao ressaltar que quando o sacerdote morreu, para os irmãos e irmãs da fraternidade “era certa” a santidade dele.
Segundo Frater Pedro, “as pessoas que conviveram mais tempo com ele o definiam com uma expressão: o padre era amor” e, em sua vida, “buscava essa identificação profunda com Jesus”.
O membro da Comissão assinalou que receberam “relatos de muitas curas milagrosas antes e após” a morte de Padre Gilberto. “Estes sinais nos mostram que Deus agia nele e através dele”, completou.
Desse modo, indicou que, para a fraternidade, receber o Nihil Obstat “representa uma alegria enorme”. O reconhecimento da santidade de padre Gilberto dá aos “salvistas a segurança de um caminho certo aberto por ele até o céu”, pontuou. “Imitando a sua fé e amor, nós, seus filhos e filhas, almejamos continuar sua obra e sermos santos como ele”.
O próximo passo nesse processo será no dia 22 de maio, véspera de Pentecostes, quando será celebrada Missa em ação de graças pela concessão do Nihil Obstat, às 15h, no Santuário Mãe de Deus, em São Paulo, presidida pelo bispo de Santo Amaro, Dom José Negri.
Já no dia 30 de outubro, o bispo de Santo Amaro também presidirá Missa de abertura do processo de beatificação e canonização do Servo de Deus Padre Gilberto Maria Defina, com a instalação do Tribunal Diocesano, também no Santuário Mãe de Deus, às 15h. Neste mesmo dia, ocorrerá o translado dos restos mortais de Padre Gilberto para a capela no Seminário Nossa Senhora de Pentecostes.
Além disso, já está montada a comissão histórica que está estudando e fazendo o levantamento da vida e obra do padre Gilberto e está sendo montada a lista de testemunhas sobre as virtudes e sinais de santidade do sacerdote. “Temos um trabalho árduo, mas gratificante, pois sabemos que Deus derramará muitas bênçãos na vida de muitas pessoas que têm e terão devoção pelo padre”, completou frater Pedro Josemaria.
Biografia:
Padre Gilberto Maria Defina nasceu em 2 de agosto de 1925, em Ribeirão Preto (SP), filho dos imigrantes italianos Raffaele Defina e Maria Rosa Buonabotta. Foi criado em um lar católico e cresceu ajudando na igreja.
Em 1938, ingressou no Seminário Menor dos Claretianos, onde passou cinco anos de profunda formação humana e religiosa. Nesse período, teve uma experiência mística: enquanto rezava a oração do Ângelus na capela, Nosso Senhor lhe deu a graça de ver sua alma manchada pelo pecado. Foi quando recordou todos os seus pecados e sentiu profundamente um terrível sentimento da morte causada por eles. Desse dia em diante, lutou mais intensamente contra os pecados mortais. Já na idade adulta, fez um voto pessoal a Deus, comprometendo-se a não mais pecar mortalmente, a evitar a todo custo os pecados veniais e foi fiel a este voto até a sua morte.
Em 1942, ingressou no Seminário Diocesano, completou o ensino médio na cidade de Campinas e depois passou para o Seminário Maior na cidade de São Paulo. Foi ordenado sacerdote aos 25 anos, em 3 de dezembro de 1950, em Ribeirão Preto. Desempenhou seu ministério presbiteral com diligência, dedicando-se especialmente ao sacramento da confissão, bem como à direção espiritual.
Ao ser instalado o Cabido Metropolitano de Ribeirão Preto, foi designado Cônego da Catedral. A pedido do Arcebispo, assumiu em 1967 a tarefa de Assistente Espiritual da Comunidade de Seminaristas da Província Eclesiástica da Arquidiocese de Ribeirão Preto, apesar de nessa época já estar residindo na cidade de São Paulo.
Nesse mesmo período, fundou na capital paulista, com outros colegas sacerdotes, as Faculdades Associadas Ipiranga (FAI), onde exerceu por vários anos a função de Diretor. Em 1991 o padre Gilberto foi recebido no clero da Arquidiocese de São Paulo.
Por volta da segunda metade da década de 1980, através de seu amigo de infância e de seminário, Dom Davi Picão, bispo de Santos, tomou conhecimento do Movimento da Renovação Carismática Católica. Passou a participar de Grupo de Oração e tornou-se, como ele dizia, “um carismático”.
Foi um conceituado e procurado diretor espiritual que tinha a agenda lotada de atendimentos, de modo que muitas pessoas esperavam meses para conseguir um horário com ele. Possuía o dom da ciência, que o permitia muitas vezes enxergar a alma das pessoas com suas necessidades, pecados e feridas. Exerceu seu pastoreio sempre com muita misericórdia.
Vários seminaristas, que tiveram a experiência da Renovação Carismática e estudavam na FAI, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) e em outras faculdades, acabaram procurando-o para aconselhamento.
Assim, aos poucos Deus foi confirmando no coração do sacerdote a Sua vontade de estabelecer na Igreja uma Congregação Religiosa, especialmente voltada para os membros da Renovação Carismática.
De 1992 a 1993, padre Gilberto, com 68 anos de idade, decidiu fundar o primeiro seminário carismático do mundo. Reuniu um grupo de leigos para ajudá-lo e, em busca de um local para a fundação, foi ao encontro de Dom Fernando Antônio Figueiredo, bispo de Santo Amaro (SP), que prontamente o apoiou e lhe deu permissão para fundar a Fraternidade Jesus Salvador, os Salvistas. Esta Fraternidade seria composta por padres, religiosos, religiosas e leigos, provenientes da Renovação Carismática Católica.
No dia 17 de setembro de 1994, padre Gilberto professou os votos perpétuos e fundou o Seminário e o Convento Nossa Senhora de Pentecostes, dos Institutos Missionários Servos e Servas de Jesus Salvador, que hoje contam com suas Constituições aprovadas pela Santa Sé.
Durante sua vida, Padre Gilberto enfrentou graves enfermidades e era nos momentos de sofrimento que sua fé crescia e se fortalecia. Entre os anos 1970 e 1980, teve câncer no sistema linfático e depois a síndrome de Guillain-Barré, uma doença que paralisa os músculos, atacando a camada dos nervos que lhes transmitem as informações do cérebro.
Com o diagnóstico dessa doença, foi desenganado pelos médicos e enviado para casa. Entretanto, no dia de São João Maria Vianney, mesmo com muito sofrimento, celebrou a Missa e foi agraciado com uma cura milagrosa.
Em 2002, diante de suas limitações físicas, renunciou ao cargo de superior geral de seus Institutos e convocou o primeiro capítulo geral para eleger os novos priores gerais e para aprovar a última constituição dirigida por ele.
Nos últimos anos de sua vida, também enfrentou muito sofrimento, pois as suas enfermidades devastavam seu corpo. Foram anos de dor e amor e tudo ele oferecia pelo bem de seus filhos e filhas, nunca murmurando ou reclamando. Morreu em 5 de dezembro de 2004, em São Paulo.
Quem tiver testemunhos e relatos sobre o padre Gilberto Maria Defina para compartilhar com a comissão do processo de beatificação, pode enviar para o e-mail: causapadregilberto@gmail.com.
Fonte: acidigital